Liu: do Brasil para o mundo. Confira a matéria capa da última edição da revista impressa House Mag

Por Luiza Serrano – Matéria publicada na House Mag impressa #50

Foto de abertura: Filipe Miranda

Eram 16h quando iniciamos esse bate-papo. Com o corpo ainda sofrendo as reações de um jet lag de 12h, diferença entre o horário chinês e o brasileiro, Liu, com muita simpatia e bom humor, nos atendeu para batermos um papo sobre a maratona que vem acontecendo em sua vida nos últimos tempos.

Recém-chegado de uma turnê pela Ásia, demos o start exatamente em meio a esta loucura que é alcançar o outro lado do mundo, não só fisicamente, mas musicalmente também. Sua mais recente experiência pelo continente oriental revelou que a sua música não tem fronteiras. Liu tem genes asiáticos e brasileiros. Sua mãe é chinesa, seu pai mineiro e ele, paulistano. Desde cedo a música esteve presente em sua vida, porém, aos nove anos, quando começou a tocar violão, não imaginava que chegaria neste patamar onde se encontra hoje, almejado por tantos artistas mas alcançado por poucos. Não que ele tenha envelhecido muito, afinal, tem apenas 21. É que sua ascensão foi bem rápida (mas não com pouco trabalho) e suas primeiras conquistas vieram cedo.

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Foto: Filipe Miranda

“Eu era extremamente tímido quando criança e a música virou uma forma de expressar o que eu sentia, uma válvula de escape. Quando comecei a tocar violão, um mundo novo surgiu pra mim. Com 11, comecei a produzir e basicamente descobri um universo de possibilidades sonoras. Aquilo me fascinou e mudou minha vida! Lembro de ir pra escola todo dia pensando em formas de criar novos sons e imaginando como eu faria isso usando os sintetizadores digitais”, contou.

Mesmo apaixonado por música eletrônica desde que ouviu “Satisfaction”, de Benny Benassi, ele tentou a faculdade de engenharia elétrica, pensando que se um dia a carreira como produtor não desse certo, poderia trabalhar com sintetizadores. “A gente sabe o quanto essa profissão DJ é instável, então um plano B é sempre importante”, explicou. Mas foi aí que emplacou um hit, “Don´t Look Back”, e pronto, foi o suficiente para dar o start e realizar o sonho.

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Foto: divulgação

Cinco meses antes de lançar a track, Liu viajou para Amsterdam a passeio e aproveitou para ir até a sede da Spinnin’ Records, na Holanda, para entregar um pen drive com uma demo. “Tinha 17 anos na época. Fui até lá, bati na porta, ‘toc, toc’, e disse que queria entregar a minha música”. Se ele conseguiu? “É claro que não. A secretária me recebeu super bem, deixei o pen drive lá, mas explicou que não funcionava dessa forma”, contou rindo. Bom, a primeira tentativa não deu certo, mas um tempo depois ele lançou a sua primeira música pela gravadora (dessa vez sem pen drives). “Quando minha carreira já estava mais evoluída eu enviei a `Coastline` pra eles. Amaram a música, lançaram e foi uma explosão”. Hoje ela tem mais de 13 milhões de plays no Spotify.

Mas o que tem nesse bass que rapidamente conquistou DJs e pistas? “Faço música com muita paixão. Coloco sempre uma identidade especial, com amor e técnica”. A sua musicalidade também vem dos estudos no violão, já que aos nove anos se dedicava ao violão clássico e se aprofundava na bossa nova. Sem nunca ter feito uma aula de produção, ele foi se aperfeiçoando e colocou suas principais referências como uma meta, buscando alcançar a qualidade musical que tanto queria. E quais são suas principais referências? “Eu sou bem eclético, então escuto muito rock and roll, escuto Elvis Presley, Queen, muita bossa nova, e na música eletrônica muito Skrillex, Madeon e Porter Robinson”, conta o paulistano nascido no Tucuruvi.

Quando “Don’t Look Back” foi lançada, os suportes começaram a surgir e nunca mais pararam. Alok, Vintage Culture e vários gringos como Kungs, Oliver Heldens, Don Diablo, Jonas Blue, e uma lista extensa de grandes artistas já colocaram as tracks de Liu em seus sets. “Bolum Back”, uma collab com Alok, veio logo depois e foi um tremendo sucesso, hoje ultrapassando os 10 milhões de plays no Spotify.

O desafio agora mudava de rumo e, ainda lidando com as descobertas da própria idade, acumulava a responsabilidade de não parar em um só hit e continuar se mantendo na cena cada vez mais ativo. Foi assim que ele emplacou mais um sucesso, dessa vez pela Armada Deep, “All I Want”, também com o Alok e provavelmente seu maior hit radiofônico, com 30 milhões de plays no Spotify. A máquina de hits não pararia por aí. Veio a “Pirate” (3 milhões de plays, feita em parceria com o amigo GenX) e tantas outras que o consolidaram hoje como um dos maiores hitmakers brasileiros. É só passear por suas redes e plataformas de streamings que dificilmente encontrará uma música do Liu com menos de 7 dígitos.

