Exclusivo: Prontos para estrear no Rock in Rio, Binaryh fala sobre sua melhor fase e Afterlife

Por: Lau Ferreira 
* Foto de abertura: Fernando Sigma

De cantadas não correspondidas a uma vida sólida como casal e dupla de música eletrônica. Com nove anos de relacionamento e seis de Binaryh — projeto que se consolidou como embaixador do techno melódico no Brasil —, Rene Castanho e Camila Giamelaro são prova de que persistência, resiliência e determinação costumam levar a grandes resultados.

Agendada para esta sexta, 02, na abertura do palco eletrônico New Dance Order, das 18h30 às 20h, a estreia no Rock in Rio coroa a melhor fase da carreira do projeto, que, em 2022, tem celebrado conquistas como o primeiro lançamento e primeira gig em Ibiza pela Afterlife (cujos donos formam o maior duo de techno melódico da atualidade, o Tale of Us, que dá suporte pesado ao Binaryh desde 2019), destaque no DGTL São Paulo, com direito à produção da trilha oficial do evento, e contrato com uma destacada agência de bookings internacional, a Bullitt Agency — além, é claro, de seguir firme e forte em sua residência no D-EDGE.

É nesse contexto, às vésperas do festival, que batemos um papo com Camila e Rene.

HM – Vocês têm uma história curiosa como casal, não é?

Binaryh – Nós nos conhecemos na [escola de música eletrônica] DJ Ban, por volta de 2009. Rene já dava aula e eu fui aprender a tocar. Na época, ambos namoravámos outras pessoas, e não prestamos muita atenção um no outro. Depois que terminei o curso, eu mantive amizade com a equipe da escola e estava sempre por lá, e a única pessoa que não era próxima de mim era ele.

Depois de alguns anos, o Rene terminou o relacionamento em que ele estava e eu, por coincidência, também estava solteira. Então ele tentou uma aproximação. Eu não estava muito a fim de começar um outro relacionamento, mas ele foi persistente e acabei cedendo às investidas dele em uma noite que fui comemorar meu aniversário no D-EDGE (olha só as coincidências da vida, hahaha!). Depois disso, nunca mais desgrudamos um do outro. Estamos juntos há quase dez anos.

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Foto: Fernando Sigma

HM – E como foi que vocês resolveram montar o Binaryh?

Binaryh – Foi um processo bem natural. Quando decidimos morar juntos, passamos a acompanhar mais de perto o trabalho um do outro. Percebemos que, além de uma boa relação como casal, tínhamos também sintonia para trabalhar juntos — sem misturar as coisas. 

Claro que até estarmos totalmente alinhados levou um tempo (e mesmo assim nunca estamos livres dos arranca-rabos de um casal comum), mas é isso que faz o Binaryh ser especial: sabíamos que podíamos construir algo sólido com o que os dois poderiam agregar, e estávamos dispostos a isso.

HM – O Rene tem uma longa história na música eletrônica como DJ e produtor, enquanto você, Camila, traz a experiência e o know how em marketing e comunicação. Depois, você acabou aprendendo a produzir e a tocar. Como foi esse processo? E como vocês se dividem artisticamente hoje dentro do projeto?

Binaryh – Eu já tocava como uma DJ amadora, mas nunca levei pra frente o lance de uma carreira, de ser uma artista consolidada. Foi o Rene que me deu coragem pra vencer minhas inseguranças e me mostrou que eu tinha tudo pra ser uma excelente artista. Ele, como o professor que é, fez um passo a passo que me deixou confortável com as máquinas. 

O processo de aprendizado de produzir se mistura com o de tocar, pois as primeiras apresentações do Binaryh foram no formato Live Act, em que eu tinha que construir as músicas ao vivo junto com ele, cada um com seus equipamentos. Foi por conta dessa experiência que hoje eu posso me sentar ao lado do Rene e fazer música — só não mexo no Ableton porque ele é ciumento, mas todo o processo criativo e de refinamento tem os meus dedos.

Obviamente que pelo fato do Rene ser muito mais experiente que eu em produção, não sou tão focada quanto ele nesse sentido. Assim como na parte de gerenciamento e comunicação, ele também é super participativo, mas no final quem toma as rédeas sou eu. Temos uma divisão de tarefas bem equilibrada e ambos participam de todos os processos.

