Equipe House Mag
O Top #100 DJs brasileiros de 2023 foi revelado no último dia 01/02 e a partir dele é possível ter noção de algumas movimentações que ocorreram no mercado ao longo do último ano, e também nos permite arriscar algumas projeções para 2024.
Lembrando que a posição final de cada artista é definida por pontuação, sendo 80% do peso pela votação popular e 20% dividido entre vendas no Beatport nos últimos 12 meses e ouvintes mensais do Spotify.
Um dos maiores destaques é o número de mulheres na lista. São 16 nomes entre projetos solo e duo’s. Se compararmos com 2022 o aumento foi de dois nomes, sendo assim o Top com DJs brasileiros da House Mag 2023 o que possui a maior presença de nomes femininos na lista. Ainda não é o avanço que buscamos, mas lentamente e com luta, parece que a cena está avançando – e o trabalho de nossas DJs e produtoras sendo cada dia mais reconhecido.
Temos Eli Iwasa com uma carreira consolidada e vivendo seu auge, enquanto Mila Journée aparece pela primeira vez na lista após ser abraçada por ninguém mais ninguém menos que Solomun em 2023. Tivemos ANNA que no ano passado se aproximou do público brasileiro e saltou da #15 posição para o #7 lugar no Top #100 geral, e foi a primeira mulher a ficar no Top #1 da House Mag na lista de DJs alternativos.
Se voltarmos um pouquinho mais no tempo, em 2017, antes do hiato que o Top deu de 5 anos, vemos que apenas 3 mulheres figuravam na lista (que na época ainda era um Top #50). Percentualmente, vemos a diferença nitidamente quando as mulheres em 2017 representavam 6% da lista, 5 anos depois em 2022 já saltou para 14% e em 2023 para 16%.
As mulheres brasileiras estão bem posicionadas no mercado, e ainda há espaço para novos talentos e para que elas cresçam muito mais. Um Top de 100 nomes, no qual o maior peso é o da votação popular, mostra que o trabalho dos DJs masculinos ainda está em maior número em destaque pelo público, porém, o mesmo está se abrindo mais ano a ano ao trabalho dessas mulheres, reconhecendo-as como parte fundamental da música eletrônica no Brasil.
Em relação aos artistas que produzem e tocam psytrance, o número se manteve o mesmo: 7. A cena das raves no Brasil sempre foi muito forte, na verdade foi onde tudo começou por aqui. Temos artistas sensacionais desse meio nacionais como Blazy, Aura Vortex e Vegas que exportam o psy brasileiro para o mundo, entretanto falta mais representatividade dessa parcela tão grande do mercado em um ranking com votação popular.
Olhando para o TOP #10 vemos alguns movimentos interessantes. Inicialmente, nota-se uma manutenção de 80% dos nomes: Vintage Culture, Alok, Mochakk, Illusionize, Victor Lou, Dubdogz, Gabe e Zac. Saem KVSH (indo para #27) e Vegas (indo para #11) e entram Anna (em 2022 estava em #15) e Beltran (em 2022 estava em #21).
Quais conclusões podemos tirar disso?
Os artistas que se mantiveram já são consolidados há anos no mercado e têm uma grande base de fãs, nenhuma surpresa até aqui. Da parte de quem entra, vemos Beltran e ANNA figurando pela primeira vez no Top #10 no lugar de artistas que são muito queridos pelo público. Vegas é um dos maiores do psytrance, tocou no Tomorrowland Bélgica e fez tour por vários países em 2023. KVSH também tem uma base muito forte, e diversos sucessos nos últimos anos. Não era uma tarefa simples superar esses dois em uma votação aberta ao público.
ANNA já é uma DJ gigante e conhecida em todo mundo, entretanto precisava estreitar laços com o público de seu país, uma vez que ficou boa parte da carreira na Europa. Se apresentou no Tomorrowland Brasil ao lado daquele que talvez tenha a maior base de fãs do país: Vintage Culture. E com um set espetacular que mostrou muita sintonia entre eles, foi abraçada instantaneamente pelo público, tanto os que já eram fãs quanto os que ainda não acompanhavam tanto o trabalho da brasileira. A DJ também terá mais datas pelo Brasil este ano.
