O dia mundial do DJ começou a ser celebrado em 2002 pela World DJ Fund e pela Nordoff Robbins Music Therapy – instituição que trata pessoas doentes através da música – com o fim de que toda renda de clubs, DJs, rádios e órgãos relacionados ganhos durante a semana seja doado. Desde então todo dia 09/03 é uma data importante para nós amantes da música eletrônica. DJ é aquela pessoa capaz de reunir pessoas para vê-lo apresentar uma seleção especial de músicas. É aquele que melhora um dia ruim ou que te faz ter a noite mais inesquecível da sua vida com uma curadoria musical impecável.
Essa profissão é muito bela, espalha boas vibrações nas pistas e celebra momentos marcantes.
Entretanto, o que grande parte do público não vê, são as barreiras encontradas pelos profissionais. Sobretudo, aqueles que estão no início em busca de suas primeiras chances ou daqueles que são DJs locais, que tocam em eventos de suas cidades prioritariamente.
Em fevereiro, realizamos uma pesquisa e tivemos a participação de quase 300 DJs/produtores musicais. Pedimos para aqueles que se sentissem confortáveis, enviarem relatos de situações que já aconteceram com eles durante a caminhada na tentativa de ser um profissional da música.
Algumas situações foram citadas mais de uma vez, mostrando que acontecem com vários DJs pelo Brasil, quando são contratados para tocar em alguns eventos, infelizmente. Os relatos mais frequentes são:
- Casas/produtores desligando o som antes do tempo previsto, interrompendo a apresentação do artista no meio;
- Ar de superioridade ou falta de educação de DJs headliner do evento;
- Festas em que o público pede para que o DJ toque outro estilo musical, ou até mesmo o produtor pede. Isso acontece principalmente em eventos que tocam vários estilos na mesma noite ou os DJs são open format;
- Pagamento de cachê atrasado ou até mesmo NÃO pagar o artista pelo seu trabalho;
- Achar que o artista está cobrando caro;
- Serem negadas condições básicas para trabalho como alimentação e comida.
- DJs terem que vender ingresso para conseguir um horário melhor no line up, ou até mesmo terem que comercializar uma certa quantidade de ingressos em seu link para poderem tocar na festa;
As situações citadas acima acontecem mais do que deveriam e mostram uma realidade do mercado que não é muito falada, principalmente fora dos grandes centros.
Os DJs que estamos familiarizados a ver em grandes festivais, na mídia, nas páginas de redes sociais são a minoria dessa profissão que amamos tanto, infelizmente. Mas mesmo eles passam por situações complicadas. Um artigo publicado na BBC aponta que após a pandemia no Reino Unido, 83% dos músicos estavam ganhando menos de £ 1.000 por mês, e 22% estavam considerando desistir completamente da música. A pesquisa foi realizada com 929 profissionais.
Esses números evidenciam os desafios de uma carreira na música e o objetivo deste artigo é mostrar, para quem nunca parou para pensar por este lado, o que os artistas passam para além do que está no hype.
Estamos acostumados a ver os DJs que somos fãs nos maiores palcos do mundo, com muito prestígio e ganhando prêmios, e muitas vezes esquecemos de olhar o outro lado da moeda.
Portanto, este é o dia para homenagearmos todos esses artistas, e também debater a realidade da profissão.
Na pesquisa que realizamos com nosso público, tivemos relatos de situações específicas que valem a pena serem divulgadas para exemplificar o que foi escrito até aqui.
Guilherme Rossi (@iamguilhermerossi) nos contou que, ainda no início de sua carreira, foi convidado a tocar em um bar de música eletrônica de São Paulo no horário de meia noite. Para sua surpresa, o DJ anterior disse que ‘’você não vai tocar não, sai daqui ou eu vou te bater’’. Guilherme ficou assustado, mas conseguiu se apresentar ao final da noite após resolver a situação com a pessoa que o contratou. Rossi começou a gostar de música eletrônica quando ouvia a rádio de um jogo que jogava na infância e desde então começou a se interessar pela discotecagem e produção e a fazer o que ama. ‘’Me apaixonei pela música eletrônica, sempre tive a curiosidade de saber como funcionava e em 2020 comecei a praticar’’, revela Guilherme.
