No FLOW de Marian Flow

Foto: Leandro Quartiermeister/Divulgação

Entrevista: Adriano Canestri

Introdução: Lau Ferreira

Edição e coordenação: Gábi Loschi

DJ, produtora e empresária, Marian Flow tem mais de duas décadas de uma sólida trajetória na cena eletrônica nacional. Parte do lendário Flow & Zeo, a DJ tem focado em sua carreira solo em 2023.

Os últimos meses foram recheados de destaques. Seja com o lançamento do remix da icônica “Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas, pela Universal Music, em collab com Vivi Seixas e Zeo Guinle, na gravação com os povos indígenas Yawanawá e Huni Kuin, com sua nova festa, “Music is Magic”, ou mesmo bombando em pistas como as do D-Edge e da edição carioca do Watergate, clube berlinense dos mais prestigiados do planeta.

Com planos para novas turnês internacionais e parcerias a caminho, a atual instrutora da AIMEC topou tirar um tempinho para falar com a House Mag sobre essas novidades.

HM – Recentemente, você lançou um remix de “Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas, em colaboração com a filha do cantor. Qual o sentimento de fazer uma releitura de um artista tão importante para a música brasileira? Você é uma fã?

Com certeza! Foi uma honra imensa remixar o mestre Raul Seixas. Fiquei muito feliz com o convite da querida e talentosa Vivi Seixas. Ela levou algumas opções e escolhemos a “Sociedade Alternativa” pela sua mensagem, que continua super atual, conectando o presente com o futuro.

Gravamos algumas percussões orgânicas e produzimos um groove fluido e envolvente para compor com a letra. Ainda tem um vocal inédito que utilizamos, que fala da “semente de um novo mundo”. Vivaaaa! Viva a Sociedade Alternativa! Viva Raul! <3

HM – No Watergate Rio, você tocou em um line recheado de grandes DJs, encerrando o festival. Qual foi o desafio de fazer o último set naquele dia?

Cada set é um novo desafio, e esse foi o de tocar algo diferente do que os outros DJs já haviam tocado, mantendo uma linha de som similar e segurando a galera até as 09h da manhã. 

Normalmente, os eventos aqui no Rio terminam às 6h ou 7h, mas como a proposta era trazer a energia de Berlim, e lá as festas são intermináveis (risos), conseguimos esse espaço até mais tarde, e foi a maior vibe! Ninguém foi embora. 

Ainda tive o prazer de pegar a pista da Kristin Velvet, que tem um carisma especial e estava arrasando.

HM – Você realizou a festa “Music Is Magic” com um line up composto apenas de mulheres — além de você, Aninha e Marta Supernova. O que você pode dizer sobre a importância e o impacto desse movimento para a cena? 

Criei essa festa para trazer um pouco do lado místico para as pistas de dança. A proposta é ter grande parte dos line ups femininos, e com live acts instrumentais, além de performances mágicas, decoração sensorial e, quando possível, em locações open air, roda xamânica, experiências holísticas, live painting, yoga… 

Acho que esse movimento é essencial para despertar novos sentidos e abrir portas para artistas de diversos segmentos.

HM – Como foi gravar com os povos indígenas Yawanawá e Huni Kuin? Você sempre foi ligada à cultura indígena?

O meu lado místico e viajante como DJ me trouxe contato com outras culturas. Sou curiosa e adoro viver novas experiências. Sempre tive interesse, lia sobre através dos tarots e xamanismo, já tinha ido na aldeia, trocado com os povos Pataxós na Bahia durante a pandemia, quando gravamos o videoclipe de “Terra”, que fez parte do álbum Flow & Zeo – “Spacekraft” (Katermukke, 2021).

Neste ano, senti o chamado para fazer a cerimônia de Ayahuasca através da conexão da minha amiga Mari Goulart com os povos Yawanawá, e foi maravilhoso. Acabei tocando percussão com eles durante o ritual, e depois fomos gravar com Wiyahu no estúdio do produtor de trilhas sonoras para cinema Pedro Igel (Oxigene).

Pouco depois, conectei com os Huni Kuin também, e gravamos outros cantos, violão e flauta.

HM – O que você está planejando para os seus próximos lançamentos ?

Tenho feito novas parcerias. Estou sem um estúdio fixo no momento e viajando bastante. A primeira faixa com o canto dos Yawanawá está sendo finalizada com o Pedro Igel, e teremos também um videoclipe. A ideia é homenagear os povos indígenas e propagar ao máximo essa cultura que faz o bem.

