O dia em que um túnel em Brasília virou pista de dança inesquecível

Por Marllon Gauche

Foto de abertura: Hugo – 2takepic

Uma boa pista de dança é formada por DJs, pessoas, energia e uma locação massa, concorda? Agora imagine só tudo isso junto aliado a celebração de aniversário do coletivo que está organizando o rolê. Tem tudo pra dar certo, né? E deu! Em setembro do ano passado, após uma breve pausa nos eventos, o núcleo brasiliense TRAxX promoveu uma festa de três anos no Túnel do Lago Norte que foi digno de Boiler Room.

O local é um velho conhecido dos clubbers, já que há algum tempo rolam “inferninhos” bem legais por lá, mas, essa edição em especial da TRAxX teve alguns “Q’s” a mais e se tornou memorável. No line up estavam os Boogie Djs, Igor Alb, Redeem Code, Gustavo FK (headlabel) e Komka, fazendo o closing set do rolê.

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Foto: 2takepic

Kaká Guimarães, um dos heads da TRAxX, conta que alguns locais públicos da cidade começaram a ser ocupados em 2015 e, a partir daí, algumas festas começaram a rolar. “Essa iniciativa deu tão certo que o Túnel do Lago Norte virou uma instalação artística. As paredes foram pintadas de glitter colorido dando uma aparência inédita”, conta. Pouco tempo depois, as pessoas começaram a ir ao local — com seu jeitão “instagramável” — para tirar algumas fotos. “Virou uma das melhores pistas de dança da cidade, tanto pela beleza, quanto pela acústica”, comenta Kaká.

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Foto: 2takepic

Antes da TRAxX deixar sua marca no túnel, alguns eventos já eram realizados por lá através do projeto Balada em Tempos de Crise, ao lado de outros coletivos, e também com a 100 anos de festa, celebrando o aniversário de Gustavo Foka, Kaká, Ruiz (5uinto) e Igor Alb. “Todos fazem aniversário no mesmo dia, apenas eu que faço uma semana antes! A festa leva esse nome por conta da soma das nossas idades, que naquela época era de exatamente 100 anos”, explica Igor Albuquerque, também da equipe da TRAxX.

Mas, o que ficou marcado de forma especial foi o evento de três anos. Primeiro porque foi a única festa que rolou por lá em 2019 e, também, porque podia ser a última. “As eleições estavam se aproximando e o cenário não era nada animador! Então a galera toda curtiu como se não houvesse amanhã. Dessa vez nós resolvemos registrar o momento, pois ali é um cenário digno de Boiler Room e já que eles nunca vieram pra capital federal, resolvemos fazer o nosso”, relembra Foka, outro headlabel.

Porém, para quem acha que é fácil organizar um evento desse porte por lá, está bem enganado, conforme explica Kaká. “Em Brasília temos a famosa Lei do Silêncio, que assola a vida cultural. Diversos locais na cidade proíbem a emissão de alvarás para eventos, além de toda a burocracia e processos que te fazem desistir antes de conseguir o seu alvará eventual. O horário também tem sido um problema, praticamente em quase toda a cidade é permitida a liberação de eventos até 2h da manhã, o que para música eletrônica é inviável”. Por algum tempo rolavam até festas sem a devida documentação, tendo que resolver a situação de forma criativa. “A gente falava que estava filmando um documentário para festivais de cinema, que acabava convencendo a polícia e eles iam embora [risos], mas, não aconselhamos fazer isso”, brinca.

Depois que o Túnel do Lago Norte cresceu e ficou famoso, a coisa dificultou um pouco. Uma parceria com administração pública foi firmada e a equipe teve até que frequentar reunião de moradores do bairro, além de correr todos os outros riscos. “Se você está fazendo um evento em Brasília, já se parte do pressuposto que você está errado, e a lei não te protege em nada, ficam várias brechas, e aí você torce pra não sofrer fiscalização”, explica Kaká.

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Foto: 2takepic

No fim, a festa de três anos da TRAxX aconteceu e deu tudo mais do que certo. Parte do rolê foi gravado em áudio e vídeo, registrando para sempre a última apresentação de Dai Monteiro, DJ que faleceu em maio deste ano por conta de um câncer no útero. “Dias depois de ferver a pista, ela recebeu a notícia que o câncer tinha voltado. Ela era uma pessoa muito querida por todos, um talento em ascensão e seu falecimento foi muito triste. Por conta do isolamento, não houve velório aberto aos amigos e ninguém pôde se despedir como ela de fato merecia. Mas nosso sentimento é maior que isso e ficam apenas as boas lembranças. Essa festa é uma delas”, finaliza Foka.

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Foto: 2takepic


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