Segundo o jornal O Globo, cerca de 15 mil mulheres marcharam pelas ruas de Nova York, exigindo condições dignas de trabalho, salários justos e direito ao voto, no ano de 1908. Em 1910, inspirada pelo movimento de luta à igualdade, Clara Zetkin, ativista comunista, defensora dos direitos das mulheres e membro do Partido Comunista Alemão, propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher.
A BBC News cita outro acontecimento, onde em 1917 mulheres russas se reuniram em protesto, reivindicando condições dignas de trabalho e vida, luta contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, o dia ficou conhecido como o dia “Paz e Pão”.
Esses períodos históricos são sempre mencionados para descrever de uma maneira mais clara a origem do Dia Internacional Das Mulheres, que só foi de fato considerado em 1975, ano em que a data foi instituída pela ONU. Mas sabemos bem que a luta das mulheres se dá desde os primórdios da humanidade, onde “elas” sempre foram invalidadas, assediadas e discriminadas.
Essa introdução é apenas para chegarmos aos tempos atuais e entender como o sistema patriarcal ainda impera. A história é bem mais complexa e atinge várias esferas, inclusive a trabalhista, social e claro que isso ocorre também dentro dos moldes da música eletrônica.
Os cachês, os horários nos lineups, os suportes, os espaços nos backstages e na produção de eventos, isso nos dá evidências claras do quanto o mercado ainda precisa evoluir e valorizar as figuras femininas que estão fazendo história por aí. Veja bem, para uma DJ feminina, produtora mulher, uma booker ou uma manager alcançar o mesmo sucesso que um homem normalmente alcança, ela precisa mostrar o dobro e acumular uma enxurrada de conquistas.
Agora imagine a cena: uma revolução feminina dentro de um mercado predominante masculino, onde elas se destacam e fazem parte da história de igual pra igual, e contribuem tanto quanto eles para disseminação das batidas pulsantes pelos quatro cantos do Brasil.
Parece distante para você? Mesmo em meio aos desafios maiores, assédios, machismo e preconceitos, elas conseguiram!
No Dia Internacional Da Mulher escolhemos essa matéria para mostrar um pouco mais da história da música eletrônica, contada através de uma linha do tempo feminina. Fizemos uma pesquisa para apontar algumas das muitas figuras femininas espalhadas pelas décadas de história, mas é claro que aqui vamos falar de algumas e vão faltar muitas outras que serão citadas pela House Mag em outras ocasiões.
Década de 60
Em 1960 a bossa nova de Tom Jobim e João Gilberto chamava atenção do mundo, em 1964 tivemos o golpe Militar e neste período a música era uma das principais formas de se expressar e também foi duramente censurada. Em 1965 foi realizado o primeiro festival da Música Popular Brasileira, transmitido pela TV Excelsior.
Em meio a tudo isso, a história da música eletrônica também já vinha sendo escrita aqui no Brasil.
Jocy de Oliveira – A primeira performance de música eletrônica no Brasil ocorreu, segundo a história, em 1961, o chamado “Apague meu Spot Light”. Criado pela compositora, pianista, escritora e pioneira no desenvolvimento de um trabalho multimídia no país, a curitibana Joyce de Oliveira.
Em entrevista para o Estadão ela conta que na época conseguiu que a Philips trouxesse o equipamento da Holanda, que envolveu 12 caixas de som distribuídas pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Desde então, compôs e apresentou nove óperas e tem seu trabalho reconhecido ao redor do mundo como pioneiro da eletroacústica – tecnologia usada para manipular os timbres criando algo que mais tarde poderia se tornar música eletrônica.
Sônia Abreu– Com 13 anos, Sônia Abreu já tocava por aí, segundo ela própria compartilhou em entrevista no Programa do Jô. Lá em 1960, pensar em seguir a carreira de DJ era algo incomum e também ia contra o que a família de Sônia pensava, seu pai por sua vez, queria que ela seguisse a carreira da medicina, assim como ele, mas a paixão pela música sempre falou mais alto.
Sônia foi uma das precursoras da importação de músicas, além de DJ ela também era radialistas, trabalhou 10 anos na Globo na época da Rádio Excelsior, entrou na Excelsior em 1968, onde já era DJ. Foi a primeira mulher brasileira da noite paulistana, tocando em 1977 na famosa discoteca “Papagaio Disco Club”, do empresário Ricardo Amaral. Na mesma época iniciou sua coluna sobre música na Revista POP.
