O que influencia a montagem e o anúncio de um line up? Conversamos com produtores de todas as regiões do Brasil, confira!

O line up de um festival é para muitas pessoas o fator primordial para comprar ingresso e ir ao evento. Para chegar ao resultado final, a equipe que trabalha na curadoria e na contratação dos artistas tem um trabalho que às vezes passa despercebido pelo público.

O processo de fechar a data pode ser feito de diferentes formas. Direto com o artista, por meio de agências que cuidam do booking dos profissionais ou com a equipe/booker especializada nessa parte que trabalha com o artista. Depende de como o DJ gosta de trabalhar e também varia de acordo com o estágio da carreira e tamanho do profissional.

Outro passo importante é a escolha dos nomes que integrarão o time. Tudo precisa estar alinhado com o propósito da festa, seus valores, a linha de som a ser seguida, o público e até mesmo o que aquele DJ representa enquanto músico. Feito isso, avançamos para a parte de anúncio dos artistas para o público através das redes sociais e claro, há um critério também a ser seguido na ordem de anúncio, calendário e a forma com que é feito.

Todo esse trabalho precisa ser feito pensado nos mínimos detalhes, uma vez que a informação bem passada que converse com o público atrai olhares positivos e posiciona o evento bem mercadologicamente. 

Para entender melhor como é feito tudo o que foi falado anteriormente entramos em contato com produtores de eventos de diferentes portes e de regiões variadas do Brasil. Veja o que foi dito respondendo a pergunta abaixo.

Que fatores influenciam na montagem de um line up e no anúncio dos artistas de um evento?

Rodrigo Bouzon (Sollares – Região Nordeste) – Em Salvador e na maioria das cidades do Nordeste existe uma busca por um equilíbrio entre tendências e clássicos. Contratamos os artistas âncoras/medalhões que dão aquele peso na venda de ticket, pesquisamos quais artistas estão chamando atenção nas redes sociais e que entregam bem suas apresentações, produções  e selecionamos os artistas locais que estão fazendo um bom trabalho na parte social, musical e nas redes sociais para completar o line up.

Resumindo, medalhões clássicos vendedores de ticket + artistas que estão com tracks funcionando bem ao mesmo tempo que se movimentam bem nas redes sociais (tendências) e time local que está movimentando bem o público seja nas redes sociais ou na rua.

Ser bem posicionado nas redes sociais é um super plus à frente dos outros que não são.

Lucas Viana (Abstract – Região Centro-Oeste) – Existem artistas que eu acompanho há 2 anos, visando colocá-los em um lineup futuro, mas isso depende mais deles do que de mim.

Não basta a música ser boa; eu costumo analisar outros 3 fatores: primeiro, se o artista teve pelo menos 5 lançamentos no último ano, isso demonstra comprometimento com o seu projeto e público. Segundo, analiso o número de ouvintes mensais no Spotify e sua crescente (chego a tirar print para comparar). Por último, eu confiro a presença do artista nas redes sociais, não em questão de números de seguidores, mas como ele se comunica e interage com seus fãs.

Eu, particularmente, gosto de apostar em novos talentos, pensando no curto e médio prazo. Fatsync foi um grande exemplo disso: este ano fechei uma data dele em fevereiro para tocar em julho; o garoto simplesmente explodiu. Tivemos que mudá-lo para um horário premium a pedido do público.

Claro que o festival precisa vender ingressos, e os grandes artistas são muito importantes para isso, mas o nosso foco é não depender 100% disso; nosso festival deve levar uma experiência que vá muito além. Em uma pesquisa recente, perguntamos ao público o que eles mais gostam em uma Abstract, e fatores como estrutura, conteúdos 3D, arcade (jogos eletrônicos) e organização ficaram à frente do “line-up”. Isso nos permite investir em novos talentos e arriscar mais.

O exemplo do Fatsync é extraordinário, nós acreditamos, apostamos e o artista gabaritou: tirou 10 em tudo!

