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PSYTREND: como o psytrance ganhou protagonismo na cena do techno mundial

“Tudo começou, há um tempo atrás, ̶n̶a̶ ̶i̶l̶h̶a̶ ̶d̶o̶ ̶s̶o̶o̶o̶o̶o̶l̶ com a Nina no sooom”

Lembra quando todo mundo PIROU quando a Nina Kraviz, nesse set pré–pandêmico aqui, tocou ‘Stone’, uma faixa de um dos projetos pioneiros no psytrance mundial, os X-Dream?

Esse acontecimento começou uma revolução silenciosa de 2019 pra cá que tem inserido cada vez mais psicodelia nos sets de techno mundo afora.

Apesar de Nina já ter colocado psytrance na pista várias vezes antes disso, dessa vez, os olhos do cenário começaram a de fato se voltar para a mistura dos dois estilos musicais.

Desde então já deram suporte para diversos artistas do psytrance nacionais e internacionais, nomes como Charlotte De Witte, Amelie Lens, Anfisa Letyago e a Indira Paganotto, que hoje já é chamada de ‘psymama’ por conta da sua longa história com o estilo.

Indira que já se apresentou em grandes festivais como Tomorrowland, EDC Las Vegas, EXIT e Boom Festival, consolidando seu nome como referência global no cenário techno, mas sempre levando o psytrance junto a sua case, cultura na qual foi inserida ainda na infância.

Ela que teve suas raízes no psytrance, através da influência do pai, que foi DJ em Goa, na Índia nos anos 80. Tinha a coleção de seu pai como principal fonte de pesquisa e daí teve seu amor a música, principalmente ao Psytrance, iniciada.

Até que com 15 anos, teve seus primeiros contatos com o techno e desde então, sempre permeou entre os 2 mundos.

Colaborações como White Horse, entre Nina e Indira e diversas apresentações que colocam os 2 estilos juntos em um mesmo set como essa aqui para DJ Mag em 2022, tem se multiplicado cada vez mais entre o cenário do techno.

Não existe uma explicação clara e notória para elucidar esse movimento (além do psytrance ser f***), a princípio. Mas existe uma certeza: esse movimento sempre aconteceu. Até Carl Cox já dropou uns Goa na década de 90

(assista aqui)

No passado, em meados dos anos 90, no surgimento do Psytrance no mundo, as principais referências dos produtores musicais de psy eram os grandes nomes do techno e house music, que inevitavelmente nasceram antes, na década de 70 e 80, respectivamente.

As refs da época eram Kraftwerk, Jeff Mills, Model 500, The Project, Underworld, Plastikman, Orbital e outros, enquanto estavam nascendo ao sol os primeiros produtores de psytrance no mundo, tais como Hallucinogen, Eat Static, X-Dream, Art Of trance, Raja Ram, Goa Gil e outros que hoje são as ‘refs’ dos artistas atuais.

Mesmo isso sempre acontecendo, essa fusão rendeu novos frutos nos dias de hoje, tais como o PSY TECHNO (ou só PsyTech), ou podemos só definir a nomeação de algo que já vinha sendo iniciado por nomes como o álbum do LOUD ‘5 Billion Stars’ de 2016, ou esse remix icônico de Divine Moments Of Truth, do Shpongle., também de 2016.

Expoentes como Modus, Gorovich, Out Of Orbit, Sphera, Synthatic, Sonic Massala e outros artistas que têm essa característica em suas estéticas sonoras atualmente e vem ganhando destaque nos line ups mas não com o hype ou pioneirismo, mas sim, pela originalidade do som e criação de novo caminhos pro estilo.

Isso só reforça que o novo sempre vem, principalmente se os novos criadores utilizarem boas referências ou estejam abertos a experimentar sem medo.

Mas é curioso, pois os artistas do techno começaram a utilizar psytrance em suas referências e os artistas do psytrance começaram a utilizar techno em suas

referências,

O que isso pode dizer sobre o futuro do mercado eletrônico? Uma possível unificação de público? 

Um fato é que o público do trance é um pouco mais resistente em ver outros estilos sonoros nos eventos, mas do lado do techno já observamos como o psytrance vem cada vez mais movimentando pistas nos eventos, que passa com grande aceitação inclusive nos dias atuais.

Honestamente acredito que a tendência é unificarmos nos eventos, acho que no futuro as bolhas se romperão principalmente em grandes festivais que possibilitam maior abrangência artística em seus line-ups, é uma aposta pro futuro que cabe não só os artistas saberem se adaptar, mas também os produtores de evento decidirem se vão ou não apostar nessa proposta.

Uma questão interessante de observar é a percepção de cada lado sobre o outro. É usual ver artistas do techno resumindo psytrance em rolling bass, inclusive vejo vários produtores usando o termo “psytrance bass” que nada mais é do que uma sequência de bass galopante, mas que nem de perto resume a grande variedade de estéticas dentro das vertentes do psytrance, enquanto no psytrance vemos resumirem techno em bass no formato square, com muitos chamando essa linha de progressive inclusive de “square bass” o que também nem de perto resume o grande universo techneiro.

Observando os sets de artistas como Indira, Deborah De Lucca, Amelie Lens e Charlotte, acho curioso pois é diferente ver alguém mixando fullon com hard techno e do nada um hitech, a forma como os artistas do techno mesclam várias vertentes em uma hora de fato quebra muitos padrões do psytrance, é interessante para alguns é horrível para os mais conservadores.

Mas é de fato curioso como no fim a mistura funciona, particularmente como DJ hoje em dia faço muito essa mescla, porém seguindo um raciocínio de storytelling.

Esses dias vi sets da Anna e Victor Ruiz utilizando artistas do progressive, a ANNA tocando Freedom Fighters e Victor Ruiz usando Gorovich. Achei primorosa a forma como o progressive se encaixou em ambos os sets, principalmente pela bateria que não fugiu do storytelling do set e de fato trouxe um tempero incrível para as apresentações.

Numa abordagem estética under, o underground do techno e o psytrance underground trazem muitas similaridades, o transe, a continuidade, a atmosfera sombria e fechada, facilmente eu ouviria a Nina Kraviz um dia tocando dark progressive ou forest.

Conversando com um amigo alemão produtor de forest da nova geração, inclusive foi um dos pontos que ele levantou pra se motivar produzir forest pro futuro, “Eu consigo ver facilmente esses artistas flertando com o psytrance underground, eles não se apegam a bpms como nós” numa ótica de que a arte dele tem grande possibilidade de atingir bolhas além do trance, o que francamente acho totalmente possível.

Um fato é que no fim quem tem a ganhar é a cena eletrônica como um todo, essa união traz um fortalecimento, principalmente em um cenário que vem sofrendo tanto para se adaptar no pós-pandemia. Quem sabe esse fortalecimento no fim não seria a solução? Quem sabe no fim as influências de origens são peças pra solução

do futuro?

Por Salomão e Macedo

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