Final de semana de Lollapalooza Brasil e Ultra Music Festival sofre com chuvas. Como os festivais estão se preparando?

O final de semana que prometia ser de música e celebração para os fãs do Lollapalooza Brasil 2025 e do Ultra Music Festival foi marcado por um fator que vem sendo pedra no sapato dos festivais: o clima. As chuvas intensas e a ameaça de raios forçaram ajustes nas programações de ambos os eventos, realizados respectivamente em São Paulo e Miami. 

No Lollapalooza Brasil 2025, que aconteceu entre os dias 28 e 30 de março, o primeiro dia foi interrompido por volta das 15h de sexta-feira devido à possibilidade de descargas elétricas. Shows foram paralisados, e o público foi orientado a se afastar de estruturas metálicas enquanto a organização monitorava as condições climáticas. Já o Ultra Music Festival, enfrentou desafios semelhantes, com ajustes logísticos sendo avaliados para garantir a segurança dos participantes.

Esse cenário não é novidade. Nos últimos anos, fatores climáticos têm alterado drasticamente o planejamento e a execução de grandes eventos ao redor do mundo. No Brasil, o Tomorrowland de 2023, realizado em Itu (SP), teve um de seus três dias cancelados após chuvas torrenciais transformarem o Parque Maeda em um lamaçal, exigindo obras emergenciais para retomar as atividades. O Lollapalooza Brasil já enfrentou interrupções em edições anteriores, quando tempestades forçaram pausas e evacuações parciais. O Ultra Music Festival, em sua edição global em Miami, também já lidou com adiamentos e mudanças de local devido a condições climáticas extremas. Fora do país, o Burning Man de 2023, no deserto de Nevada (EUA), viu-se ilhado por chuvas atípicas, dificultando o acesso e a saída de dezenas de milhares de participantes.

Relatórios recentes da Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicam que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperaturas globais superando 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. No Brasil, 2023 foi marcado por 12 eventos climáticos extremos, incluindo inundações históricas no Rio Grande do Sul e secas severas na Amazônia, evidenciando a vulnerabilidade do país a essas transformações.

Para a indústria de eventos, o impacto vai além de ajustes de última hora. “Os festivais precisam se adaptar a uma nova realidade climática”, afirmou Letícia Freire, gerente de sustentabilidade da Rock World, empresa responsável pelo Lollapalooza, em um painel no SIM SP. “Estamos investindo em protocolos de resiliência, como monitoramento meteorológico em tempo real, planos de evacuação e infraestrutura mais robusta, mas os desafios são crescentes.” 

A experiência do público também é afetada. Enquanto alguns fãs encaram a chuva como parte da aventura – capas de chuva e botas se tornaram itens indispensáveis no kit festival –, outros lamentam os atrasos e cancelamentos. 

A tendência é que a indústria de eventos continue a se reinventar. O Tomorrowland Brasil, que confirmou sua edição de 2025 para outubro em Itu, firmou uma parceria de dez anos com o governo de São Paulo, sinalizando investimentos em infraestrutura para mitigar os impactos climáticos e potencializar a experiência do público. No Ultra, a busca por locais mais adaptáveis e a flexibilidade na programação são estratégias em discussão.

Enquanto o som dos palcos tenta competir com o barulho da chuva neste fim de semana, uma coisa fica clara: as mudanças climáticas não são mais um risco futuro, mas uma realidade que exige ação imediata. Para os organizadores de festivais, o desafio é encontrar o equilíbrio entre a paixão pela arte e a força da natureza, se antecipando ao que pode acontecer tendo em vista previsões do tempo e pesquisas, além de sempre estar preparado para o inesperado.

Por Adriano Canestri

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