Já há algum tempo que o funk, em especial o paulista, está sendo utilizado recorrentemente em sets de DJs de vários estilos. Ao redor do mundo os vocais dos MC’s brasileiros viraram uma febre tanto para os artistas quanto para o público. Na Europa, são apaixonados com esse estilo e seu ritmo, e é super comum vermos DJs e MC’s de funk realizarem tours por lá em diversos países e em palcos importantes.
Ciente disso e do movimento que cresce cada vez mais no mundo e também por aqui, o Boiler Room em parceria com a Ballantines realizou um showcase da série que roda o mundo ‘’True Music Studios’’ em São Paulo voltado a estas sonoridades. Alguns dos maiores nomes do segmento estiveram presentes no evento. Aliado a isso, uma palestra foi realizada para debater a história do movimento, de onde ele vem, como está hoje e todos os traços culturais que o tangenciam.
Os sets gravados estão todos disponibilizados no canal oficial do Boiler Room. Confira a lista (os links de cada set individualmente está anexado ao nome dos artistas):
A PALESTRA
O bate-papo foi mediado por Felipe Maia, jornalista e DJ. Os participantes foram Ajuliacosta, compositora e MC de rap, MC PH, um dos maiores nomes do funk e trap atualmente e Renata Prado, que é pesquisadora, professora, pedagoga e funkeira.
Inicialmente, debatem o que é ser um MC e a relação entre o funk e o hip-hop, que, segundo Renata, conversam o tempo inteiro. Ela define o MC como ‘’aquele que vai pegar o microfone e passar a visão’’, e também comenta como os dois gêneros são semelhantes no campo de lifestyle, público, moda, estilo de beats e rimas.
MC PH comentou sobre a importância das referências. Ele, que começou a fazer funk há 14 anos, tinha nos MC’s da baixada santista a inspiração para se tornar um MC. ‘’Sem MC Lon, Kauan, MC Primo não existiria toda essa nova geração’’.
Durante toda a conversa, são lembrados momentos, eventos, nomes e espaços que permitiram o funk se consolidar enquanto cultura e movimento na cidade de São Paulo no final dos anos 2000 e início de 2010. É interessante fazer essa reflexão, porque hoje um fenômeno global e que lota estádios Brasil afora, há pouco menos de 10 anos ainda era nichado nas periferias e totalmente jogado de lado e marginalizado pelas autoridades.
Assim como o house e o techno, cada região, bairro e zona de São Paulo tinha uma forma diferente do funk ser feito e a música vai se moldando até criar uma cena consolidada como hoje.
Discussões que regem os debates nos dias de hoje foram abordados. A participação de mulheres no funk enquanto MC’s é grande e há nomes grandes na cena, como Valesca Popozuda, Tati Quebra Barraco, MC Carol entre outras, porém ainda há o desequilíbrio no número de homens e mulheres, assim como em outras esferas da sociedade. Ajulia ilustra muito bem a relação que os grandes players do mercado tem com as mulheres relatando uma situação que ocorreu com ela.
Sobre o que foi dito no início do texto, Ajulia e PH lembraram como os gringos piraram quando eles foram fazer shows lá, e se impressionaram como eles curtem a cultura da música brasileira.
O papo todo é muito educativo e informativo, mostra pesquisa e a vivência diária desse movimento e abre a cabeça sobre a pluralidade do funk, de onde ele veio e para onde está indo e a causa de tudo o que acontece em torno dele.
É do Brasil e estamos conquistando o mundo, mais uma vez!
Por Adriano Canestri