Revelamos detalhes da produção do Time Warp Brasil em entrevista exclusiva com o time brasileiro


Por Gabriela Loschi

Foto de abertura: divulgação

O techno e o house mal completavam uma década de vida quando surgiu na graciosa Mannheim, sudoeste alemão, um festival cativante que desde o início apostou em belos cenários, decorações, efeitos visuais inovadores e cimentou-se com um line up estelar e uma experiência imersiva que é o que realmente se pode chamar de única. Uma combinação de elementos que levou o Time Warp a ser reconhecido no mundo inteiro por sua excelência, e por revistas do calibre da Mixmag inglesa como “o festival de techno mais espetacular e respeitado do mundo”. 

24 anos se passaram do início pra cá, e alguns países além da Alemanha já o receberam, como Holanda, Estados Unidos e nossos hermanos argentinos. Agora, o TW está prestes a se concretizar no Brasil, reunindo alguns dos artistas mais prestigiados do meio em uma celebração de dois dias. São Paulo, entre 2 e 3 de novembro, receberá a versão tupiniquim do festival com nomes como Sven Vath, Nina Kraviz, Amelie Lens, Maceo Plex, Derrick Carter, ANNA, Gui Boratto e mais de 20 talentos mundiais. Confira todas as informações aqui

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Mas a parte musical é apenas um dos pilares. Para fazer o evento acontecer, o time brasileiro visitou a matriz alemã, e entendeu que o Time Warp não precisa de uma locação “fora da caixa” para ser realizado; a experiência do festival está justamente dentro da caixa preta que no Brasil está sendo montada no Sambódromo do Anhembi. A experiência imersiva é o seu grande diferencial, através de uma cenografia desenvolvida internamente, em constante evolução e mutação, mas firme em sua essência em proporcionar uma viagem lúdica audiovisual e tecnológica em total sintonia com a linha musical apresentada. É um know how técnico e cultural diferente, e por isso mesmo muito especial de ver sendo replicado no país.

A fim de entender melhor todo esse delicado processo de produção, e como os padrões alemães foram mantidos ao mesmo tempo em que as particularidades brasileiras foram respeitadas, batemos um papo com a Entourage, agência responsável pela realização do evento em solo brasileiro. O sócio-diretor Guga Trevisani (eventos) e o gerente de eventos Marcelo Madueño (Madu) compartilharam novidades, dificuldades, e o conceito do Time Warp Brasil – um sonho nascido há mais de 10 anos, quando Marcelo Arditti visitou na Alemanha o Love Family Park, dos mesmos organzadores do Time Warp, a convite do Sven Vath. Ali brotou uma sementinha no sócio-diretor da Entourage que, aos 20 e poucos anos, quis logo de cara trazer o evento ao Brasil. Sendo o LFP um festival diurno, sem tanto apelo cenográfico, e que, segundo ele, não era do interesse dos organziadores exportar, a ideia foi nutrida ao longo de 12 anos e se tornou um plano efetivo há dois. 2018 é o ano da materialização deste projeto que, para a nossa sorte, já vislumbra incluisive suas próximas edições no país. 

Deguste a entrevista enquanto aquece o o corpo e a mente com os sets oficiais do festival no Soundcloud.


HM – Sendo a produção um ponto alto dos eventos da Entourage, como foi o processo construtivo entre vocês e a produção alemã sobre a experiência sensorial do primeiro Time Warp no Brasil? E o que jogou a favor e contra desde a sua concepção?

Marcelo Madueño (Madu) – O primeiro passo foi levar parte do time para a Alemanha. Não seria verossímil o suficiente pensar em “importar experiência” sem sentir ela na pele. Nossa forma de trabalhar fluiu muito bem desde o começo pois ambas produtoras têm uma visão similar sobre quais pontos são vitais para uma entrega de alto valor agregado. Segurança, atendimento e conforto são os principais cuidados, e o SHOW é o ponto alto. O grande ponto a favor foi o relacionamento da agência com a comunidade artística desse meio e com os próprios organizadores. Já o que jogou contra, invariavelmente, foi a economia do país, a oscilação cambial e a grande dificuldade de viabilizar financeiramente um projeto desses no Brasil.