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Foto: divulgação

Mas foi graças a “Step Ahead” que ele fez sua primeira turnê europeia. E pensar que hoje seu remix de “The Next Episode” do Dr. Dre se tornou um hit tão grande lá fora que tocou em quase todas as festas deste segmento no Amsterdam Dance Event (ADE), maior conferência de música eletrônica do mundo, na Holanda –  incluindo as do Oliver Heldens.

Inovar é a chave

Inovação é algo inerente à sua carreira. Liu está atento às tendências e ao que público quer ver e ouvir, sem deixar de lado sua marca. Prova disso é a sua versatilidade. Seus últimos lançamentos contam com tracks melódicas, outras com graves mais fortes. Antenado, também já engatilhou duas músicas com vocal em português, algo ainda novo em suas produções autorais. Pensando no verão 2019, “Nave Espacial” é uma aposta do produtor, que trabalhou com Samantha Machado para dar o tom certo a esta música. E idiomas não são problema. Em sua passagem pela China, se juntou a um MC local famoso e assinou uma parceria, carimbando a sua entrada neste mercado ainda tão fechado que é o chinês.

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Foto: divulgação

Sua passagem pelo continente do outro lado do mundo também rendeu um convite para a participação em um reality show sobre DJs na China, “Rave Now”. “Não disse que sim nem que não. Ainda voltarei lá para saber como será tudo certinho, porque não quero parar as minhas tours”, explica.

 
 
 
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ASIA TOUR 🌏

Uma publicação compartilhada por Christian Liu (@liulive) em30 de Jan, 2019 às 4:36 PST

Viajar tem sido um verbo comum na carreira de Liu. Em apenas um ano passou por todos os continentes e, em 2018, ao lado de Bhaskar e Shapeless, representou a label UP Club na Ásia e partiu em turnê solo pelos Estados Unidos e pela Europa. Nesta experiência ele revela que amadureceu muito e teve a oportunidade de conhecer novas culturas, adaptando inclusive os seus sets para cada público. Imagina que feeling ele não ganhou após suas apresentações em Orlando, Vietnã e Tailândia?

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Foto: Filipe Miranda

Em Orlando, Liu encontrou muitos brasileiros e pôde fazer um set próximo do que estamos acostumados por aqui. Já na Lituânia, no continente Europeu, o jovem produtor tocou em um castelo e acreditem, o público sabia a letra de “Step Ahead”, uma grande surpresa para ele. “A galera cantou a minha música. Foi um dos grandes momentos da minha carreira. E para completar, meu irmão, uma grande inspiração e que sempre me apoio, o Thomas Liu, foi até lá para me ver. Ele saiu da França para me ver apresentar”, conta emocionado.

E como se fazer notar em um mercado tão competitivo?

“Step Ahead” chegou até o público da Lituânia através de seu canal do YouTube. “O meu perfil direcionou a música para fora, e assim conquistou um público maior no exterior”. O marketing foi algo que influenciou em sua carreira, alinhado à sua produção musical. “As redes sociais e o engajamento com o público são importantíssimos. Um hit não vai bombar sozinho”, comenta.

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Atualmente na Artist Factory, Liu também vê a externalização dos artistas brasileiros através de nomes como Alok, que se tornou conhecido em todo o mundo com “Hear me Now”. “A popularização da música ajudou muito todos nós brasileiros lá fora”. Sem contar a sua base de fãs, que acompanha de perto a carreira do artista. “Eles estão ao nosso lado, seja nos altos ou baixos. Essa grande rede se forma naturalmente. A minha música toca cada pessoa de maneira diferenciada, e acaba reunindo o público em torno do meu som”, finaliza.

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Foto: Filipe Miranda

Essa familiaridade do público com o chinês de coração brasuca também está ligada a algumas ações realizadas por Liu, como a sua parceria com o Bradesco no Lollapalooza, que ampliou ainda mais a sua visibilidade e popularizou a sua imagem.

Próximos passos

E para o próximo ano, o que podemos esperar do #flangobass? De acordo com Liu, ele pretende ampliar os seus horizontes e atingir um público maior fora do Brasil. A sua track “Don’t Stop”, em parceria com Dzeko, é uma amostra disso, principalmente porque foi lançada pela internacional Billboard através da plataforma Billboard Dance.

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Foto: Filipe Miranda

Mas as coisas estão tomando uma proporção ainda mais interessantes. Liu está abrindo um novo label, por onde inclusive será lançada a “Nave Espacial”. “A ideia surgiu pois eu almejava uma plataforma onde pudesse lançar novos talentos e também minhas músicas. E eu queria que o nome da gravadora remetesse à minha imagem”. Assim a Chinatown Records saiu do papel e chega no mercado brasileiro já no início de 2019 com seu novo hit. “Ano que vem queremos criar uma festa com essa identidade asiática, decoração com elementos chineses, que remeta à minha origem, onde eu serei o residente e convidarei amigos para tocar”. 2019 então, verá Liu investindo forte em sua nova gravadora e sua festa autoral, além, é claro, de continuar lançando hits e viajando o mundo.

É, parece que seu plano B, aquele lá da Engenharia, não precisará ser colocado em prática tão cedo, para nossa sorte e a de seus fãs.

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