Por redação
Apesar de ter a sexta maior economia do mundo, o Reino Unido vem enfrentando uma crise delicada. E é claro que, dentre todos os afetados, os artistas musicais têm sido bastante prejudicados — afinal, aqueles que conseguem encher estádios por onde passam são a minoria.
Desenvolvido pelas organizações britânicas Help Musicians e Musicians’ Union, uma nova pesquisa traz dados bastante interessantes sobre os músicos da região — revelando, de maneira geral, que a situação não está nada fácil.
Chamado “Musicians’ Census” (“Censo dos Músicos”), o estudo entrevistou, entre janeiro e março deste ano, 5.867 artistas britânicos a partir dos 16 anos de idade e que ganham ou pretendem ganhar dinheiro através da indústria musical. A partir de então, diversos relatórios serão entregues, trazendo luz a questões cruciais sobre esse universo, com o objetivo de melhorar as vidas dessas pessoas.
Publicado agora em setembro, o primeiro relatório focou em dados demográficos, qualidade de vida profissional e desafios econômicos, entre outras questões.
Veja abaixo algumas das principais descobertas:
- A renda média do grupo de músicos entrevistado é de £20,700 por ano (aproximadamente R$ 124 mil), enquanto a renda média anual de um trabalhador full-time no Reino Unido é de £33,402 (aproximadamente R$ 200 mil);
- Apenas 40% dos entrevistados se sustentam apenas com a sua música;
- 53% precisam compor renda a partir de outros trabalhos (sendo que destes, 62% têm trabalhos fora da indústria musical);
- 72% desses músicos trabalham por conta própria;
- 50% possuem formação em música;
- 80% se identificam como músicos de performance;
- Apenas 4% são DJs (embora o número de produtores musicais seja de 19%);
- O maior grupo dentre os músicos endividados é o de DJs, produtores e engenheiros de estúdio (27%) — no geral, o número de endividados é de 17%.
Além disso, o relatório mostrou algumas diferenças substanciais entre alguns grupos. Entre homens e mulheres autônomos, há uma disparidade salarial anual estimada em £4 mil (mais de R$ 24 mil). E dos 152 entrevistados (6%) que declararam ter uma renda anual de £70 mil (aproximadamente R$ 420 mil), 79% são homens, enquanto apenas 19% são mulheres.
Artistas brancos ganham em média £1 mil (aproximadamente R$ 6 mil) a mais por ano em relação aos de outras etnias, e os profissionais sem deficiência recebem em média £4 mil (mais de R$ 24 mil) a mais por ano do que os que possuem alguma deficiência.
Depoimentos importantes, que ajudam a ilustrar os números, aparecem em destaque no Censo dos Músicos. Veja alguns deles:
“Alguns estabelecimentos querem artistas que ‘pareçam jovens’. A indústria da música é muito dura. Atualmente, eu me auto-gerencio, auto-promovo e lanço minhas próprias músicas, e somente faço o que posso com as técnicas que aprendi pelo caminho” — Homem, 73 anos, West Midlands (Inglaterra).
“Eu trabalho cinco dias por semana, não consigo dar conta de mais nada e, mesmo com quase 20 anos de experiência como um músico comunitário, ainda ganho menos do que o salário médio do Reino Unido” — Homem, 50 anos, Escócia.
“Eu dependo de freelas para performar, eles podem ser esporádicos e as oportunidades diminuíram nos últimos anos. O aumento da responsabilidade financeira e dos cuidados significa que é difícil sobreviver como freelancer agora” — Mulher, 39 anos, Noroeste da Inglaterra.
“A música não proporciona estabilidade econômica e, por isso, a nossa evolução muitas vezes acaba sendo retardada pela necessidade de dedicar tempo a outros trabalhos” — Mulher, 30 anos, Londres (Inglaterra).
“Muitas vezes, parece que quando chega a hora de pagar pra valer, as agências e gravadoras acham mais fácil fazer isso com um branco recém-saído da Universidade e sem experiência, do que com um negro com histórico comprovado e experiência para o trabalho” — Homem, 35 anos, Midlands (Inglaterra).
“A crise do custo de vida é algo enorme, que teve impacto no meu bem-estar e progresso na carreira […]. O meu maior problema neste momento é que simplesmente não tenho mais tempo para praticar plenamente, não tenho meios de organizar shows com a minha banda, pois todos eles têm melhores oportunidades financeiras… Tudo parece um ciclo vicioso que empurra os músicos para fora” — Mulher, 26 anos, Londres (Inglaterra).
Você pode conferir o relatório na íntegra aqui.