Sônia recebeu Disco de Ouro pela vendagem da canção “Automatic Lover” de D.D.Jackson. Em 80 criou o “Ondas Tropicais”, rádio móvel pelo qual circulou o país. A primeira DJ mulher brasileira encerrou seu legado em 26 de agosto de 2019.
Década de 70
A era disco, onde a discoteca dominava o país e nessa época a TV Globo estreou a novela “Dancin’n Days” que acabou impulsionando o estilo pelo Brasil. Segundo o UOL, em 1978 60% dos compactos e LPs que lideraram as paradas estavam associados à discoteca.
Lady Zu- Considerada por Chacrinha como a “Donna Summer” brasileira, Lady Zu foi um dos ícones da era disco music no Brasil, com hits dançantes como “Fêmea Brasileira” e o álbum “A Noite Vai Chegar”, considerado atualmente um dos expoentes da soul music brasileira. Em 2002, a cantora lançou o disco “Number One”, pela Abril Music, que foi remixado pelo DJ Felipe Venâncio, também presenteando a diva com um remix para “Eu Vou Te Provar”.
Década de 80
As batidas pulsantes da música eletrônica começaram a evoluir em meados dos anos 80 no Brasil.
Maria Rita Stumpf- Cantora e compositora gaúcha, ficou conhecida como uma das pioneiras da música eletrônica no país por trabalhos como a Brasileira (1988) e Mapa das Nuvens (1993). Afastada dos palcos por décadas, em 2017 o trabalho da brasileira foi redescoberto, ano em que duas faixas da artista foram revividas por John Gomez em uma compilação lançada pela Music From Memory.
Através da compilação, o duo Millos Kaiser e Augusto Trepanado, da festa Selvagem, entregaram uma releitura para a faixa Cântico Brasileiro Nº 3 – Kamaiurá, criada em 1978, que saiu pelo EP Brasileira Remixes em outubro de 2017, pelo selo Selva Discos.
Década de 90
Nos anos 90 o movimento clubber obteve força no estado de São Paulo, fazendo surgir as primeiras casas noturnas voltadas para o gênero, como a Hell’s Club, Over Night, Arena, Palacios, Contra-Mão, Toco, Sound Factory e Nation.
Érika Palomino- Em 1988 a jornalista, consultora de moda, diretora criativa, entra na Folha de S.Paulo e em 1992 a estreia de sua coluna “Noite Ilustrada” ganha repercussão e Érika Palomino passa a escrever sobre moda, comportamento e a vida noturna da cidade de São Paulo. A coluna traz visibilidade para a comunidade LGBT, a música eletrônica e a liberdade sexual de forma ainda pouco abordada na época.
Anos depois, em 1999, Érika lança o livro “Babado Forte”, retratando a importância de clubes como o Nation, Massivo, Sra. Krawitz e Hell’s na formação da cena de São Paulo.
Andrea Gram- Em 1992 Andrea Gram começou a discotecar e se tornou uma das mais emblemáticas do techno nacional. Citada em 2020 como a “rainha do underground” pelo portal Music Non Stop, da jornalista Claudia Assef, a artista foi uma das pioneiras do estilo no país reverberando o gênero em seu lendário Club Alien, em São Paulo.
A brasileira segue discotecando e é um exemplo para as DJs mulheres brasileiras.
Ana (Petduo)- Em 1994 Ana Gelfei já trabalhava como hostess no Hell’s, um dos clubs que ajudaram a construir a história da música clubber em São Paulo, presente no livro “Babado Forte” da já citada jornalista Érika Palomino. Na década de 90 ao lado de seu companheiro David deram vida ao Petduo, se tornando um dos projetos referência do hard techno no Brasil. Imagina só, uma mulher em um projeto que optou por uma sonoridade muitas vezes considerada pesada demais pra pista.
Ana se tornou um exemplo para muitas mulheres, hoje ela e David vivem em Berlim e ainda comandam as pistas com suas pedradas.
Paula Chalup– Outro nome no pioneirismo do techno em São Paulo e uma das figuras centrais da cena eletrônica underground no país. Em 1996 a artista foi premiada como DJ revelação na premiação Melhores da Noite Ilustrada, da Folha de São Paulo. A brasileira certamente estará nos livros de história quando se falar do Hell´s Club e das noites de sábados da Lov.e.
Seu legado de quase três décadas a colocou como uma das mais importantes DJs do país e ainda hoje a produtora leva sua experiência musical para as pistas.