Por outro lado, não posso deixar de dizer que as agências pesam muito quando se trata de eventos menores. Não sei se ainda existe essa prática, mas já vivi na pele situações onde a agência condicionava nomes que não faziam sentido, atrelados à contratação de um “big name”. Quando se trata de um warm-up, a gente até entende, mas nem sempre era o caso.

Percebo que as agências tiveram que flexibilizar essa situação no decorrer dos últimos anos. Espero que essa prática já tenha acabado.

Sempre é complicado quando se tem mais de uma agência, eles sempre querem os melhores horários para os seus artistas. Mas hoje eu tenho autoridade, por conta do festival ter crescido muito, e procuro seguir uma linha sonora que faz sentido e priorizando os artistas principais com os melhores  horários, pois assim eu atendo o pedido do público também

Tentei colaborar de alguma forma com a minha vivência neste mercado. Às vezes ele não é justo, mas precisamos seguir o jogo para fazer acontecer. Muito obrigado!

Milly Paiva (Laroc Club – Região Sudeste) – Montar um line-up exige expertise e uma comunicação ampla com diversos parceiros do negócio, ainda mais em um club que abre periodicamente todo mês e compete com outros players do mercado, como festivais e eventos de grande porte. Há fatores internos como budget aplicado, condições de contratação, logística entre outros shows do artista contratado, como também há fatores externos de interferência, como disponibilidade dos artistas, incluí-lo em turnês pelo nosso país ou em países vizinhos e se o artista a ser bookado também deseje e visualize essa gig como potencial em sua agenda.

Quanto aos anúncios dos contratados, geralmente é um relacionamento em conjunto com a equipe de marketing, que envolve estudo de uma melhor data de lançamento, anúncios da concorrência e de uma boa janela para a venda de tickets e potenciais viradas de lote.

Jeniffer Ávila (Winter Music, House Mag Festival, Magic Island – Região Sul) – A montagem de um line-up e o anúncio dos artistas de um evento envolvem uma série de fatores interconectados,  dependente da proposta do evento, da força da label que o está promovendo e do público-alvo. Um dos fatores essenciais é a identidade da label e o grau de confiança que ela já conquistou com o público. Labels em início de trajetória podem precisar recorrer a ‘ticket sellers’  artistas que já atraem grande público para garantir sucesso nas vendas. À medida que ganham credibilidade e constroem uma base fiel, há maior liberdade para apostar em artistas emergentes, inovando no line-up.

Outro fator determinante é o próprio trabalho do artista. Quando ele possui um portfólio de qualidade, com músicas ou performances que já tenham impacto, um Press kit completo e atualizado,  mesmo que seja um nome menos conhecido, facilita o processo de introdução ao público. O evento se torna uma plataforma não só para grandes nomes, mas também para revelações, desde que o artista tenha um material sólido que ressoe com a proposta do evento e com o público presente. Portanto, um bom line-up é o equilíbrio entre atender às expectativas do público e ao mesmo tempo apresentar novas sonoridades que possam surpreender.

Mauro Leal (Hype – Região Norte) – Antes de criar ou formatar um evento, pensamos em qual público a gente quer se conectar, uma vez que existem muitos nichos na música eletrônica. Exemplo: uma festa de halloween e queremos conversar com o público underground, então procuramos os artistas mais hypados do underground e já temos os consagrados mapeados, além de estar sempre antenados nas novidades. É olhar como ele se posiciona nas redes sociais e como estão sendo os últimos shows deles.

Passado o tempo, a cena foi ficando maior e os artistas mais exigentes, então hoje é difícil juntar headlines no mesmo evento, ainda mais se forem estilos diferentes. Hoje temos problemas do tipo – artista X não querer artista Y no line – e isso atrapalha a gente na parte criativa. 

Como somos pioneiros aqui na região, temos prioridades nas melhores tours para os melhores artistas. Fazemos um planejamento anual para não ter problema de disputar os artistas e não fazer muitos eventos, o que prejudica o push de vendas. Penso que um grande artista deve vir ao Norte no máximo duas vezes por ano para não saturar. 

Por Adriano Canestri e Mathews Dornelas

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