she knows

Um álbum, uma dupla e a polêmica cena de Berlim, explicada por She Knows: 

Para uma experiência completa, ouça o álbum Nervous Bliss enquanto lê a matéria.

A efervescente Berlim, lugar de uma cena eletrônica extremamente enraizada.

Não podemos falar dessa cena sem lembrar de clubs como Berghain e Kater Blau; e também da Bar 25, uma das labels mais conceituadas da Alemanha.

Você sabia que existe um duo, composto por um brasileiro e uma espanhola, entregado grandes lançamentos por lá?

Pois é, falamos com eles pra conhecer esse projeto a fundo e também aproveitamos a deixa pra tirar umas dúvidas sobre a cena de Berlin, mas primeiro, vamos saber de quem se trata:

Estamos falando do She Knows, formado por Marcel Dadalto (ex-membro das bandas Dead Fish e Zémaria) e a compositora e produtora Teresa Tomás.

Em 2013 seus caminhos se cruzaram e no ano seguinte deram vida ao projeto, 10 anos depois disso, lançaram seu primeiro álbum de estúdio: “Nervous Bliss” que saiu pela Bar 25.

E uma curiosidade bem legal é que depois de viver 8 anos em Berlim, Marcel agora voltou a morar no Brasil, mas o projeto segue firme.

E sim! O álbum, “Nervous Bliss”, foi feito nessa conexão entre Brasil e Berlim, assim como os singles anteriores ao disco. Mas como será que eles estão fazendo para que essa conexão dê certo?

Leia a entrevista completa para entender esse e outros fatos sobre o duo e sobre a cena de Berlim.

HM – O She Knows existe há dez anos, vocês vão lançar o primeiro álbum de estúdio agora, mas com uma curiosidade: Marcel aqui no Brasil e Teresa em Berlim. Como vocês estão fazendo para que essa conexão dê certo? Como rolou a produção e o processo criativo?

Teresa: Depois de 10 anos, She Knows merecia um longo trabalho como um álbum e estamos muito felizes com Nervous Bliss, é claro. Como parceira de composição, fui formada como produtora musical ao lado de Marcel, então conhecemos nossos processos muito bem, e isso significa que conseguimos fazer um trabalho intercontinental, e certamente com muita paciência e horas de tela.

Mas tem sido uma experiência muito diferente, é um trabalho de autoria, tem seu componente de trabalho solo, mas tem sido uma troca contínua de ideias.

HM – Como é criar um álbum, em comparação com singles? Vocês conseguiram se divertir ao longo deste processo? E qual a importância do projeto para a She Knows?

Teresa: O Nervous Bliss nos deu espaço para oferecer uma narrativa completamente diferente da que apresentamos com os EPs. Em um álbum, você tem espaço para poder se expressar com diferentes estilos musicais, que é o que tentamos criar nesse álbum, que certamente é um marco em nossa carreira artística – 10 anos, álbum de estreia, estamos muito felizes.

HM – Teresa, você conheceu o Marcel em 2013, mas antes disso você já tinha uma relação com o Brasil? E você sofre influências brasileiras, seja nas suas produções ou até mesmo na sua vivência, em coisas cotidianas?

Teresa: Quando morei em Valência, trabalhei em uma lanchonete chamada “Pan de Queso”, e costumávamos servir sucos e “Pão de Queijo” e tínhamos música brasileira ao fundo, eu adorava os Tribalistas naquela época, é um álbum que me marcou muito. E depois, através do Marcel, uma viagem que eu estava fazendo pelo Brasil, tive a sorte de ir a lugares onde pude ouvir o ritmo puro e tradicional, como o forró, estávamos em Itaúnas, e acho que esse tipo de coisa marca você quando se trata de compor música. O bom da música eletrônica é que você pode incluir qualquer ritmo na composição.

HM – E para vocês como é a cena berlinense e as principais características que a diferenciam da brasileira?

Marcel: Acho que todo país, ou região tem a suas características que a diferenciam das demais. esse é um tema que dá pano pra manga, mas na prática o que diferencia a vibe dos clubes de Berlim ao meu ver é a proibição de celular nas baladas, a total inexistência de áreas vips e o fato de poder fumar dentro dos clubs.

HM – Uma discussão que sempre rola muito no Brasil e no mundo é sobre as entradas nos clubes em Berlim, especialmente o Berghain, que possui uma política de entrada bem restritiva. Para vocês que estão há muitos anos frequentando a cena berlinense como residentes, como vocês veem essas políticas de portas? Acreditam que isso afasta os aventureiros, para que os clubes mantenham sua essência, ou veem um pouco de exagero em tudo isso? Qual o propósito que vocês veem nestas políticas?

Marcel – A partir do momento que Berlin bombou no cenário internacional, eles precisaram tomar algumas medidas para manter o espaço preservado. Acho que eu mais fui barrado no Berghain do que propriamente entrei no Berghain rs… Talvez seja por causa das políticas restritivas que o espaço interno consegue se manter um safe space.”

Teresa – Os seguranças são aqueles que o deixarão entrar… ou não. Eles sabem o que está acontecendo dentro do club e devem ter um bom pressentimento sobre a mistura certa de pessoas dentro da festa, porque, no final, é isso que cria a atmosfera de alguém que quer voltar a esse tipo de festa”

HM – Mas outros clubes, como o Kater Blau (antigo Kater Holzig e Bar 25) também possuem políticas restritivas. Vocês inclusive já lançaram pela label do Bar 25, uma das mais emblemáticas de Berlim. Fale um pouco sobre o relacionamento de vocês com a crew e que outros lugares vocês gostam de frequentar na cidade?

Teresa: Por meio de vários projetos e coletivos com os quais trabalhei e com os quais continuo colaborando, como o Garbicz Festival, Bachstelzen, Mystic Creatures, tivemos a sorte de ter nosso estúdio ao lado do Kater Blau, e é por isso que o Holzmarkt é um lugar que visitamos com frequência. Mas há também muitos outros lugares em Berlim que valem a pena visitar e que adoramos por causa dos coletivos que são formados.

Marcel: Bar 25 foi o primeiro clube que fui em Berlim e foi minha casa durante alguns verões que passei lá. Já toquei lá e fiquei hospedado nos chalés que tinham atrás do club, era uma loucura! Esses anos me marcaram muito e foi onde eu me conectei de fato com a música eletrônica alemã. eu ia lá como alguém que vai pra faculdade, pra estudar rs

Eu gostava de lugares como o Holzmarkt/Kater Blau, About Blank, Rummelsburg…

7 – Recentemente a UNESCO reconheceu a cena techno de Berlim como patrimônio imaterial da humanidade e sabemos da importância da música eletrônica para a comunidade alemã. Vendo como tudo acontece em Berlim, se comparado ao Brasil, o que vocês acreditam que ainda precisa acontecer para que o movimento tome mais força por aqui?

Marcel: Que se faça menos sol no brasil! Então a cultura clubber vai decolar, como na Alemanha.

Teresa: O simples fato de reconhecer que o techno se conectou, criou essa cultura de liberdade de expressão, de coletividade, de respeito, de inclusão, não apenas cria um bom momento para a cena de Berlim, mas cria um bom momento para a comunidade internacional de música eletrônica. É um bom momento para se conectar.

Mas enquanto nossa realidade não é totalmente a mesma, vamos desfrutando do que podemos por aqui, curtindo a música que tanto amamos e ouvindo essa entrega de altíssimo nível do She Knows!

Veja o reels completo em nosso Instagram.

Por Iasmim Guedes

Deixe um comentário

Fique por dentro