O Amsterdam Dance Event é, para mim, a melhor época do ano. Durante uma semana poderosa, Amsterdã se transforma no centro global da música eletrônica, reunindo as maiores marcas do mercado e tudo o que amo: networking, palestras, festas incríveis, grandes amigos, artistas e parceiros.
Este ano marcou minha décima participação, mas foi uma das mais especiais. Pela primeira vez, fui convidada como palestrante, apresentando um painel sobre como crescer na cena brasileira ao lado de Marcelo Madueño, profissional que admiro profundamente. E tive a honra de mediar outros dois painéis de grande relevância: um sobre o lançamento do álbum em homenagem a Ayrton Senna, que reuniu artistas e DJs de várias nacionalidades, e outro sobre diversidade, com a presença de talentosas artistas globais como Slim Soledad, TOCCORORO e ALADA. “É muito importante pensar sobre diversidade, mas também que as empresas estejam dispostas a fazer o seu trabalho corretamente. Caso contrário, você pode fazer um festival somente com artistas pretos, mas se não tiverem pessoas pretas trabalhando no evento, provavelmente nós sofreremos racismo. Então é importante ter treinamento dentro dos setores para que a base seja segura e aconchegante para todos”, afirmou ALADA durante o painel.
O ADE é um espaço diverso. Há quem vá fechar negócios, quem vá tocar e quem vai apenas curtir os eventos. Para nós, que trabalhamos com música eletrônica, o desafio é conciliar tudo isso — criar conteúdo, marcar reuniões e ainda aproveitar as festas. Normalmente, vou credenciada pela House Mag, cobrindo o evento para a revista, além de captar clientes para minha agência de assessoria de imprensa, a The BOREAL Agency.
No entanto, este ano, com a responsabilidade de conduzir três painéis de extrema importância —todos em inglês e para os maiores players do mercado eletrônico global— me dediquei mais a isso, focando em networking e na experiência de representar o Brasil em um evento de tamanha magnitude.
Foi incrível ver tantos brasileiros em destaque, sejam clientes da minha agência ou outros artistas que brilham cada vez mais no cenário global. Um exemplo é a festa da Kaligo Records, do DJ Melgazzo, realizada no domingo à noite, que tradicionalmente encerra o ciclo dessa grande conferência.Cada participante vive o ADE de uma maneira única. Por isso, reuni depoimentos de alguns dos profissionais da música eletrônica brasileira presentes este ano. Compartilharam experiências, aprendizados e dicas valiosas para quem deseja participar. Confira o que eles têm a dizer:
“O maior insight que tiro deste ADE é que as conexões acontecem de forma natural. Então, uma dica que dou é ir com a mente aberta para ter novas experiências, conhecer pessoas. Não tente abraçar tudo e use transporte público, porque Uber é muito caro. Pelo que conversei durante a conferência, o hard groove e o euro trance vêm crescendo bastante. Das festas, fui no DGTL e gostei bastante do Caribou. Não conhecia a banda e com certeza quero ver de novo.” Acid Asian, artista.
“Primeira vez e fiquei encantada. A quantidade de festas acontecendo ao mesmo tempo é impressionante, e ali senti a importância da música eletrônica. Fui a eventos de labels como Exhale, Awakenings, Drumcode e Unreal, vivenciando diversas vertentes do techno. Destaque para Kiki, que fez uma festa gratuita no Gashouder; e Awakenings com ingressos esgotados em cinco minutos. ADE é o lugar perfeito para conhecer grandes labels e DJs. Foi incrível!” Anna Maura, Technera Memes.
“É um ambiente para conectar-se com profissionais, artistas inspiradores e referências, tudo de forma acessível. Essa proximidade coloca você no centro das inovações e colaborações. O que mais me marcou foi o networking. Fiz contatos valiosos que já impulsionam novos projetos, como minha futura label de festas, NANT, fruto de parcerias nascidas durante a conferência. Os painéis também são incríveis para atualização tecnológica, e as festas trazem experiências para todos os gostos. Um momento especial foi o long set do Mahmut Orhan. Seu som, com mistura fluida e afro house intenso, inspira muito meu trabalho. Ainda toquei em uma boat party, que foi incrível!” Annëto, artista.
“Um grande aprendizado é obter uma perspectiva ampla sobre o mercado e estar apto a mudanças. Percebi, em palestras, movimentações e novos posicionamentos de empresas, grandes players e artistas buscando se conectar com o público da nova geração. Para quem vai pela primeira vez, é essencial planejar a programação e estar aberto a tendências. O evento reúne diversos conteúdos e proporciona uma intensa troca de experiências. Com certeza, voltarei no próximo ano.” Carla Cimino, marketing Entourage Artists.