Gaía Passarelli– Pouco se falava em música eletrônica, mas ainda assim havia um site dedicado a espalhar a palavra das sonoridades pulsantes. Gaía Passarelli foi uma das idealizadoras do rraurl, que nasceu em 1997, como o primeiro portal dedicado ao estilo no Brasil. A jornalista foi uma das responsáveis por levar informação para o público e fãs das batidas da eletrônica naquela época, onde atuou por 14 anos, até se tornar apresentadora na MTV Brasil.
Ekanta Jake- Em 1994 foi quando Ekanta Jake teve o primeiro contato com a cena psytrance, nessa época morava em Amsterdam. Em 1998 viveu sua primeira experiência como DJ e no mesmo ano retornou para o Brasil e ali começou a tocar nas festas.
Como se não bastasse, naquela época uma mulher comandando a pista com um som psicodélico, a artista foi além. Ao lado de seu ex-companheiro Juarez Petrillo, criaram um dos maiores festivais da América Latina, o Universo Paralello.
A brasileira é uma figura importante no pioneirismo do psytrance nacional e referência para uma legião de DJs mulheres que se dedicam ao estilo. Ok, sem deixar de mencionar que é mãe de Alok e Bhaskar.
Eli Iwasa– Outra figura feminina que é inspiração para muitas é a Eli Iwasa. Apaixonada por música e com uma bela coleção de discos, lá em 1999 a japa já assumia as noites de sexta feira do Lov.e Club, a Technova, que em 2002 foi votada pelo segundo ano consecutivo como melhor noite fixa pela Noite Ilustrada, de Erika Palomino.
Com espírito empreendedor, Iwasa re-inaugurou o saudoso Clube Kraft em Campinas, hoje além de DJ ainda administra seus 5 empreendimentos, no interior de São Paulo– Caos, Gate 22, Pista 2002, Galeria 1212 e Club 88 – e também é dona da Closer ao lado de outras mulheres.
Anos 2000
Entramos agora na era do Summer Eletrohits e o programa TVZ, da Multishow. Nessa época as sonoridades dançantes tomavam conta do rádio e a essa altura boa parte da população já entendia um pouco mais o que era música eletrônica, e a partir de então começamos a caminhar em direção a evolução que vemos hoje na cena em geral.
Tânia Saraiva- A brasileira Tânia Saraiva sempre esteve conectada à música. De acordo com a Editora Leader, começou sua carreira como designer gráfico no material de divulgação das primeiras festas de música eletrônica do Brasil. No início dos anos 2000 ela iniciou sua carreira como booker, agenciando artistas na primeira agência brasileira de DJs, a HYPNO.
Tânia também fez parte da maior agência da América Latina, a Plus Network. Em 2004 ela fundou a Remix e em 2005 deu vida à Tune Agency, que se tornou uma das principais do Brasil.
BLANCAh- No início dos anos 2000 Patrícia Laus, recebeu o primeiro convite para discotecar em um clube que iria inaugurar em Florianópolis. Nessa época ela já trabalhava em uma rádio como locutora e programadora, onde aprendeu a fazer seleção musical, criar sequências de playlists e a expor o seu gosto na música, como ela mesmo revela em entrevista para o portal Beat for Beat. Formada em artes visuais, em 2023 lançou a TechnoBird, a primeira rádio 24 horas no YouTube assinada por uma artista brasileira. É presença frequente no circuito europeu de clubes e festivais, especialmente em Berlim, é uma das primeiras brasileiras a lançar techno etéreo, lançou por labels alemães fazendo sucesso por lá e mostrando um trabalho artístico completo e muito consistente, ultrapassando a esfera musical.
Ana Biazin – Estamos diante de uma das principais promoters que a cena eletrônica já viu, Ana Biazin foi por muitos anos curadora da Moving, as noites de quinta-feira do famoso D-EDGE. Em entrevista para o Alataj, a brasileira revelou que sua jornada pela música eletrônica aconteceu sem querer. Depois de deixar o emprego, na época começou a pegar uns jobs e iniciou como telemarketing, divulgação e hostess na área de eventos, até iniciar sua jornada com o D-EDGE, lá em 2002.
Marian Flow– Há mais de duas décadas mergulhada neste universo, Marian Flow é outra mulher que faz parte da história da música eletrônica, principalmente a carioca. A DJ, produtora e empresária iniciou sua carreira ainda na década de 90, mas em 2000 se tornou parte do projeto Flow & Zeo, onde consagrou mais de 20 anos de trajetória.