Beltran em 2022 teve ascensão meteórica com o sucesso de ‘Smack Yo’ e provou desde então não ter sido um fogo de palha. Uma evolução consistente durante 2023 foi nítida. O brasileiro de 22 anos passou por todos os 4 cantos do país, fez tours na Europa e Estados Unidos, lançou mais uma música pela Solid Grooves e o hit ‘Moonlight’ no final do ano ao lado de Mandragora. Apesar de jovem, está consolidado e já é muito querido pelo público e por onde passa está garimpando fãs novos.
Desde 2015, Vintage Culture e Alok disputam a primeira colocação, sendo Alok #1 em 2015. Lukas assume a ponta em 2017. O que chama a atenção no Top de 2023 é que dessa vez Alok cai para a #3 colocação, dando espaço para Mochakk em #2.
Em termos de número, é muito cristalino para quem acompanha o mercado que Alok está no topo das paradas mundiais a cada lançamento e também nos números gerais ao final dos anos em streamings e seguidores. Ele foi o artista brasileiro mais ouvido fora do Brasil em 2023, ele realmente furou a bolha e é um dos maiores do mundo. Indiscutível seu tamanho no mercado da música. No entanto, para o público que votou no ranking, o público mais nichado da música eletrônica e que acompanha de perto os eventos e as movimentações do mercado, o segundo lugar esse ano foi colocado para outro artista:
Mochakk.
Assumir a segunda colocação mostra o trabalho consistente que este artista faz, se adaptando muito bem aos locais e festivais em que toca, com muito carisma e presença de palco, além do estilo único de se apresentar, tanto na forma de se expressar quanto de interagir com a pista. Desde o retorno dos eventos após a pandemia, Pedro Maia vem se consolidando como DJ e hoje podemos afirmar sem dúvidas: Mochakk está entre os melhores do mundo, e de acordo com o público da House Mag, é o segundo lugar dentro da cena.
Em relação ao #1 lugar, Vintage Culture é um dos DJs no mundo que mais trabalha sua base e se conecta com os fãs. Este fato, somado a sua qualidade de shows, músicas, festivais que realiza, produtos que vende para os fãs o credenciam ao primeiro lugar no coração do público de música eletrônica. O que mostra como seus fãs são engajados em sua causa é o número de comentários na publicação do Instagram que mostra que ele ficou em #1. Passa de 1000. O artista também brilhou internacionalmente ano passado, sendo o único brasileiro a ter residência no Hi Ibiza, por exemplo.
Agora, quando se trata de veteranos, nossa cena tem alguns nomes que merecem reverência como Renato Ratier. Mais de 25 anos no mercado, clubs relevantes espalhados por mais de uma cidade, que inclusive todos estiveram no Top #50 clubs, e este ano figurou em #3 no Top de DJs alternativos e #12 no Top geral, mostrando que seu trabalho como artista só vem crescendo ano a ano, com seu terceiro álbum de estúdio lançado e muitas gigs expressivas.
Gabe também se mantém no topo e mostra que continua muito querido pelo público, figurando em todas as listas do Top House Mag desde que começou em 2008.
Em um mercado tão cíclico e que surge com novos talentos a todo momento, é uma tarefa muito difícil se manter relevante por tanto tempo. O Brasil nos últimos anos vem sendo um dos maiores exportadores de novos talentos para o mundo e tem uma cena em franca ascensão, o que demanda a todo momento estudo e estar atualizado de acordo com as novas tendências.
É importante destacar que a campanha feita pelos clubs para a votação impulsionou e divulgou bastante o Top House Mag, o que mostra que os fãs desses locais também estão envolvidos na cena e de alguma forma, participando ativamente. O Top é também uma pesquisa sobre o mercado da música eletrônica brasileira.