Por Gabriela Loschi
Foto Antonio Wolff
Já há um bom tempo Eli Iwasa tem sido ovacionada em cada pista que se propõe a entregar sua distinta seleção musical. E não são pistas quaisquer. A japa do techno já assumiu posições invejáveis em line ups dos maiores festivais e clubs do Brasil, como quando encerrou, ao amanhecer, a sequência Jamie Jones-Dixon-Kolombo, no Universo Paralello 2014. Ou quando mostrou sua destreza ao fechar com excelência a noite do b2b de Nina Kraviz e Marcel Dettmann no Club Caos, em Campinas.
Seu vasto conhecimento de pista, aquele que a transformou em uma das DJs mais requisitadas do Brasil, vem de uma longa trilhagem pela cena, desde que começou sua carreira, no fim da década de 90, em clubs como Lov.e. Suas habilidades como seletora musical, no entanto, vão muito além da discotecagem. Ela é uma das principais curadoras do país, estando à frente da escolha dos line ups dos Club 88 e do Club Caos, e grandes festas pelo interior paulista.
Com tanto bom gosto, não é de se estranhar que consiga transpor o talento de bombar pistas em belas histórias musicais contadas através de podcasts gravados. É o que provam os 60 minutos do seu mix lançado essa semana pela Red Bull Music Academy, em que ela resgatou sons, antigos e atuais, que embalaram sua trajetória. Eli participou da RBMA em 2003, na edição de Cape Town e agora, 15 anos mais tarde, juntou artistas como Anthony Rother, Tessuto, L_cio, Baby Ford, Maurizio e Thomas Brinkmann, além de uma música inédita do seu projeto com Marco A.S, Bleeping Sauce, num set delicioso e variado. Ela também forneceu dicas de como gravar um podcast poderoso.
1. O que você quer com este mix?
A primeira coisa que me vem à cabeça é o que quero contar através do set. Qual é a mensagem? A partir disso, sempre fica mais fácil escolher as músicas, e qual a construção e ritmo que você vai dar.
2. Quem vai ouvir?
Fundamental entender que estes sets atingem não só seus fãs, mas também o público da plataforma que vai divulgar seu mix. Ultimamente, tenho escolhido aquelas em que posso mostrar um pouco mais da minha trajetória, da minha bagagem musical, que me desafie, me tire da zona do conforto, e que acima de tudo, surpreenda o ouvinte. Para ouvir um set “normal” de pista, é melhor ir a uma das minhas gigs e estar imerso em toda experiência, né?
3. O fator humano
Sempre gravo meus sets em um set up normal de DJ: 2 ou 3 CDJS e um mixer – geralmente aqui no Club 88. Nada contra quem grava sets no Ableton Live, mas amo perceber que um mix foi gravado ao vivo, com o fator humano que traz calor para ele, que ele não é absolutamente perfeito, que você ouve o artista ajustando a virada ali no pitch. Sou bem chata para gravar, passo horas fazendo isto até chegar ao que julgo perfeito para aquele momento – fora que é muito mais divertido tocar e ir gravando, do que fazer isto no computador, na minha opinião.
4. O desapego
Assim que gravo o set, ouço uma, duas vezes, envio o mix, e esqueço ele. Se eu voltar a ouvir, sempre vou achar que poderia fazer isto ou aquilo melhor, que deveria ter escolhido outra música, e sei que isto vai me atormentar para sempre. Melhor entregar para o mundo (risos), e lembrar que no momento que gravou, ele era perfeito daquela maneira.