Uma das responsáveis por fomentar a cultura eletrônica no Rio, já produziu as festas noon, Music is Magic e Watergate in Rio. Comandando as pistas, Flow já passou pelos principais clubs e festivais, como D-Edge, Warung, Watergate Berlim, Rock in Rio, Tomorrowland, XXXperience. Explorando
Camila Giamelaro– A relação da Camila Giamelaro com a música eletrônica não é de agora. Lá no início dos anos 2000 ela criou o blog Caixa Direta, que foi importante para a disseminação da cultura da música eletrônica no Brasil. A brasileira também foi coordenadora de conteúdo e mídias sociais da DJ Ban, escreveu para muitos sites de música eletrônica, trabalhou na Tune Agency e na Clash Club, além de labels internacionais como a Bunny Tiger.
Para o We GO Out, Camila conta que fundou sua própria agência, a GIG Agency, que oferecia serviços de social media, assessoria de imprensa e consultoria de imagem e comunicação para DJs, produtores, eventos e marcas envolvidas na música eletrônica. O projeto BINARYH veio em 2016 e ao lado de seu parceiro, Rene Castanho, se tornou a maior referência do techno melódico carregando o título de “embaixador” do gênero no Brasil, e claro, vem conquistando o mercado. Ao lado do parceiro, Camilinha também comanda a KØNTACT, label party que estreou em 2022, e a DECØDED, nova gravadora do duo lançada no mercado em dezembro de 2023.
Inê Goa – Outra mulher de destaque da cena psytrance é a Inê Goa, uma das DJs mulheres pioneiras do goa trance no Brasil. Ao longo de sua trajetória, Inê conquistou o respeito na cena se tornando uma das artistas destaques do estilo no país.
Para além do comando da pista, a brasileira também está por trás da produção de grandes eventos, entre eles Árvore da Vida, Shivanéris, Shiva Shankar e Goa 604.
Denise Klein– Uma das grandes disseminadoras da cultura da música eletrônica no país. Denise Klein morou em Israel, fez faculdade lá, mas ainda não frequentava eventos de música eletrônica. Em participação no Housecast, podcast da House Mag, Denise compartilhou que em 2010, em um navio da Tribe on Board, enquanto se comunicava com o Astrix, foi convidada por Du Serena para viajar com os artistas como Skazi, Infected Mushroom e o próprio Astrix.
Antes disso, de 2001 a 2009, a brasileira já atuava como promoter de festas. Depois de passar por algumas agências importantes da década, como a Remix, veio a ideia de abrir a Nova Bookings, idealizada por Felipe Senne e Albie, que fez uma fusão com a Entourage em 2022, onde a profissional entrou em 2018. Hoje Denise retornou para a Plusnetwork, agência onde ela já tinha uma história.
Donna– Débora Carvalho ou apenas Donna é uma das maiores referências da cena brasiliense, sendo a primeira DJ mulher a se destacar em Brasília no ano 2000. Seu repertório traz as sonoridades do hip hop, ragga/dancehall, afro house, kuduro, miami bass, bass music, entre outras referências da música negra de pista.
É curadora do palco Radiofusão de Arte Urbana dentro do Festival Satélite 061, já venceu o Prêmio Melhor DJ no Women’s Music Event 2018, representou o festival no Mapas Mercado Cultural, em Tenerife/Espanha, além de uma outra legião de conquistas significativas dentro do mercado musical.
ANNA- A ANNA dispensa apresentações, afinal estamos falando da maior DJ e produtora brasileira da atualidade. Natural de Amparo, interior de São Paulo, começou a tocar aos 14 anos, se apresentando no clube do pai, o SIX, entre 2000 e 2002.
Em 2015 a artista se mudou para Barcelona para se aproximar da cena eletrônica européia, as coisas foram acontecendo e aos poucos ela foi se consolidando no mercado internacional. ANNA é uma das personas mais importantes quando falamos de superação e dedicação, ela conquistou o mundo lá fora e só então recebeu o reconhecimento que merecia aqui no Brasil. Inclusive ela acaba de lançar seu documentário contando mão da trajetória que trilhou mundialmente.
Claudia Assef- A jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70. Seu livro, “Todo DJ Já Sambou – A História do Disc-Jóquei no Brasil” foi lançado em 2003 com eventos em várias cidades do país e vendeu mais de 25 mil cópias. É autora também de “Ondas Tropicais” e “O Barulho da Lua”, trabalhou nos principais jornais, revistas e sites brasileiros, entre eles Folha De S. Paulo, do qual foi correspondente internacional em Paris, e O Estado de S. Paulo, onde manteve uma coluna musical, entre outros.
