Em um cenário nacional cada vez mais fragmentado e em constante dinâmica, há um estilo que busca novamente conquistar seu espaço. Estamos falando do Progressive House, reconhecido por deter fãs fervorosos, o estilo parece estar conquistando grandes palcos novamente pelo mundo e o Brasil não fica de fora. Esse renascimento se dá pelo talento de novos produtores e algumas misturas com outros estilo que viraram trend, como o organic house e o melodic house. Como mencionado, o Brasil não ficou de fora, surgindo novos produtores que vem ganhando projeção internacional, algo relativamente novo, visto que nossa tradição sempre foi de revelar nomes do techno e house.
Em meio a esse crescimento evidente, se faz necessário instituições que ajudem a organizar o mercado e projetar seus talentos emergentes. Ai que entra a Epicenter Artists, uma agência focada nesses talentos nacionais do estilo com projeção de longo prazo. Um tipo de abordagem que pouco se vê no Brasil, mas que vem chamando atenção nas redes sociais nos últimos meses. Para entender melhor tudo isso, conversamos com Jonas Facchi, um dos sócios da agência, onde nos releva os planos e conceitos dessa nova plataforma.
Olá Jon, normalmente, uma agência busca trazer artistas relevantes advindos de estilos distintos, afim de conseguir mercado em diferentes áreas. Porém, a proposta da Epicenter é focar em um único estilo, qual o motivo?
Olá, primeiramente muito feliz em falar com vocês e obrigado pelo espaço.
Veja, para nós é algo muito natural focar todas as energias em artistas do mesmo espectro sonoro, pois se trata do estilo de som que a gente mais gosta, que ama de verdade. Para ser honesto, não faz sentido trabalhar com artistas de techno ou tech house, pois simplesmente são mundos sonoros que não participamos. Esse é um projeto feito por pessoas que buscam algo além de ajudar os artistas, mas também ajudar a promover o crescimento do progressive house no Brasil. Que tem sido um estilo que as agencias tradicionais não tem se interessado, então existia na cena nacional um gap enorme. Imagine que nós temos caras como o Tonaco, André Morét, Wilian Kraupp, recebendo suporte de Sasha, Guy J e Hernan, gigantes da cena, e eles não vinham sendo chamados para tocar junto desses nomes aqui.
Claramente havia uma questão estrutural para se resolver, e ao invés de ficarmos reclamando, decidimos criar nossa agência, com todo profissionalismo e cuidado de qualquer outra. Nosso site, nossas artes, tudo é do mais alto nível, pois os artistas merecem.
Quem está por trás desse projeto e quais artistas fazem parte do time?
Somos em três sócios, eu, o José Benites (Zé), que é produtor de eventos em São Paulo e possui uma rede de contatos ampla, e o Rodrigo França, que já trabalhou em agências grandes, trabalha como tour manager e possui muita experiencia na parte de processos. Eu tenho ficado na parte de Booking e gestão de marketing, mais próximo dos artistas. Cada um tem um papel importante, ainda há a Carol, esposa do Zé, que tem feito a parte de planilhas e ajuda em tudo um pouco. Sem pessoas, não há qualquer ideia que se sustente.

Porque você acredita que vinda da Epicenter Artists é importante hoje na cena nacional?
Penso que a agência era algo muito necessário para dar voz e visão a diversos artistas muito talentosos, que não estavam conseguindo o reconhecimento devido. Cada vez mais a cena exige maior profissionalismo e a percepção de fazer parte de uma agência por si só mudou o status destes nomes. É claro que o bom trabalho a longo prazo é que irá de fato fazer as coisas se solidificarem.
Qual a origem do nome Epicenter? Tem algum significado especial?
O Zé me ligou com a ideia da agência e com esse nome, algo que ele viu na internet sobre o universo. De imediato considerei um ótimo nome, pois ele casa perfeitamente com o que é o progressive house, um estilo que está no centro de tudo, como diz o Hernan Cattaneo no livro dele. É capaz de beber de várias fontes para ser produzido, há um tanto de house é claro, mas também de techno, de deep, de tech, de trance e até de reggae e funk. Com certeza Epicenter faz jus ao estilo que queremos projetar com a agencia e seus artistas.
Estamos percebendo um amplo crescimento de eventos e artistas de Progressive House por todo Brasil, ao oque você atribui esse momento?
Nos últimos cinco anos tivemos o boom do Hernán Cattaneo se colocando como um artista quase mainstream (não no som, mas de visibilidade), e a cena deste estilo gira muito em torno dele, com isso muitos produtores argentinos passaram a girar o mundo se conectando com outras cenas fortes como na Australia e Holanda. Aqui no Brasil, creio que tudo tem passado pela influência do Hernan, que toca bastante aqui e a cada apresentação deixa a semente do sonho de ‘’quero fazer isso um dia’’ em muitos clubbers. O acesso a informação faz surgir bons produtores em vários estilos aqui, o brasileiro é criativo por natureza, e surgir artistas fazendo esse som em alto nível tem sido algo de acordo com a evolução da nossa própria cena Posso dar o exemplo do Alburquerque e do Wilian Kraupp, que eram mais da cena tech house e hoje produzem e tocam progressive house. Acho que a cena clubber e de labels parties está se reinventando ainda pós pandemia, principalmente nos interiores e o progressive house surge como um estilo alcançável em termos de valores de cachê para muito produtores de eventos menores, visto que o techno, o melodic e o afro se concentraram em uma elite de produtores que tem muitos fãs, mas também cobram valores astronômicos, que poucos locais aqui conseguem pagar.
