Leo Janeiro e Kaká Franco unem forças para projeto dedicado a liberdade musical. Confira!

Por Alan Medeiros

Foto de abertura: divulgação

A função de um DJ vai muito além de selecionar e mixar músicas para o público que está presente na festa. Para uma noite ser realmente memorável, a construção de um set precisa ser dinâmica, inteligente e, acima de tudo, narrar uma história através das batidas que ecoam por todo o dance floor. Dois nomes que dominam muito bem isso são Leo Janeiro e Kaká Franco, artistas com experiência de sobra, capazes de emocionar as pessoas com a seleção de suas músicas.

Agora, imagine o que essas duas figuras podem aprontar ao se juntarem para dar vida a um novo projeto. Isso mesmo! Na última semana eles anunciaram a criação do LK, uma apresentação especial de Leo e Kaká lado a lado, construindo long sets utilizando somente a velha e bela arte de discotecagem com vinil. Com a técnica aprimorada e a musicalidade que ambos carregam consigo, com certeza estamos prestes a presenciar uma experiência musical divertida, prazerosa e contagiante.

Conversamos com esses dois gigantes da house music nacional para saber um pouco mais sobre a ideia do projeto, assim como o envolvimento destes importantes personagens com a cena desde o início de suas carreiras. Acompanhe!

HM – Olá, Leo e Kaká! Muito obrigado por conversar com a gente! Vamos começar falando um pouco de vocês. Ambos possuem uma longa história com a música eletrônica, mas, em que momento vocês perceberam que a house music nunca mais deixaria de fazer parte da vida de vocês?

Kaká – Olá House Mag! É um grande prazer estar aqui para conversar com vocês. Eu na verdade não tive essa percepção logo no começo, pois quando caí nas primeiras festas e clubs de música eletrônica daqui de Curitiba, onde o gênero musical predominante era a house music, eu chamava erroneamente tudo de techno ou “technera” [risos]. A partir daí, comecei a pesquisar as músicas que faziam a minha cabeça na época, aqueles hits da Konys, Rave e Legends. Então nesse tempo pude perceber que o que eu tava curtindo era house, mais ou menos 20 anos se passaram e aqui estou ainda no mesmo gosto musical, pois até hoje aparecem algumas coisas no meu set que eu curtia naquela época, como Sandy Rivera, Matt Wood, Eric Kupper, François Kevorkian, entre outros.

Leo – Música em si nunca vai deixar de fazer parte da minha vida, trabalho e vivo dela. Meu gosto pela house foi uma questão dos meus primeiros discos serem do gênero. Mas sendo bem sincero, eu gosto de muita coisa do jazz ao samba, passando pela house music.

HM – Quem foram suas referências quando iniciaram a carreira neste cenário? Vocês ainda acompanham esses artistas?

Kaká – Para mim eram os DJs locais de Curitiba, Igor Mattar, Buga, Ricardo Castor. Depois de um tempinho, quem se tornou minha maior referência foi o Gabo, adorava demais os sets dele. Infelizmente não tenho presenciado as gigs desses nomes, mas quando vejo alguma notícia dizendo que eles vão tocar, fico super contente e torcendo para que continuem influenciando positivamente mais gente como eu.

Leo – Minhas referências sempre foram DJs incríveis, mas posso citar alguns artistas como Masters at Work, Steve Silk Hurley, Frankie Knuckles, Derrick Carter, Mark Farina, Armand Van Helden, Ron Hardy e por aí vai.

HM – Vocês são profissionais que estão sempre se aventurando por novos caminhos, seja através de iniciativas no cenário musical ou mesmo na construção de sets dinâmicos. Esse desejo de estar sempre em movimento é uma das coisas que motivam vocês a continuarem tocando?

Kaká – Vejo que esse movimento é algo natural pra quem quer viver e participar da cultura clubber. Costumo ir em festas mesmo quando não estou tocando, fico do começo ao fim fazendo novas amizades e me divertindo. Também percebo que as gerações mudam muito rápido, com isso chegam as novas releituras musicais, resgates de clássicos e novas tendências sonoras, aliado a tudo isso a experiência, o movimento e dinamismo ocorrem espontaneamente.

Leo – Acho importante o DJ ou produtor estar sempre em movimento, buscando se conectar com novas possibilidades e ter iniciativas que te tirem da zona de conforto. De alguma maneira eu tento fazer isso durante meus sets, é um combustível importante para mim.