A brasileira esteve envolvida na curadoria de eventos como Sónar São Paulo, Skol Beats, Nokia Trends, Motomix, Virada Cultural, SP na Rua, festival SOMA, Dia da Música Eletrônica de São Paulo 2018 e 2019, Absolut Nights, New Faces on The Block, Território Hip Hop, ASA (British Council e Oi Futuro), entre outros. É sócia-fundadora do WME – Women’s Music Event – projeto com foco na mulher na música, incluindo uma conferência e uma premiação anual e está à frente do site Music Non Stop, um dos portais de música e cultura pop mais relevantes do país. Claudia é desde 2019 coordenadora do Centro Cultura Olido em SP, onde em abril de 2021 inaugurou a Galeria do DJ, primeiro espaço público da América Latina dedicado ao universo da discotecagem. Claudia também é DJ e produtora musical.
Vivi Seixas– Mergulhada no mundo da arte, Vivi Seixas, filha de Raul Seixas, iniciou a carreira de DJ em 2003 e três anos depois entrou para sua primeira agência, a Smart Biz. Vivi precisou enfrentar muitos desafios no início da carreira, além de toda a pressão por ser filha de um dos maiores intérpretes da história, mas com determinação e foco ela conseguiu e em 2015 foi premiada como a melhor DJ feminina de Deep House e Nu Disco pelo DJ Sound Awards. A brasileira ainda está na ativa e segue explorando as nuances da música eletrônica.
Ju Cavalcanti- Conhecida como a primeira-dama da e-music no Nordeste é considerada uma das maiores produtoras de eventos – representando bem a ala feminina no segmento – Juliana Cavalcanti trabalha há 19 anos no ramo, sendo responsável por grandes festivais em Pernambuco.
Juliana é responsável por levar para Pernambuco grandes nomes, como David Guetta, Armin Van Buuren, Hardwell, Martin Garrix, Tiesto, Dimitri Vegas e Like Mike, Alok, Vintage Culture, entre tantos outros colocando o Nordeste na rota das grandes turnês dos TOP DJs internacionais. Sob o comando de sua produtora Reality, criou um novo festival chamado Noronha Weekend com grandes atrações nacionais e entra no calendário anual do arquipélago de Fernando de Noronha em outubro além do pós réveillon na ilha.
Paula Miranda– Trabalhando com produção de eventos desde 2005, Paula Miranda atua como DJ e produtora artística do Privilège Búzios e também como gerente de desenvolvimento do clube carioca e manager de artistas. Desde 2008 ela se dedica inteiramente à música eletrônica, a brasileira começou no Privilège como hostess, na primeira unidade do clube em Juiz de Fora. Em 2017, ela passou a gerenciar a carreira do projeto do carioca Rodrigo Vilhena, conhecido como KORVO, e três anos mais tarde do FFLORA, de Felipe Flora. Além disso, Paula é produtora das festas Cabaret da Miranda e FUSCA, e também é inspiração para outras mulheres que querem atuar na cena.
Anny B.– Há mais de 16 anos no mercado da música eletrônica, Anny B. é um dos destaques da cena nordestina. Em junho de 2023, a brasileira foi a primeira mulher do Nordeste a entrar no line-up da XXXPERIENCE.
Comandando as pistas e variando entre as vertentes do house ao techno, Anny B. já foi considerada pela House Mag a protagonista do estilo no Nordeste.
Milena Paiva- A jornada profissional de Milly se inicia em 2006, quando decide trabalhar como promoter de um clube em Campinas. Em entrevista para a Eletrovibez ela compartilha que no período de 2007 a 2010 atuou como booker da agência Trade Sound, e também participava de forma ativa como stage manager nos festivais do grupo No Limits (XXXPerience e Orbital).
Em sociedade com a Monique Dardenne, em 2011 nasce a agência de DJS, Modular Management. Milena também foi produtora artística no time do XXXperience Festival, isso em 2017, e no ano seguinte, entrou na parte logística dos artistas que tocavam no Laroc Club. Dois anos depois, em 2019, ela assumiu a produção artística das 3 casas do grupo – Laroc, Ame e Folk Valley.
Priscila Prestes- Profissional ativa no mercado da música eletrônica brasileira há 20 anos. Sua primeira agência de DJS, a 24bit Management, foi aberta em 2011, cuidando da carreira de um número limitado de artistas, sendo grande parte produtores curitibanos em ascensão. Em 2016iniciou junto com Dani Souto e Manolo Neto, a Discoteca Odara, que se tornou um dos grandes pilares da cena underground de Curitiba. Em 2017, da fusão da 24bit com a Analog, surgiu a Alliance Artists – uma agência com projeção nacional e internacional, que cuida da carreira de mais de 20 artistas, além de responsável pela curadoria do Warung Beach Club em Itajaí. Logo após a pandemia, iniciou o trabalho como manager da artista Eli Iwasa, e juntas criaram a Closer – festa que busca equalizar a presença feminina em line ups, assim como o re.source – um projeto que busca juntar artes visuais e música em uma experiência imersiva.
