A maior edição da Só Track Boa de todos os tempos teve em seu line up DJs de vários estilos, idades, nichos, enfim, uma mescla que representa bem a cultura do nosso país.
Eli Iwasa é uma DJ que faz parte da história da música eletrônica e da cultura clubber no Brasil, e nos últimos anos vem sendo presença garantida nas edições da Só Track Boa. Em bate-papo com a artista no festival conversamos sobre passado, futuro e as oscilações do mercado durante as mais de duas décadas de carreira dela. Confira!
HM: Eli, a gente sabe que você é um pilar da música eletrônica brasileira, tanto como DJ, quanto como uma produtora de eventos. E eu queria que você falasse um pouco sobre as principais evoluções que você vê na cena brasileira do início dos anos 2000 para o que a gente tem hoje em dia.
Eli Iwasa: Nossa! A transformação é gigantesca. E é muito bom, né? Poder estar aqui depois de tantos anos, não só para observar, mas pra me sentir parte disso tudo.
A gente vive um momento de amadurecimento enquanto cena gigantesco. Isso se reflete, se traduz em grandes eventos, como o festival da Só Track Boa, que tá lindo. Em todos os festivais e eventos que a gente tem, ao longo do ano, tem um calendário super sólido de
grandes eventos no Brasil. Com muita qualidade, com muita entrega. E não só isso, né? Eu acho que tem um amadurecimento da produção musical do Brasil.
Tem realmente uma construção dessa identidade, da sonoridade única do que é feito aqui. A qualidade dos DJs.
A gente realmente tá vivendo algo muito especial. Eu fico muito feliz de estar, até hoje, depois de tantos anos aqui na ativa, vivendo talvez um momento mais sólido da minha carreira, sabe? E tá aqui ainda podendo observar tudo isso.
HM: Interessante você falar isso, porque nos seus sets também a gente percebe que você consegue flutuar muito bem. De festival pra clube, você troca a sua sonoridade, as músicas que você toca, e você não fica muito presa. Então, eu queria que você falasse sobre o palco LuvLab, que a Só Track Boa abriu esse leque, trouxe novos DJs, um novo público pro festival. O que você acha desse movimento do festival?
Eli Iwasa: Eu acho que uma das coisas mais valiosas que a gente tem no Brasil é justamente essa diversidade, não só essa diversidade de ritmos, de música, mas principalmente de pessoas. E é maravilhoso ver um festival como a Só Track Boa trazer isso pro festival, né? Colocar um baita palco com essa curadoria, com essa diversidade
de pessoas, de artistas e de estilos musicais. Ele traz uma curadoria super apurada, interessante, super avançada, né? Que talvez muitas pessoas que estão vindo pro festival vão ouvir pela primeira vez.
É esse trabalho de base que é super importante para educar e fomentar a cena. Eles poderiam simplesmente não fazer. Vai ter as mesmas milhares de pessoas, mas eles têm essa preocupação de ter essa diversidade de estilos, de artistas, trazer novos talentos, fazer uma curadoria que é avançada, correr riscos e se propor realmente a mostrar coisas novas pras pessoas.É muito importante ver esses artistas dentro de um festival como a Só Track Boa, mas eles têm essa preocupação de realmente de olhar para além dessa bolha, sabe? De ir lá na cena independente e trazer esses artistas para um festival dessa proporção. Isso se reflete não só na curadoria, mas também no público, né? A diversidade também se traduz no público. Isso é muito importante, gente. Muito, muito importante.
HM: Quando tem eventos no caos, semrpre tem aquela finaleira clássica que você tá acostumada. E é sempre muito interessante que o pessoal fala muito bem e é um estilo sempre muito clássico seu. Então eu queria que você falasse, quando você vai tocar num clube, quando você vai tocar num festival, como é que é a preparação? O que muda de uma situação para outra?
Eli Iwasa: Os sets para um festival e pra um clube são bem diferentes. Eles são diferentes porque primeiro, eu não tenho o mesmo tempo que eu tenho geralmente em um clube, no Caos, em alguns clubes com quem eu tenho uma relação muito forte. Eu sempre toco muitas horas. Então, isso acaba me permitindo correr mais riscos musicalmente e percorrer muitos estilos ao longo dessas tantas horas.
Um festival desse tamanho é muito sobre mostrar quem você é, fazer a pista, manter energia da pista lá em cima, porque são muitas pessoas.
Então é uma construção muito diferente que pra mim gira muito em torno da energia que você quer criar no festival.
Eu sou uma DJ de clube que toco nos grandes festivais. Eu tento trazer essa diversidade e essas diferentes nuances dos meus sonhos, do que eu gosto de tocar nos clubes para os festivais, mas tem que ser tudo muito concentrado em 90 minutos, 120 minutos. Então é
um desafio, né? Mas são sets geralmente muito mais enérgicos. No clube eu posso correr mais riscos, eu posso simplesmente ter energia, mas baixar, cozinhar um pouquinho, aí voltar de novo, desistir.
HM: A gente está com a maior edição Só Track Boa de todos os tempos, maior número de palcos, DJs do mundo inteiro. Então, como você vê o festival, a importância da Só Track Boa nesse ecossistema da música eletrônica brasileira?
Eli Iwasa: Eu estou do outro lado para entender os desafios e as delícias também de organizar um evento dessa proporção e ver um festival que é do Brasil, que nasceu
aqui, que é produzido por brasileiros dessa proporção, provavelmente é um dos maiores eventos de música eletrônica do país, se não for o maior numericamente. São
muitas pessoas por dia.
Eu tenho 25 anos de carreira. Ver isso acontecendo era inimaginável há 25 anos atrás. Sabe, com essa qualidade, a gente está num estádio de futebol.
A gente está lotando num estádio de futebol. É muito gratificante poder fazer parte dessa edição. É a maior. Está lindo o festival. Uma baita curadoria.
Eli Iwasa se apresentou na Só Track Boa em um b2b com Carola, e na última semana partiu para Ibiza, onde tocou no Hï Ibiza na noite de residência de Vintage Culture.
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Por Adriano Canestri