Hanna Haïs é um dos grandes nomes do Afro House, com uma trajetória que inclui além de dezenas de apresentações em diversos países da África, o suporte de lendas como Laurent Garnier, Black Coffee e uma legião de grandes artistas.
Seu mais recente lançamento é a colaboração com os produtores alemães Dante T e Mario Da Ragnio que resultou em “Wekena”, um Afro Tech denso e hipnótico lançado pelo selo Donkela Records. O som traz uma fusão de influências e experiências, explorando novas possibilidades dentro do gênero e logo de cara entrou para o chart de Best New Afro House: February 2025, do Beatport.
Aos recém chegados e chegadas, Hanna Haïs, artista francesa com mais de duas décadas de carreira, se destaca como uma figura proeminente na cena global da música eletrônica. Desde sua exposição inicial à música em uma família de artistas até sua evolução como produtora, DJ e vocalista respeitada, sua trajetória reflete uma conexão profunda com a música, inovação e colaboração.
Nascida em uma família de músicos, Haïs cresceu cercada por criatividade. Sua formação incentivou uma afinidade natural pela auto expressão, explorando sua voz e experimentando diferentes estilos artísticos. Com o tempo, essa base se tornou a essência de sua abordagem multifacetada à música.
Suas colaborações com figuras renomadas como Larry Heard (Mr. Fingers), Matthias Heilbronn, Jamie Lewis, Ralf GUM, Manoo e Boddhi Satva, aliadas a lançamentos em selos influentes como Defected e MoBlack, evidenciam sua versatilidade e habilidade. A capacidade de Haïs de fundir suas raízes francesas com influências globais consolidou sua posição no cenário da música eletrônica, especialmente no Afro House e Afrotech.
A influência da música africana tornou-se cada vez mais significativa em seu trabalho. Inspirada por sua herança norte-africana e sua exposição a um vasto repertório de música africana, Haïs passou a colaborar com vocalistas e produtores africanos e essas interações a levaram a explorar os sons da África do Sul e além, marcando sua transição para uma posição de destaque no Afrotech.
Suas turnês globais também desempenharam um papel crucial em sua trajetória. De performances eletrizantes em Luanda, Angola, a eventos de grande escala em Lagos, Nigéria, Haïs demonstra constantemente sua habilidade de se conectar com públicos diversos. Essas experiências enriqueceram ainda mais sua arte, permitindo-lhe mesclar elementos tradicionais com sons eletrônicos contemporâneos.
Para saber mais sobre sua carreira, lançamentos e muito mais, Nazen Carneiro entrevistou a artista, e você pode conferir na coluna tudobeats, publicada com exclusividade pela revista de música eletrônica do Brasil, a House Mag!
House Mag: Muito obrigado, Hanna Haïs, por essa entrevista, é uma honra te receber aqui. Você acabou de lançar “Wekena” com os produtores alemães Dante T. e Mario Da Regnio. Comente um pouco sobre a track, por gentileza:
Muito obrigada, eu que agradeço pela oportunidade de falar com os brasileiros =D Veja… “Wekena” tem basslines marcantes, percussões ricas e vocais atmosféricos. A track começa com um groove característico do Afro Tech e vai ganhando camadas, criando um clima envolvente que mistura novidade e nostalgia. Inspirada nos tons hipnóticos de “A Forest”, do The Cure, a faixa equilibra uma vibe sombria com energia de pista, feita para os momentos mais intensos da noite.
House Mag: Sem dúvida… E há mais colaborações como essa a caminho?
Estou trabalhando em uma nova faixa com KingDonna. Já fizemos uma no verão passado, que ficou ótima, e acho que essa nova também pode ser grande. Além disso, estou finalizando uma faixa com Idd Aziz, fiz um remix para Jerk House Connection e tenho algumas faixas solo a caminho.
House Mag: Agora indo lá no passado… Como foi trabalhar com Larry Heard no seu primeiro remix e de que forma isso influenciou sua carreira?
Trabalhar com Larry Heard foi um grande marco para mim. Ele é uma lenda. Eu já tinha escrito a música há alguns anos e, junto com o selo Distance, buscávamos um produtor. Como a Distance já havia lançado álbuns de Larry Heard, conseguimos essa conexão. Enviamos os vocais, e ele nos entregou dois remixes fantásticos. Quando o conheci pessoalmente, descobri que além de talentoso, ele é uma pessoa incrível.
O sucesso da faixa me permitiu seguir nesse caminho de cantar em francês sobre bases deep house. Isso também viabilizou a criação do meu primeiro álbum, com produtores de alto nível como Matthias Heilbronn, e a gravação em estúdios lendários como o de François Kevorkian.
House Mag: Que show! Agora, por gentileza, como você aborda essa fusão de elementos tradicionais africanos com batidas eletrônicas que caracterizam suas faixas?
Não estou conscientemente tentando mesclar elementos africanos com batidas eletrônicas em minhas faixas. Não sei se é porque faço isso há muito tempo ou simplesmente porque é o que realmente amo, mas o resultado final é que faço isso naturalmente. Não preciso forçar nada. Acho que isso é algo que as pessoas que gostam da minha música conseguem sentir—não sou falsa. Na minha opinião, não há nada pior para um artista do que ser falso.