Pripa Miranda– Em 2001 Priscila Miranda começa a frequentar festas de psytrance e ali decidiu que queria participar mais daquele universo. Pripa, como é conhecida, é uma força motriz da cena nordestina, começou sua carreira como fotógrafa, depois começou a atuar com massoterapia, se tornando pioneira da prática dentro dos eventos da região. Através do networkings, a brasileira foi se conectando a outros profissionais da cena até abrir sua primeira agência, a já extinta CP Bookings, logo após veio a R8 Music, que segue até hoje na ativa.
Pripa passou por algumas agências ao longo de 10 anos de atuação, entre elas a Infinity Bookings, umas das mais renomadas do psytrance. Hoje ela integra também o projeto BlackHills, que segue pelas nuances do psytechno.
Aline Rocha– Aline Rocha– Com mais de 19 anos de carreira, em 2020 Aline Rocha conquistou um grande feito que a colocou de vez no radar. A brasileira estava entre os quatro DJS escolhidos para tocar no Defected Virtual Festival. Em 2021 e 2022 a artista se apresentou nas edições do festival na Croácia, e seu talento a levou a assinar com a Defected Records. Aline é uma das maiores artistas de house music do Brasil, com grandes feitos e uma linda trajetória com muitas conquistas significativas, é inspiração para muitas mulheres na cena eletrônica.
Amanda Chang- Com 15 anos de carreira, Amanda Chang começou como DJ em 2009 e por sete anos foi residente do Privilège Brasil. Em 2016, já mergulhada nas sonoridades do techno de Berlim, a brasileira entrou como residente do D-EDGE. Amanda é destaque quando o assunto são os sintetizadores modulares, inclusive em 2022 na primeira apresentação ao vivo do seu projeto Chang Rodrigues, ela levou para o Rock in Rio sete peças de hardware: Sistema modular (módulos escolhidos por ela através de diferentes fabricantes de sintetizadores), ARP Sequencer, Arturia MiniBrute 2S, Moog DFAM, Vermona Retroverb, TC Electronic Delay e Digitakt.
Monique Dardenne– Outra mulher que faz parte da história da música eletrônica é Monique Dardenne, ela começou fazendo bookings para o Propuls. Sua jornada segue pela agência Carambola, onde ficou até 2012 e no mesmo ano abre sua agência, a Modular, o fim da sociedade rolou por volta de 2013.
Daí surge um novo projeto, MD/Agency, mais focada em management e outras frentes. De 2014 a 2017, foi diretora da web TV inglesa Boiler Room no Brasil, segundo a Revista Glamour. Em 2016, ao lado de Claudia Assef, Dardenne deu vida ao Women’s Music Event, a primeira conferência mais estruturada de mulheres na música que vem destacando muitas figuras femininas no mundo dos negócios do entretenimento.
Groove Delight– O projeto de Ké Fernandes vem desde 2009 conquistando espaço e destaque na cena eletrônica nacional. A brasileira é considerada uma das maiores referências no seu estilo na atualidade, que carrega influências do rock, techno, electro e house, se tornando inspiração para muitas mulheres que sonham em se tornar DJs. Em mais de 15 anos de carreira, a produtora já se apresentou em alguns dos maiores festivais do Brasil, como Rock In Rio, EDC, Lollapalooza, Xxxperience, entre outros.
Nana Torres- Eleita a DJ Revelação pela premiação da Rio Music Conference, em 2013, e a melhor DJ Mulher do DJ Sound Awards 2016, Nana Torres é uma das figuras centrais da cena eletrônica carioca. Sua carreira artística teve início em 2009, quando participou de um projeto de inauguração de um clube underground, o Fosfobox, de lá pra cá a brasileira conquistou mercado nacional. Nana já passou por diversos países, entre eles Espanha, Alemanha, França, Dublin e Portugal e fez uma apresentação histórica no festival Burning Man no deserto de Nevada, nos EUA.