HM – O que tocar no Rock in Rio representa para vocês?

Binaryh – É a realização de um sonho nosso e de nossos pais, afinal, quem nunca teve vontade de pelo menos estar no Rock in Rio como público? Lembro de parentes e amigos contando histórias de como foi curtir o festival, e nós assistindo à transmissão pela TV, só imaginando como seria estar no meio de tanta gente.

Agora, tivemos a sorte do primeiro Rock in Rio das nossas vidas ser um em que vamos poder mostrar pra aquele público imenso o nosso trabalho! É surreal pensar nisso. É um dos maiores e mais desejados palcos do mundo. Estamos contando os dias!

HM – Vão trazer algo diferente pra essa apresentação?

Binaryh – O Binaryh é um projeto que consegue mostrar facetas diferentes dependendo de onde se apresenta. Temos esse traço de versatilidade que faz parte do nosso DNA, e gostamos de contar histórias através de músicas que mexem com o público e que combinam com o clima de cada lugar.

Vamos fazer uma linda mistura de produções de outros artistas que nos inspiram com criações nossas (especialmente unreleased) em um DJ set híbrido [mistura de discotecagem com live], em que podemos brincar e adicionar elementos para deixar as músicas com uma cara diferente.

HM – O Carmine Conte, do Tale of Us, disse pessoalmente a vocês que o break de “Seyfert”, seu primeiro release pela Afterlife, traduz o que é o techno melódico. É um elogio absurdo, ainda mais vindo de quem vem. Quando produziram essa faixa, já sentiram que ela era especial?

Binaryh – Por incrível que pareça, percebemos que o Carm conseguiu absorver o que passamos na música. Como havíamos acabado de iniciar as tutorias de melodic techno na Comunidade de Áudio do Andre Salata, nós tentamos fazer um melodic raiz — usar toda aquela melancolia que estava guardada em nós pelo período de pandemia que passamos e pensar em um retorno forte e bonito. E isso tudo foi construído na frente dos alunos.

O Rene sempre fala que, nesse estilo, um fator muito importante é criar sensações, e tudo isso fica muito claro na “Seyfert”. Quando o Carm elogiou a música dessa forma, ficamos emocionados, pois ele absorveu cada uma das sensações que passamos. Isso faz a “Seyfert” ser especial: ela fala muito a respeito de nós, do nosso momento, o que buscamos, o que vivemos e aonde queremos chegar.

“Seyfert” foi lançada na coletânea “Unity Pt. 3”, ao lado de faixas de ANNA, Recondite, Innellea, Agents of Time e muitos outros

HM – Vocês tinham uma trajetória consistente, mas em 2022 as coisas começaram a acontecer numa velocidade exponencial. O que mudou neste ano que trouxe conquistas de tanta expressão, assim, meio que tudo de uma vez?

Binaryh – Acho que durante o tempo em que ficamos em casa, na pandemia, nós não nos deixamos abater e continuamos produzindo; nos mantivemos atualizados e ficamos em constante contato com nossos fãs e seguidores. Não queríamos perder aquela sementinha que começou a germinar em 2019, quando nossas músicas começaram a ser notadas pelos grandes — e continuaram a cair nas graças deles mesmo durante esses dois anos super sombrios que passamos.

Na verdade, acho que as coisas não mudaram, elas apenas continuaram a correr um curso que era natural por conta da nossa persistência, da nossa resiliência. São os frutos que estamos colhendo, e por isso veio tudo de uma vez.

HM – Rock in Rio, lançamento pela Afterlife, Afterlife em Ibiza, amizade e suporte com o Tale of Us, trilha pro DGTL, Bullitt Agency… Tem como o ano ficar ainda melhor? E para 2023, o que vem por aí?

Binaryh – Este ano foi realmente de fortes emoções, mas ainda tem muita água pra rolar, afinal, ainda estamos em setembro, hahahaha! Recentemente, anunciamos em nossas redes sociais a KØNTACT, nossa label night, e a primeira edição vai acontecer no D-EDGE em outubro. Ainda teremos lançamentos, com certeza mais supports estão por vir e mais shows em lugares que aguardamos nos apresentar. E isso é tudo o que a gente espera pro próximo ano! =) 


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