House Mag: Como foi sua transição do House para o Afrotech?
Foi um processo gradual. Meu antigo selo, Distance, tinha uma gravadora-irmã chamada Sonodisc, que possuía um vasto catálogo de música africana. Nomes como Bob Sinclar e Ron Trent remixaram faixas desse acervo, o que despertou meu interesse. Além disso, meus pais nasceram no Norte da África, então eu sempre tive contato com esses sons.
Anos depois, comecei a trabalhar com artistas africanos e produtores sul-africanos, e minha segunda gravadora, Atal Music, passou a lançar cada vez mais faixas desse gênero. Foi uma evolução natural.
Foi um processo natural trabalhar com esses artistas e ver minha música sendo tocada por DJs na África do Sul, Angola, Nigéria, Senegal, Marrocos, Tanzânia, Costa do Marfim, Moçambique e além.
House Mag: O que inspirou sua transição da House Music para se tornar a Rainha do Afrotech?
Foi um processo lento. Voltando aos tempos da Distance, no início dos anos 2000, eles tinham um selo irmão chamado Sonodisc, que era um dos maiores selos de música africana do mundo, dando-lhes acesso a um vasto catálogo de música africana. Bob Sinclar, Ron Trent e Matthias Heilbronn remixaram faixas do catálogo da Sonodisc, lançadas pela Distance, e isso despertou meu interesse por esse estilo musical. Também preciso mencionar que meus pais nasceram no Norte da África, então cresci com uma forte apreciação pela música norte-africana.
Alguns anos depois, comecei a trabalhar com vocalistas e músicos africanos como Boddhi Stava, Hadja Kouyaté, Jacob ‘Yacoub’ Soubeiga e Aminata Kouyaté. Ao mesmo tempo, meu segundo selo, Atal Music, começou a lançar cada vez mais músicas de produtores sul-africanos—por volta de 2010, talvez até antes. Fui me tornando mais consciente da cena musical por lá, onde já era conhecida desde o meu primeiro single com Larry Heard.
Foi um processo natural trabalhar com esses artistas e ver minha música sendo tocada por DJs na África do Sul, Angola, Moçambique e além.
![](https://housemag.com.br/wp-content/uploads/2025/02/blackcoffee.jpg)
House Mag: Como você vê o futuro do Afro House e do Afrotech nos próximos anos?
Vejo o Afro House e o Afrotech continuando a evoluir e crescer nos próximos anos. Esses gêneros já tiveram um impacto significativo na cena global da música eletrônica. Acredito que será na África que eles realmente irão explodir. Já são enormes no Marrocos, mas precisam continuar crescendo no restante do Norte da África, como na Argélia e na Tunísia. Nunca toquei no Egito, mas tenho a impressão de que a cena está crescendo por lá também. A África Central também tem muito potencial.
Outro território-chave para o crescimento é a Índia. Já estive lá algumas vezes, e a cena é forte e vibrante, com muitos clubes, festas, promotores e frequentadores. Há também alguns produtores indianos começando a criar músicas interessantes.
House Mag: Como você equilibra DJing, produção e turnês enquanto mantém o fluxo criativo?
Produzo música quando não tenho apresentações, e quando tenho um show, foco nisso. Isso significa que escuto muita música e pratico DJing em casa, no meu próprio equipamento.
House Mag: Qual foi sua experiência mais marcante com as gravadoras?
Minha melhor experiência foi com meu primeiro selo, Distance. Eles eram muito bem-sucedidos na época, lançaram “Finally” de Kings of Tomorrow e trabalharam com nomes como Kevin Yost, Ron Trent e Chez Damier. Fico muito grata por terem acreditado em mim.
House Mag: Olhando para trás, como você sente que seu estilo evoluiu desde o seu single de estreia?
Comecei como cantora, depois me tornei compositora, em seguida DJ, e por fim produtora. Basicamente, aprendi as ferramentas do meu ofício aos poucos, ao longo do tempo. A evolução do meu estilo é um reflexo do que aprendi ao longo dos anos. Para mim, produzir é o ápice de tudo o que fiz desde que comecei a fazer música.
House Mag: Qual foi o show mais memorável da sua carreira?
Dois shows me marcaram muito: um em Luanda, Angola, onde toquei em um evento à beira-mar, e outro em Lagos, Nigéria, no evento Element House. Esse último reuniu cerca de 3.000 pessoas, e a energia foi incrível.
House Mag: Muito obrigado mais uma vez por essa entrevista, por gentileza, deixe uma mensagem para o público brasileiro:
Obrigada a vocês! Obrigada Brasil por essa cultura vibrante e música tão cativantes, espero que nos encontremos em breve!
Curtiu? A discografia de Hanna Haïs está disponível para DJs no Beaport e pronta para escutar em qualquer lugar através das plataformas digitais como o Spotify. Mais informações sobre Hanna Haïs e Donkela Music podem ser encontradas no Instagram @hannahaisparis @donkelamusic
Por Nazen Carneiro