Década de 2010
Devochka– Devochka revelou para o TMDQA que em 2010 precisou completar sua renda para cobrir despesas e por isso começou a tocar. Em 2013, a artista iniciou na produção musical e se dedicou por inteiro a isso. Além do projeto solo, ela também fez parte do Two Birds, formado pela brasileira ao lado do mexicano Mandrágora, que chegou ao fim em 2018. Devochka é presença forte na cena eletrônica brasileira e já passou por palcos em países como Alemanha, França, Suíça, Finlândia, Hungria, Egito e México. É conhecida por seus sets autorais e tracks intensas que já agitaram multidões em festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Festival Planeta Brasil, Só Track Boa e LoveBase (Berlim).
Cashu (Carolina Schuzter) e Carneosso (Laura Diaz)– Constituindo a história dos grandes eventos da década atual, há muitas festas que representam resistência e representatividade. Nessa camada encontramos a Cashu e Carneosso, as mentes por trás da criação da Mamba Negra.
Foto: Carolina Schutzer
A primeira Mamba rolou em 2013, numa cobertura no apê de Carolina e contou com a presença de quase 400 pessoas. Hoje é uma das mais importantes festas de inclusão LGBTQIA+ do circuito underground.
Foto: Laura Dias
Amanda Mussi – Com várias tours pela Europa, Amanda Mussi foi uma das primeiras mulheres brasileiras a tocar no Berghain. DJ, produtora, curadora e dona de gravadora e agência Amanda Mussi tem trabalhado duro para trazer algo fresco e novo para a pista de dança nos últimos 11 anos. Amanda é conhecida como forte presença na cena musical queer underground de São Paulo onde realizou festa mensal durante 5 anos e hoje é residente de alguns dos melhores eventos do Brasil: Mamba Negra, Dando e Kode (Rio); ela frequentemente aparece como convidada em eventos como Boiler Room, DGTL, Gop Tun Festival, Photon, Tansta e muitos outros. Atualmente mora entre Berlim, São Paulo e Assunção (Paraguai) onde cresceu e tem forte conexão com a cena local e também é residente do Clube Tango.
Jeniffer Ávila– No meio da comunicação também há figuras femininas muito importantes. Informar e trazer artigos coerentes e com embasamento também faz parte da história da música eletrônica.
Assim chegamos a Jeniffer Avila, a boss da House Mag, que assumiu a direção em 2014 e vem desempenhando um papel importante a frente de uma das revistas mais premiadas do Brasil.
Barja– Em 2008 Thais Barja foi semifinalista do programa “Ídolos” da Record, mas seu interesse pela música surgiu quando ela ainda era criança. DJ, produtora e cantora, em entrevista para o We Go Out, Barja revela que começou a gravar algumas coisas com o Gabe há cerca de 15 anos atrás, mas nunca haviam lançado. Em 2014 conhece o Alok e lança pela Universal Music, sua jornada como DJ começa em 2016. A brasileira conquistou espaço, em 2022 foi uma das apresentadoras escaladas para a cobertura do Rock in Rio, onde mostrou a cultura da eletrônica no Multishow e Canal Bis.
Ananda Nobre– Com uma década de carreira, Ananda Nobre é outro nome importante da cena do Rio de Janeiro. Em 2016 a brasileira criou a Kode, para abrir acessos a outros artistas que estão começando, e também dar visibilidade e voz para artistas trans, LGBTQIA+, queers. Considerada a rainha clubber carioca, se consolidou como referência desse cenário, fazendo um intercâmbio com a prolífica vizinhança de São Paulo, e chegando a alguns dos clubes e eventos mais badalados do mundo, como o famigerado Berghain e a festa portuguesa MINA.
Ana Posada- Indo para o sul do Brasil, encontramos a Ana Posada, co-criadora do coletivo Arruaça. Fundada em 2014, a Arruaça foi uma das festas que disseminou a cultura de pista eletrônica nas ruas de Porto Alegre.
Dois anos depois, em 2016, o coletivo da Arruaça conseguiu autorização da prefeitura para realizar uma festa aberta na Praça da Alfândega, no centro histórico da cidade. O evento reuniu cerca de 6 mil pessoas e desde então tem mostrado sua importância no papel de espalhar a cultura da cena eletrônica pela região.
Jode Seraphim e Bruna Antero– A dedicação para levar informações sérias ao público da música eletrônica também está no sangue das meninas do We Go Out. Depois de 10 anos trabalhando no mercado corporativo, Bruna e Jode decidiram que era hora empreender, em 2016.
O We Go Out surgiu como um projeto de duas amigas apaixonadas por festas, festivais de música e viagens, e o amor foi tanto que elas decidiram tornar seu estilo de vida em uma empresa.
