Anhanguera Warehouse: Brasil em foco: já superamos o complexo de vira-lata na cena eletrônica?

O Brasil de acordo com dados de plataformas de streaming é o segundo país que mais consome música local no mundo. Apesar disso, na cena eletrônica, a validação internacional ainda parece ser um pré-requisito para que artistas brasileiros sejam devidamente respeitados em nosso país. Esse dilema nos é familiar. Nos primórdios do Anhanguera, nossas faixas e sets tinham maior repercussão no exterior do que no Brasil. Mas isso aconteceu há 20 anos. Algo mudou de lá para cá?

Atualmente, vivemos um momento inédito em que diversos nomes da cena eletrônica brasileira têm conseguido furar a bolha e adentrar os circuitos internacionais, com talentos locais conquistando espaço nos line-ups de festivais globais e clubes tradicionais ao redor do mundo, muitas vezes dividindo ou até liderando os holofotes frente a nomes internacionais. Um exemplo notável é Mochakk, atualmente reconhecido como um fenômeno global que levou o house mais jackin’ e underground para a cena mainstream, acumulando impressionantes 1,5 milhão de ouvintes mensais no Spotify. 

Já o produtor Maz tem representado o Brasil na atual onda do afro house global, explorando sonoridades que conectam raízes brasileiras com um estilo em ascensão. Com mais de 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify, Maz tem consolidado seu nome na cena, enquanto faixas como o remix de “Banho de Folhas”, em parceria com Luedji Luna, se tornaram hits incontestáveis nos sets de ícones do gênero como Black Coffee.

Dito isso, não estamos falando apenas do mainstream. Ainda no universo do afro house, destaca-se o nome da DJ e produtora brasileira Curol, presença frequente em line-ups de grandes festivais e com inúmeras gigs internacionais, além de faixas e sets que acumulam milhões de plays nas plataformas de streaming.

Outro exemplo é a gigante Defected Records, um dos bastiões da house music mundial, que há tempos reconheceu o talento de brasileiros como Vintage Culture, que já era um ícone em ascensão antes de firmar parceria com a gravadora. Com mais de 8 milhões de ouvintes mensais nas plataformas de streaming, Vintage Culture consolidou seu alcance global, tornando-se um verdadeiro fenômeno cultural brasileiro.

Ainda falando sobre a Defected, mais recentemente, a gravadora ampliou seu suporte a uma nova geração de DJs brasileiros, destacando nomes como Aline Rocha e a dupla From House to Disco, formada por Bruna Ferreira e Lívia Lanzoni.

A validação internacional, no entanto, continua a ser um ponto de inflexão no reconhecimento interno. Em 2025, Alok segue como o artista brasileiro mais ouvido no exterior, ao lado de Anitta, a maior em alcance na cena pop nacional. Essa conquista, embora significativa, reforça a impressão de que a valorização interna, por vezes, ainda depende do aval global.

Essa tendência não se restringe à música. No cinema, o recente Globo de Ouro conquistado por Fernanda Torres pela sua atuação em Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, resultou em um aumento de 33% no público brasileiro nos cinemas na semana seguinte ao prêmio. Essa dinâmica parece indicar que o complexo de vira-lata, criticado por Nelson Rodrigues, ainda paira sobre a cultura nacional, mesmo em tempos de grandes conquistas.

Por fim, talvez 2025 seja o ano de repensarmos e reescrevermos essa história. A cena eletrônica brasileira não pode ser medida apenas pelos números do Spotify e das demais plataformas de streaming, mas é evidente que está mais madura, autêntica e globalizada do que nunca. Com artistas que brilham tanto em clubes underground quanto em palcos mainstream, o Brasil precisa deixar de ser refém de aprovações externas. A validação já não deveria ser uma condição, mas sim um reflexo do talento que, finalmente, aprendemos a reconhecer como nosso.

Mochakk – Jealous (Live at Circoloco OFFSónar Barcelona)

Mochakk apresenta seu hit em um dos festivais mais relevantes da Europa.

Maz, Luedji Luna – Banho de Folhas (Maz Remix)

Um remix que conectou o Brasil com o Afro House globalmente.

Vintage Culture – It Is What It Is (feat. Elise LeGrow)

Tech house com a assinatura da DFTD, divisão da Defected que assina os releases de Vintage Culture.

Alok & Anitta – Looking For Love

Dois gigantes brasileiros juntos em um hit de projeção internacional.

Por Anhanguera

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