Larcye (@larckye) trouxe um relato de um caso de racismo muito impactante. O DJ foi convidado pelo dono de uma boate que estava abrindo em Curitiba para conhecê-la no dia da inauguração. Ele chegou antes e estava curtindo a festa até que 4 seguranças se aproximaram dele e o intimidaram perguntando porque ele estava ali e afirmaram que ele estava assustando as pessoas, que se afastaram. Quando o dono do local chegou o levou para o camarote quando ficou sabendo da situação, mas nunca convidou Larckye para tocar no club. O DJ conta que sua motivação para seguir a profissão é “P.L.U.R – peace, love, unity, respect – é essa a definição de música eletrônica pra mim. Fazer com que todos na pista sejam iguais e felizes”.
Sofia Franco (@soulfie_) conta sobre o desrespeito por parte de colegas de profissão homens com seu trabalho. Segundo a DJ, ela já ouviu comentários como ‘’ah, mas isso eu também faço’’, olhares de cima pra baixo e até DJs homens pedindo para carregadr vape em seu computador. Sofia já chegou a chorar durante uma apresentação por alguns minutos. ‘’Eu amo ver as pessoas presentes no momento. Sentindo a música e deixando ela entrar no corpo. A música conecta as pessoas’’, disse Sofia sobre sua motivação para ser DJ.
O DJ Bad Guy Inc (@badguyincmusic) relata que após muitos anos tentando ganhar a vida na noite de São Paulo estava tocando e fazendo o warm up em um club de São Paulo quando o produtor do evento abaixou o volume do som alegando que não queria atrapalhar o head liner daquele dia e disse que ‘’ninguém veio para te ver’’. O que motiva Bad Guy a discotecar é ‘’sentir a pista interagir comigo, a emoção de influenciar diversas pessoas e mandar uma mensagem, sentir que estou passando a mesma emoção de quando escolhi aquela track’’.
Alysson Lang (@alysson.74) disse que em uma turnê com amigos DJs estava em Curitiba para tocar em uma danceteria quando uma dupla de DJs entrou para tocar na hora que deveria ser dele – a dupla estava marcada para tocar depois – e ao tentar argumentar recebeu uma cotovelada deles. Então, procurou o dono do local e disse que estava indo registrar ocorrência por agressão, mas após conversarem a dupla foi retirada do palco e Alysson conseguiu tocar seu set de hardstyle. Lang afirma que o que o motiva a ser DJ ‘’é a música. O que ela representa. Mixar é um desafio e traz uma emoção sem igual.’’
Vitor Santana (@elevadissimo_) falou sobre sua estreia em um club como DJ, ele iria abrir a festa. Seu set estava marcado para às 21h e ele chegou às 20h. Vitor afirma que estava tudo desorganizado e o dono do evento chegou só 22h30. Sua apresentação não tinha retorno, som com problemas e desligava a todo momento. ‘’DJ iniciante em cachê só humilhação’’, completa o DJ. ‘’Minha motivação é a música em si, e o poder que ela tem de transformar as pessoas. Eu moldei minha vida pela música”, contou Vitor sobre a importância da música em sua vida e porque se tornou DJ.
Observa-se que os profissionais que se aventuram na jornada de DJ encontram dificuldades e percalços pela trajetória, assim como em todas as carreiras. O que motiva e continua dando força a eles é a paixão pela música e por transmitir isso para a pista. É a maior consagração para um DJ ter o retorno positivo da pista, vê-la vibrando a cada música mixada e isso supera qualquer adversidade que venha pelo caminho.
É um caminho árduo e longo, que com perseverança será gratificante e realizador, por isso admiramos tanto quando estamos na pista e vemos uma baita apresentação. Aquele show que conta uma história, que transmite vários sentimentos e no final fica aquele gostinho de quero mais. Essa é a essência de ser um DJ e que faz todas as dificuldades valerem a pena quando recebe os aplausos do público.
Parabéns a todos os DJs que nos fazem dançar, hoje é o seu dia!
Por Adriano Canestri