Lorena Sá- Outra figura feminina do jornalismo eletrônico é Lorena Sá, que vem desenvolvendo um trabalho importante à frente da Eletro Vibez. Depois de viver a experiência do Tomorrowland em 2015, Lorena e sua amiga Julia Moreno decidiram criar o portal, que se tornou um dos mais conceituados da atualidade, levando informação de qualidade ao público da cena.
Suelen Mesmo– Também integrando a nova fase da música eletrônica gaúcha, encontramos Suelen Mesmo. Para além de sua vivência como público e mais tarde como DJ, a brasileira é pertencente a outro coletivo importante de Porto Alegre.
Co-Fundadora do Turmalina, o coletivo criado em 2017 percebeu que ali faltava algo, e desde então atua como agente transformador do cenário local, reforçando a visibilidade e o talento de artistas pretos, dissidentes e periféricos.
Gábi Loschi- Jornalista de formação e especialista em marketing digital, Gábi Loschi já foi indicada ao prêmio de Melhor Jornalista Especializada pelo BRMC. Já viajou o mundo cobrindo festivais em diversos países desde 2010 e, em 2017, fundou a The Boreal Agency, uma das primeiras agências de assessoria e marketing especializada em música eletrônica liderada por uma mulher e uma das principais agências de assessoria de imprensa especializadas da atualidade.
Com espírito empreendedor e mente inquieta, durante a pandemia deu vida a Boreal Music Academy, trazendo para os artistas musicais uma visão profissional de como as coisas acontecem nos bastidores do mercado e passando todo o seu conhecimento em marketing, branding e lançamento musical estratégico, ajudando centenas de artistas a crescerem na música com estratégias desenvolvidas ao longo de mais de uma década. Já foi diretora de marketing de startups, fundou seu próprio site em Nova York, e viajou o mundo entrevistando diversos artistas, documentando a cena e escrevendo para veículos como Folha de São Paulo e House Mag.
Década de 2020
Carola (Carolina Alcântara)– A gaúcha Carolina Alcântara traz garra, força e determinação para o palco. Conhecida pelo seu projeto Carola, foi a primeira mulher do mundo a lançar pela label do astro holandês Martin Garrix a STMPD RCRDS, em 2021. Estreou na Bélgica, sendo a primeira brasileira preta a se apresentar no Tomorrowland, em 2022, e ano passado retornou ao evento, desta vez comandando o Mainstage do festival belga.
A artista também levou a bandeira do Brasil para o EDC Las Vegas e o Lollapalooza Chicago, neste último se juntando a uma lista bem seleta de artistas que já pisaram no palco da matriz do Lolla.
Valentina Luz– DJ, modelo, performer, trans e preta, Valentina Luz é sem sombra de dúvidas uma prova da força e resistência dentro da música eletrônica. Ganhou destaque dançando e tocando na Mamba Negra, onde se tornou residente. Em 2022 foi premiada como ”Melhor DJ” pela WME Awards. A brasileira já passou por pistas como Tomorrowland Brasil, Carl Cox no RJ, D-Edge RJ, Time Warp Brasil e Alemanha, Lollapalooza. Luz já se apresentou em Asunción, no Paraguai, e Santiago, no Chile. Na Europa, se apresentou em eventos como DGTL Amsterdam e Modern Festival na Finlândia e cidades como Belgrado, Chamonix, Lisboa e Berlim, no lendário club Watergate, além Hï Ibiza.
Curol (Carolina Ribeiro)- Nome em ascensão na cena eletrônica, Curol é com certeza outra figura que precisa ser citada nesta matéria. A DJ e produtora também mostra a potência da mulher preta LGBTQIA+ como resistência no mercado.
Destaque do afro house, a brasileira vem chamando a atenção das gravadoras gringas e se tornou a primeira mulher brasileira a lançar pela All Day I Dream, label de Lee Burridge. Top 1 no Beatport, turnês internacionais, primeira DJ e produtora brasileira a apresentar um set exclusivo para o programa Soundsystem, da BBC Radio 1, essas são só algumas conquistas da artista.
Ufa, olha só quanta mina f#da faz parte da história da música eletrônica nacional. Na verdade, poderíamos citar muitas outras, mas vamos guardá-las para outra ocasião.
Mais importante ainda do que mencionar todas elas, é deixar claro o papel fundamental da mulher na construção dessa trajetória e não invalidar a sua presença nos registros históricos.
Feliz Dia Internacional Das Mulheres :)
Por Iasmim Guedes