O quão raro é encontrar o seu par perfeito, a sua alma gêmea? Se casamentos perfeitos existem, posso dizer que um deles é Maz, Antdot e sua festa autoral Dawn Patrol. Para deixar essa celebração ainda mais especial, levar essa união para um cenário paradisíaco no Rio de Janeiro torna essa comunhão uma verdadeira manifestação de boas energias e da boa música que se produz em nosso país, com sotaque, timbres e melodias 100% brasileiros.
Para começar, viajar para uma cidade como o Rio de Janeiro já é um evento, e se os dias estavam nublados e chuvosos na semana que antecedeu o festa, no sábado, 11, o Sol abriu com todo o seu esplendor dando boas vindas para um passeio musical que começaria ao entardecer e seguiria madrugada a dentro.
A estrada que levaria até o evento fazia as honras da casa em curvas acentuadas que mergulhavam entre rochas, natureza e vistas que comprovavam que o Rio de Janeiro continua lindo, obrigada! Subimos até o número 1410, onde um portal anunciava a Dawn Patrol. Optei por não perder um minuto desta experiência e cheguei logo às 16h30, ao som do boliviano Bakka. E que recepção incrível.
Aos pés do do Joá, a festa se formou a céu aberto. No horizonte, era possível ver a Pedra da Gávea, a Rocinha, o oceano, imenso e infinito, que saltavam aos olhos. Obviamente, nenhuma decoração seria suficiente para ofuscar a beleza natural que envolveu todo o evento e abraçou cada convidado.
Bakka levou para a pista um som mais leve, com tracks de afro house, house, como quem diz, “ei, aprecie com calma esse momento, veja tudo ao seu redor e se prepare para o que está por vir”.
Ainda era cedo quando Riascode começou o set. O público chegava vagarosamente e eu só pensava que se as pessoas não se apressassem, perderiam aquele cenário incrível. Uma sonoridade mais étnica tomou conta do Joá e transbordou por todo o evento. Rias sabe como envolver pista em um círculo de energia e potência dançante.
Na última lâmina solar restante no céu, Bakka se juntou a Rias para um b2b perfeito, daqueles que você não sabia que precisava até realmente ouvir. Brindaram entre tracks autorais e músicas que revelavam uma pesquisa sonora inquietante e extremamente particular, unindo os produtores em um set imersivo e que chegou ao ápice de maneira grandiosa a ponto de entregar a pista com elegância para os anfitriões Maz e Antdot, que entraram ao som de “Maré”, faixa inédita do Riascode e Antdot pela Dawn Patrol.
A essa altura, a paisagem que vimos mais cedo passou a ser iluminada por pequenos pontos que brilhavam no horizonte e traziam contornos e silhuetas agraciadas por uma Lua brilhante que apontou bem acima de nossas cabeças, vigilante e atenta, abençoando nossos movimentos como diz a música “Corpo e Canção”, da autora Letícia Fialho, e que em determinado momento ecoou pelo Joá na versão club mix de Maz e Antdot, e pelas vozes que cantavam em uma serenata um pouco diferente dos romances, mas que reflete o alcance que o encontro entre música eletrônica e brasilidade pode ter.
Os DJs e produtores brasileiros passearam pelo afro house, surpreenderam com clássicos da house music, trouxeram linhas mais groovadas e presentearam a pista com seus hinos. Foi uma construção impecável, uma narrativa digna de um long set. Se alguém foi com a esperança de ouvir apenas hits ou até mesmo tracks de afro house, encontrou uma entrega completa, digna de dois dos principais nomes da música eletrônica nacional. Até porque, mais de seis horas de apresentação necessitam de algo mais, de elementos surpresa, de momentos introspectivos que contrastam com a exaltação.
Idiomas se mutiplicavam pela pista afora, fãs de diferentes nacionalidades que se encontravam em movimentos, através da linguagem do corpo e dos sentimentos que transpiram quando a música é contagiante e envolvente. “Banho de Folhas”, “Emoriô”, “Povoada”, “Coragem”, “Emotions”, quanta brasilidade em um lugar só!
E como se não pudesse melhorar, Bakka e Riascode se juntaram a Maz e Antdot em uma jam session digna do Globo de Ouro! Conexões? Temos. Uma sequência de hits autorais, descobertas, sons que estão no topo das principais plataformas de streaming, foi uma ‘ode’ a um movimento que nasceu como gravadora e tem se tornado uma comunidade que se une através da música, do lifestyle, do esporte. Que delícia foi ouvir “Baião Destemperado” direto da fonte, com Maz, Antdot e Riascode em uma sintonia festiva. “Jolie Fille” trouxe a tropicalidade que já transpirava pelos nossos corpos.
Como tudo que é bom tem começo, meio e fim, a festa encerrou exatamente às 04h da manhã, pontual e com biscoito Globo e chá mate para repor as energias no retorno para casa. Voltei com um sentimento de que nós brasileiros sabemos como fazer festa, sabemos como fazer música para dançar e curtir em comunhão. Dawn Patrol: já te sigo para a nossa próxima jornada, espero que seja breve!
Por Lu Serrano
Fotos: Lucas Hofmann