O progressive nesse primeiro momento vem para cumprir esse papel de ser um som sofisticado, as vezes difícil de ouvir, mas que com os ótimos DJs que temos, faz qualquer pista se envolver e ter uma noite inesquecível. Atribuo ainda o novo boom dos Argentinos (já ocorreu isso nos anos 2000) vindo tocar muito no Brasil, por serem as vezes mais baratos que um big name nacional e isso ajudado a diversos eventos e clubes terem atrações internacionais de qualidade sem correr tantos riscos, aí que entra também os nossos artistas.
Para você, o que é Progressive House em sua essência? Me parece que muitas pessoas tem dúvidas ainda.
Como mencionei antes, o estilo tem um pouco de vários outros, que somados criam algo novo, é assim desde a evolução do Acid House para algo mais sofisticado e menos acido digamos. Acredito que a essência está em linhas de baixo pesadas e feitas de diversas formas, sempre dando muita dinâmica para a pista, depois, camadas de bateria que podem ser mais tribais ou mais perto do techno, funciona para os dois casos, e ainda linhas harmônicas ricas, com variações, ora melódicas ora obscuras, e claro vocais são muito importantes nesse estilo, sem exageros claro, as vezes sendo abstratos, as vezes sendo cantados. Progressive House é um som em camadas e em constante construção durante a noite, quem não entende isso, não entende o estilo.
Como foi o processo de seleção dos artistas? O que foi essencial para eles fazerem parte do casting da Epicenter?
Alguns nomes eram bem óbvios, nomes que admiramos e estão prontos para tomarem conta de uma importante parte da cena sul americana. Tonaco, André Moret e Luciano Scheffer destacaria, outros estão entrando no estilo, porém já possuem importantes suportes como Wilian Kraupp e Campaner, e há nomes que são peça chave por serem excelentes DJs que a cena busca sempre, como a Vic Emotion, Isadora e Carla Cimino, além do Stenx também. Todos tem sua importância e cumprem uma demanda de mercado em diferentes momentos, seja pela região que estão, seja pelo que podem oferecer em termos musicais.

Como você tem percebido o crescimento do estilo a nível global? Acreditas que também há uma volta ao mainstream?
O progressive house teve muita força na metade dos anos 90 até 2010, foram basicamente 15 anos em que o estilo rivalizou com o trance dividindo grandes palcos e sendo o primeiro estilo a explodir no Reino Único com vendas de CDs compilados após a era do vinil. Depois houve muita confusão com o surgimento do EDM, que levou o termo Progressive para si, prejudicando toda uma cena por alguns anos. Alguns pioneiros deste estilo até hoje não gostam de ser associados somente ao termo ‘’progressive house’’.
Como era nos anos 2000 acredito estar um pouco longe se voltar, pois o Melodic House cumpre esse papel atualmente, de ser um som sofisticado e capaz de lotar grandes arenas, o progressive house moderno que vemos no bearport é um som mais preenchido e mental, algo que é mais difícil de ser mainstream.
Claro que há sempre exceções, e ela se chama Argentina, o que ocorre lá é algo de outro nível, na verdade, parece que eles nunca saíram daquela era dos anos 2000, o público novo sempre foi muito bem educado pelos promoters, que sempre continuaram a levar novos e pioneiros do estilo para lá, independente de seus momentos a nível global. Parece que o som mais mental e introspectivo é algo muito enraizado neles.
A nível mundial ainda assim temos visto coisas incríveis acontecendo, como pistas de progresssive house lotadas em eventos como Loveland, além de clubes importantes como Space Miami, Stereo Montreal e claro, nosso Warung, que sempre se manteve fiel a esse estilo. No ultimo ano, as noites relevantes do clube foram com Hernan e Sasha & Digweed, o mesmo ocorreu no Surreal com o Guy J.
Vai acontecer em agosto um festival 100% dedicado ao estilo na Croácia, o Balance, que já anunciou um line-up dos sonhos para quem gosta do estilo. Isso era algo que realmente estava faltando, pois, outros estilos tem festivais focados a muitos anos. O Creamfields fazia esse papel no passado, mas o festival em si também perdeu muita força e tenta se reinventar.
Para fechar, qual artista devemos mais ficar de olho em 2025 e quais as novidades?
Todos nossos artistas de Epicenter! Rsrsrs. Mas, brincadeiras à parte, vou destacar o Tonaco, que está com muitas grandes coisas a nível internacional para anunciar. De novidade, posso falar que teremos eventos show case da agência, e estaremos ocupando as pistas de grandes clubes do país em breve, fiquem conectados!