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Time Warp 2018 na Alemanha – Foto: divulgação


HM – O que pra vocês foi indispensável manter da produção original? E quanta liberdade tiveram para produzir algo com a cara do Time Warp Brasil?

Madu – O projeto técnico da pista principal (Cave 2.0) é igual ao da produção original. A cenografia foi trazida de lá para São Paulo. A montagem será feita por nós e acompanhada pelo time alemão. O Time Warp Brasil já tem parte de sua própria identidade. Nessa primeira edição teremos dois dias de festival e um palco outdoor, desenhado pela Sala28 e com um toque de curadoria mais house. A metamorfose continuará nas próximas edições.


HM – Sobre o line up, vocês conseguiram construir a história artística que acreditam ser a mais adequada ao público brasileiro?

Guga Trevisani – Sim, nós olhamos para o modelo alemão e entendemos que para o Brasil musicalmente teríamos que formatar de uma forma um pouco diferente. E não só musicalmente, mas estruturalmente também. Não é a toa que temos uma pista open air e o palco principal, que é o Cave. Então musicalmente nós sentimos a necessidade de ter artistas mais puxados para o house, pois isso encaixa bem para o público brasileiro. E indo um pouco mais além, pensamos no formato, de apresentar esses artistas mais house como um stage open air, que não é o caso do Time Warp da edição alemã.


Design do The Cave 2.0 do Time Warp em 2014


HM – Pegando o processo desde o início, quais foram as maiores dificuldades e os maiores acertos?

Madu – Durante todo o projeto enfrentamos duas grandes dificuldades: o câmbio e a montagem da pista principal. O primeiro aconteceria em detrimento das eleições, por isso fizemos uma manobra de proteção cambial, permitindo que o line-up pudesse ser recheado de artistas de peso. Já sobre a pista principal, infelizmente não existe em São Paulo um espaço de eventos que tenha 15m de vão livre e ao mesmo tempo suporte todo o peso dos equipamentos de som, luz, vídeo e cenografia. Nossa solução foi construir uma mega tenda de 40m de largura por 65m de profundidade.  


HM – O que mais o público brasileiro irá experimentar no Time Warp Brasil em termos de estrutura?

Madu – Além das duas pistas, uma interna e outra a céu aberto revolta por containers, teremos um estúdio de tatuagem, loja da merchandise e praça de alimentação. Enquanto isso na pista de dança, pressão, qualidade sonora e “delays” para que todos até o fundo escutem muito bem. Do lado visual teremos Jaygo Bloom, VJ britânico que acompanhou Luke Slater (como Planetary Assault Systems) em sua tour mundial. Os operadores de luz são os mesmos do show alemão, enquanto dividem espaço com a Sala28 na pista externa. Para finalizar, efeitos especiais! Personagens incomuns nos eventos underground do Brasil darão mais dinâmica e brilho ao show, na medida certa.

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Time Warp 2018 na Alemanha – Foto: divulgação


HM – Agora uma visão pessoal, o que mais motiva vocês a trazerem, nesse momento, um dos maiores festivais de techno do mundo?

Guga – Independente de momento, a minha maior motivação desde que comecei nesse business é a realização. Eu nunca coloquei o momento como uma barreira para realização de algum projeto, embora talvez esse pensamento devesse prevalecer, já que ele é mais racional. Mas eu também não consigo me imaginar nessa indústria sem ter o emocional igual ou um pouco maior do que o racional, então pra mim o “realizar” é muito importante independente do momento. A gente acredita que o Time Warp é um dos festivais mais importantes deste segmento, e como a fundação da Entourage se deu com artistas underground – a gente começou assim – faltava para nós ter um projeto que fizesse sentido para esse tipo de público.


HM – Algo que não foi falado que vocês gostariam de destacar?

Madu – Ano que vem o Time Warp comemora 25 anos de história! A mesma paixão e dedicação nesta data emblemática estará conosco aqui no Brasil.


O Time Warp acontece nos dias 2 e 3 de novembro no Sambódromo do Anhembi. Ingressos do terceiro lote disponíveis aqui.



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