Os cantos dos Huni Kuin, estou produzindo com o Avellar, que conheci na AIMEC, com quem compartilho algumas novas ideias nesse sentido de músicas com o propósito de cura, e já temos outras produções em andamento.

Ano passado, quando toquei na festa “Fly”, no Tocantins, com a Ale Rauen, ela tinha acabado de voltar do Jalapão e gravado com a comunidade do Capim Dourado — artesanato local que é muito lindo. Me encantei com a história e ela me convidou para fazer o remix da faixa “llana”, que já está quase pronto. Também tem a música “Deeper”, produzida com Zeo, que vai sair pela Zatar, do alemão Phonique. 

E, além disso, outras faixas mais tech house voltadas para pista, que tenho produzido com o talentoso Nicolau Marinho. Acabamos de assinar o EP “Changes” com Sharam Jey da Bunny Tiger, com 2 músicas (“Changes” e “Got’ til It’s Gone).

HM – Você está dando aulas no AIMEC RJ sobre “Planejamento e construção de set” e “Marketing na carreira artística”. Como surgiu essa oportunidade?

 

Participei de alguns painéis e workshops da AIMEC no Rio e em Curitiba também, junto com o Brasil Music Conference. Ano passado, os sócios Raphael Nazareth, Cléber Júnior e Raphael Porto estavam buscando uma DJ mulher com experiência para dar algumas aulas, e fiquei super feliz com o convite. 

A plataforma do Canvas na AIMEC é bem objetiva, falamos sobre diversos pontos importantes da carreira artística, e nas aulas que dou, sempre tem a parte prática, que os alunos adoram. Tenho curtido muito essa troca com a nova geração. É gratificante.

HM – Fale um pouco sobre o set recente, gravado ao vivo no D-Edge.

Tocar na nave mãe é sempre especial, e essa noite na Moving com o querido Juarez — Swarup, criador do festival Universo Paralello — e com o Lorenzo Fasano foi uma jornada incrível. 

O flow do set é house, deep e tech. Tem a inédita “Changes”, que produzi em parceria com Nicolau Marinho, o remix da “Sociedade Alternativa” e outras novidades de nomes como Jay de Lys, Nic Fanciulli, Butch, Joe Vanditti… Dêem o play e me contem quais mais curtiram!

HM – Você está de volta às origens como Marian Flow, que foi como iniciou a sua carreira. Conte mais do seu início e dessa nova fase.

Meu primeiro contato com a música eletrônica foi quando morei em New York, em 1997, para fazer um curso na School of Visual Arts, e frequentei os clubs The Tunnel e Limelight, e shows como The Chemical Brothers, Crystal Method, Daft Punk… 

Quando voltei, terminei a faculdade de marketing e trabalhei com cinema ao lado do diretor Ruy Guerra na Universidade Gama Filho, onde comecei a desenvolver a técnica, mixando trilhas para o programa “Bastidores”, da TV Cultura, junto ao coordenador Ricardo Sollberg. 

Comecei a tocar em 1999 e, no ano seguinte, fui convidada para ser residente do extinto club Bunker, em Copacabana, que trazia grandes nomes da cena, como Green Velvet, Sven Väth, Miss Kittin… Depois, formei o projeto Flow & Zeo durante 20 anos, com mais de 150 lançamentos em labels renomados, e gigs pelos quatro cantos do globo. 

Agora, numa fase mais madura, focada na minha carreira solo, estou “going with the flow” — expressão que deu origem ao meu nome artístico. Recebi o convite da DJ Marjo Lak para tocar em uma festa de Halloween na Califórnia e estou confirmando outras datas pelos EUA. No ano que vem, pretendo ficar um tempo tocando pela Europa. 

Tenho tocado em eventos super legais pelo Brasil (o próximo é a Tônica em Brasília com Valentina Luz, Camila Jun, Chico Aquino +), estou marcando a próxima edição da “Music Is Magic” e fechando algumas gigs com convidados tocando instrumentos live.

Logo vai abrir o D-Edge Rio, o site novo da agência ficou demais e tem outras novidades a caminho. Acompanhem o Linktree na bio do Instagram, que mantenho atualizado com os lançamentos, matérias, sets, tours, eventos e links para todas as redes sociais. 

Haux Haux <3 Gratidão <3 Namastê! 

Deixe um comentário

Fique por dentro