HM – Mudando um pouco o foco, vamos falar sobre o novo projeto de vocês, o LK. Contem pra gente como surgiu essa ideia de dividir o palco discotecando apenas com vinis? De quem a ideia partiu inicialmente?

Kaká – A ideia surgiu do Leo Janeiro, que prontamente me ligou e já soltou o convite. Aceitei rapidamente, pois o LK visa uma liberdade musical, onde podemos passear por onde quisermos, sem muita regra para não tornar engessado. Queremos provocar um ambiente descontraído, desfrutando de sets longos com o público, proporcionando uma viagem musical. Dividir o palco com o Leo Janeiro é uma satisfação enorme, pois além do trabalho de sucesso que ele vem tendo, o respeito é muito grande. Ele tem todas as qualidades que prezo muito, como experiência, confiança, inteligência, técnica e qualidade musical.

Leo – Trabalhar com pessoas bacanas e que tenham ideias convergentes com as suas é muito bom. Sempre que encontrava o Kaká ou acompanhava algo dele pelas mídias sociais me batia um sentimento de que poderíamos fazer algo juntos. Temos um background musical parecido e nas poucas vezes que nos encontramos o papo era bem bacana. Um dia pensei, ‘vou ligar no Kaká e ver o que ele acha da ideia de fazermos algo juntos’. A conversa foi incrível e rendeu muito. Depois disso trocamos algumas figurinhas, fomos organizando e aqui estamos! Estou super animado com este novo desafio.

HM – Hoje com a tecnologia o número de artistas que mixa com as mídias físicas é pequeno. O que mais o projeto LK busca além de levar “reviver” esse lado mais old school da dance music?

Kaká – Queremos mostrar uma vida musical não só oldschool, mas o que pode vir de novo por aí, nos lançar contando histórias com muitas temporadas. Tanto a data das músicas como as mídias são livres, vai ser da preferência de cada um.

Leo – Na verdade sentimos falta da mesma coisa: fazer uma viagem musical mais intensa. Queremos trazer isso para a pista de dança sem nenhuma pretensão de fazer algo calculado. Do novo ao velho, essa é a onda, sem rotular e sim dançar muito [risos].

HM – E para onde a música eletrônica está caminhando aqui no Brasil? Vocês conseguem enxergar algum tipo de tendência na cena nacional?

Kaká – Percebo uma forte onda reacendendo no house progressivo. Também vejo um movimento muito legal de resgate dos anos 90, com acid house, tech house e electro house antigo. Além disso, a disco music trazendo brasilidades, funk e soul estão presentes em muitos locais por aqui, todas tendências muito legais. Muitos novos DJs com essa bagagem inicial aparecerão, o que acaba resultando em núcleos, coletivos, festivais e clubs com avanço na qualidade musical. Acredito que o futuro aqui no Brasil será muito legal.

Leo – Acho ótimo que a pessoas possam ter a cabeça aberta para absorver coisas novas e até mesmo compartilhar com outras. Essa liberdade dá um ar de imprevisibilidade que eu acho incrível. Tendência hoje pode vir de qualquer lugar, isso acontece muito na música. Tem muita gente falando do house e é legal ver essa mistura interessante de sonoridades diversas entre coisas novas e antigas. Estou feliz com o que pode vir por aí!

HM – Hoje quem inspira outros DJs que estão surgindo na indústria são nomes como vocês. De que forma vocês se sentem nessa posição e qual a mensagem que deixam para quem segue e admira o trabalho de vocês?

Kaká – Eu sempre sinto um frio na barriga muito bom quando recebo um elogio ou quando sei que posso servir de inspiração para muitos outros. Tento passar a melhor postura possível, a melhor simpatia, humildade e nas conversas procuro ser sempre o mais assertivo. Sinto uma responsabilidade bem grande nessa posição, mas ao mesmo tempo muito vitorioso, isso me dá uma enorme vontade de ir além. Aos que nos seguem e admiram nosso trabalho: muito obrigado! Saibam que a paciência e a perseverança podem atravessar as paredes mais espessas.

Leo – Eu sempre tive uma ideia clara: para fazer a roda girar, é preciso ter pessoas que façam isso acontecer, e eu tento fazer minha parte de diversas maneiras. Muitas vezes ao final de um set alguém me procura e diz ‘curto muito seu som, mestre!’, eu sempre agradeço e tento bater um papo e, se for alguém em busca do seu próprio espaço, tento incentivar, pois sei o quanto isso é importante.

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