“O maior insight foi a proximidade com os artistas de afro do mundo inteiro, principalmente os africanos. Tive oportunidade de trocar ideias com todos para entender como é esta cena em outros lugares já com essa cultura mais antiga, sem ser no hype de agora. Com isso pude conhecer diversos setores que posso atuar, tanto com gravadoras e eventos como demais movimentos. Não comprei o passe do ADE, então todos os encontros que fiz foram externos das conferências; mas ano que vem quero comprar. A dica que dou é se programem, pois lá tem muita coisa e chegando tem mais ainda.” Curol, artista.
“Muitas coisas práticas poderiam ser ditas, como vá preparado para andar muito, dormir pouco e ter uma avalanche de conteúdo para consumir. Mas acho que meu maior insight dos anos que frequento o ADE é ‘vá com a cabeça e coração abertos para o que vai acontecer’. A imersão na cultura eletrônica e os encontros ao acaso com outras pessoas da cena são a grande magia do evento.” Diogo Nomad, especialista em marketing.
“O que me chamou atenção foi a quantidade de artistas e eventos; a maioria dando certo. É mais um sinal que o mercado vive um momento de fortes ‘nichos’ dentro da música eletrônica. Desde o hard style ao minimal techno, drum n’ bass e muitos outros, estamos vendo núcleos de sucesso aparecendo cada vez mais. Neste contexto, acho que o mundo das gravadoras tem mudado rapidamente, de editoras e principalmente de agências de booking pequenas. A lição para novos entrantes é criar suas próprias marcas, ecossistemas e times. A velha guarda tem segurado o poder de todo jeito, mas é viável desde que você tenha um ‘propósito’ claro para seu público, seja consistente na entrega, e que consiga criar desde cedo uma base de fãs engajada. Meu principal sentimento no ADE foi que o ‘novo mundo’ está chegando. Muitos não estão ligados e poucos estão antecipando grandes mudanças de comportamento, consumo, tecnologia e muito mais. Quem estiver preparado vai ter vantagens competitivas.” Edo van Duijn, diretor criativo BULLDOZER NETWORK.
“Essa foi a sexta vez que fui ao ADE, e percebo cada vez mais que temos conhecimento, público e ferramentas para desenvolver uma cena tão forte quanto qualquer outra. Em 2015 havia dúvidas, mas as conquistas dos nossos artistas provam essa capacidade. Nesta edição, ficou claro que precisamos seguir firmes, apostando no novo. Conheci artistas sul-coreanos que veem o Brasil como referência, o que abre portas para colaborações. Em 2025, planeje bem os painéis e chegue cedo nos mais disputados!” Felippe Senne, manager.
“Ainda existe uma forte carência por metodologias e aplicação de processos mais estruturados em diversas áreas do mercado, desde a criação de experiências transformacionais e ritualísticas, proporcionar acessibilidade aos eventos e até como se analisar um P&L de forma construtiva. Minha dica para o ADE 2025: ficar atento aos painéis de inovação e construção de comunidades. Melhor evento: Mochakk Calling, pois ele representa a ascensão de uma nova onda de artistas brasileiros na Europa.” Marcelo Madueño, produtor de eventos.
“É uma experiência que combina aprendizado, networking e inspiração. O maior insight foi perceber como o mercado está evoluindo constantemente. Eventos como Awakenings se destacam pelo equilíbrio entre lotação e conforto. O set do Pan-Pot foi marcante, com groove e energia alinhados ao meu estilo. Recomendo a todos do nosso meio comparecerem ao ADE, pois é o melhor lugar do mundo para estar por dentro das tendências.” Melgazzo, artista e label manager.
“Acho que um grande aprendizado é a vivência do networking. Fala-se muito sobre isso, mas lá é de forma intensa. Uma dica para quem pretende ir ao ADE é estudar a programação e fazer um cronograma com tudo que quer participar. É muita coisa e certamente você terá que fazer escolhas. E a performance que mais chamou a minha atenção foi a da Miss Monique, no Awakenings. Ela fez o set mais pesado que já a vi tocar e foi muito foda!” Mila Journé, artista.
“O ADE é um curso intensivo sobre a indústria da música eletrônica e o meu maior aprendizado foi a importância do contato direto com os sujeitos da cena, sejam A&Rs, promoters etc. Voltamos com várias propostas de publishers e até uma possibilidade de co-gerenciamento internacional. Planeje os contatos que você deseja, pois lá é o melhor lugar para ter um tête-à-tête e abreviar meses de conversas por e-mail. A apresentação que mais gostei foi da Mila Journée, na festa do Vintage. Entregou um set com IDs dela que sairão em 2025 e com aquela energia que a caracteriza.” Si Oliveira, manager.
Por Gábi Loschi