Por Alan Medeiros
No começo dessa década, um boom criativo na cena nacional revelou uma série de produtores que fizeram o começo de suas carreiras através de abordagens um tanto quanto criativas no Soundcloud. Na época de ouro da plataforma esses nomes construíram uma ótima base de fãs e com o passar dos anos tiveram maturidade suficiente para administrar isso de maneira inteligente ao ponto de hoje de estarem com suas carreiras muito bem encaminhadas.
Um desses nomes é o do paranaense Andre Gazolla, um dos responsáveis pela gravadora Pyramid Waves e dono de uma base de fãs que acompanha seu trabalho com a mesma intensidade que os seguidores de um rock star. O estilo de Gazolla é simples (no bom sentido) e extremamente potente na pista. Não por menos ele tem rodado as mais diversas festas do Brasil representando seu selo, que agora estreia no Chakra Club com direito a atração internacional – German Brigante, dono de releases em labels como Suara e Dirtybird.
A nosso convite, Andre Gazolla comentou o atual momento de sua carreira nessa entrevista exclusiva, às vésperas do evento mais importante da história da gravadora que comanda. Chega mais:
Olá, Andre! Certamente é um momento muito especial para Pyramid Waves assinar uma festa com German Brigante no line up. O que essa conquista representa pra vocês?
Essa conquista representa um novo ciclo para a gravadora. Assinar a nossa primeira festa com um artista como o German Bigante, que sempre foi uma grande referência para nós, é uma honra! Ainda mais em um club como o Chakra, que já fui residente e tive tantos momentos memoráveis em minhas apresentações. Estamos focados em fazer outros showcases no Brasil todo e esse primeiro é um grande passo. Tenho certeza que vai abrir muitas outras portas.
Você é um cara ativo na cena há alguns anos e tem acompanhado de perto as transformações do mercado. Focando mais na sua carreira do que na cena como um todo, como você avalia os últimos 12 meses de transformação?
Na minha percepção e pelo que tenho acompanhado, a cena está em constante transformação, ainda mais no Brasil. Aqui alguns artistas da música eletrônica se comportam como “rock stars” e isso tudo é bem recente. Se você quer realmente viver de música aqui, mesmo que seja no meio underground, é necessário investir em um bom marketing, estar por dentro de tudo que está acontecendo. Caso contrário fica pra trás, pois há uma grande demanda de novos DJs surgindo o tempo todo. No meu caso, por exemplo, nunca quis fazer o som da moda. Sempre tentei fazer que realmente gosto, mas para dar certo é preciso um certo diferencial.
Seu catálogo é formado por uma quantidade de releases bastante significativos. Entre tantos especiais, tem algum que você considera o ponto de virada da sua carreira?
Há sim! Em janeiro de 2017 fechei um EP com quatro músicas minhas na 303Lovers, gravadora que sempre acompanhei e uso como referência, que conta com dois grandes artistas como donos – Manuel de la Mare e Luigi Rocca. Pela primeira vez peguei o top tech house do Beatport. A responsável por isso foi a faixa “Recycle”. Além disso, comecei a ter suportes de alguns artistas de fora do país e recebei um vídeo do Waff b2b Nathan Barato tocando minha música “Hunt down” no Ultra Music Festival em Miami. Foi aí que aqui no Brasil começaram a ter mais respeito pelo meu trabalho.
Até aqui, o que você tira de melhor do aspecto humano da cena eletrônica? Você fez grandes amigos nesse circuito?
Tento sempre ver um lado positivo em quase tudo sobre a cena. Já passei por muitas dificuldades, mas acredito que tudo isso foi necessário para me preparar por tudo que passei e o que está por vir. No aspecto humano, vejo que existe uma grande diversidade no país, dependendo da região, a forma como te recebem, te tratam e até dançam muda muito e você vai aprendendo a lidar com esses diferentes tipos de pessoas e até situações. Isso de certa forma te deixa mais experiente para a vida. Eu mesmo fiz muitos amigos nessa caminhada, alguns não tenho mais tanto contato, mas toda vez que vejo é a mesma coisa. A pessoa não se identifica apenas com a minha música e sim com a minha pessoa. É isso que faz voltar naquele lugar, as pessoas começam a te seguir por seus valores e ideologias e te dá um certo impulso para querer ir além e seguir em frente. Pra mim esse lado humano é o que mais me interessa na cena, é nítido quando alguém está ali por amor no que faz, alguém que está seguindo seu coração.
Percebo que sua agenda é bastante intensa no interior de Estados como São Paulo e Paraná. Na sua visão, a cena do interior hoje se equipara com o que temos nos grandes centros?
Toco muito no interior dos Estados mesmo, apesar de hoje ter diminuído um pouco. Na minha visão a cena do interior ainda está em evolução, pois muitas vezes são pessoas que vão para festas de grande porte nas capitais e decidem criar núcleos e fazer festas. Por serem um pouco leigos e sem preparo acabam não tendo muito sucesso, mas existe sim aquelas pessoas que tentam manter a cena aquecida em sua região ao longo dos anos, por mais que seja difícil, por conta do público ser um pouco mais complicado de se trabalhar, ainda mais dentro do underground, tem muita gente tentando fazer acontecer no interior. Na maioria das vezes o tratamento que recebo em festas menores é muito melhor do que as festas grandes nas capitais. Da mesma forma que o respeito e o reconhecimento é nítido nessas festas do interior, e muitas vezes sou surpreendido por uma ótima organização. Isso faz valer a pena.
Para finalizar: aonde você se imagina daqui dez anos?
Me imagino viajando todo o mundo através da minha música, tocando ao lado dos maiores artistas da cena, com minha gravadora sendo reconhecida mundialmente, trabalhando com alguns eventos e ajudando os artistas que realmente querem fazer acontecer. Acredito que é possível melhorar o mundo e ajudar as pessoas através da música. Essa é a minha missão.