Por Nazen Carneiro, da coluna Tudobeats
Foto de abertura: divulgação
Mindbenderz tem chacoalhado a cena psy trance, literalmente. Com um trabalho intuitivo e muito ligado ao feeling da pista mais antenada tanto na história do psy trance quanto no que há de mais moderno, o duo metade suíço, metade alemão, conquistou o público de diversos países.
Formado por Mattias Sperlich aka DJ Cubixx, alemão, chefe da poderosa gravadora Iono Music de Berlim; e pelo suíço Philip Guillaume, conhecido pelos projetos Motion Drive, Blue Vortex e Rumble Pack; Mindbenderz lançou recentemente o álbum “Tribalism”, que já na primeira semana alcançou o topo da disputada lista de lançamentos do estilo no maior site de vendas de música eletrônica do mundo, o Beatport.
São mais de duas décadas de experiência com um profundo conhecimento das diversas camadas que compões esse complexo tecido conhecido como cena eletrônica. De discotecagem a produção musical, de frequentadores de festas a produtores de festivais, gestão de gravadora e por aí vai. Aproveitamos a passagem recente dos artistas da Infinite Music pelo Brasil para que eles compartilhassem na coluna Tudobeats, publicada com exclusividade pela House Mag, um pouco de toda essa caminhada e os detalhes do aclamado novo álbum.
HM – Recentemente, vocês lançaram o álbum “Tribalism”, pela Iono Music, que foi muito bem recebido pelo público, DJs e crítica. Penso que, realmente, o trabalho de cada um de vocês se completa. De onde vem essa sinergia psy trance que vocês têm?
Bem, na nossa juventude fomos juntos a muitas festas e nos divertimos muito pelas pistas por aí. Fomos fortemente influenciados pelo boom da música eletrônica nos anos 90 e ficamos fascinados com os novos sons de uma cena emergente, especialmente techno e trance.
Queríamos fazer parte disso e começamos a tentar produzir música nós mesmos. Em 2001, participamos de um festival sensacional chamado Fusion, que nos ‘infectou’ com a semente do psy trance. Aquilo realmente tocou nossas almas e desde então seguimos esse caminho sem olhar para trás.
HM – Ainda falando do último álbum, que tem uma veia bem roots do psy trance, digamos assim, vocês consideram que o Mindbenderz está realmente mais próximo das raízes do estilo? Quais influências vocês destacariam?
Podemos dizer que algumas das nossas maiores influências são Zen Mechanics, Astrix e Liquid Soul, mas, na verdade, a inspiração maior vem do público! A galera na pista. Se o nosso projeto está perto da raíz do trance é porque a gente consegue criar músicas com o coração. Quando tocamos elas nos festivais mundo afora e vemos a resposta positiva da pista, e saber que somos responsáveis por isso, é o que nos motiva e dá ainda mais ideias!
Foto: Kevin Juarez
E falando um pouco do “Tribalism”, buscamos criar um álbum com nove faixas em que cada uma tivesse sua própria história, mas que mesmo assim estivessem conectadas na mesma vibe. Acreditamos de verdade que conseguimos isso numa pegada étnica especialmente pelos vocais.
HM – E quais foram os principais equipamentos e softwares usados?
Para criar “Tribalism” foi necessário combinar hardware e software. Usamos instrumentos Dave Smith OB6, assim como o Virus TI e o novo Novation Peak. De softwares usamos Serum, Sylenth e Omnisphere. Para o processo de mixagem usamos UAD e Waves, principalmente.
HM – Logo na primeira semana o álbum alcançou o top #1 de lançamentos psy trance no Beatport, o que é um feito considerável. Vocês já esperavam esse retorno sensacional antes do lançamento?
Não mesmo! (risos) Obviamente, tínhamos esperança que ele fosse bem recebido, afinal, trabalhamos duro durante meses, mas não podíamos esperar tamanho reconhecimento. Estamos muito felizes com o nosso público e com os artistas que estão sempre ao nosso lado e fazem parte dessa caminhada.
HM – Trabalharam muito e bastante tempo. Mas quanto?
Ah, difícil dizer exatamente, pois você trabalha, compõe, para. Trabalha, compõe, para e volta. Então é todo um processo que vai se adicionando. Foram alguns meses, mas para nós pareceu uma vida inteira! (risos)
HM – Definam o álbum em poucas palavras.
É um som moderno mas que mantém as raízes da clássica vibe do progressive psy trance. Acreditamos que para outros produtores e, mesmo para o público, é interessante saber de todo esse processo.
HM – Vocês trabalharam juntos em todas as faixas ou subdividiram as faixas entre si?
Sim, trabalhamos juntos em todas as faixas. Nós moramos em dois países diferentes. Phillip mora na Suíça e Matthias na Alemanha, mas, como o estúdio escolhido para a maioria dos trabalhos foi o do Phillip, eu (Matthias) fiquei indo e voltando para conseguir produzir tudo junto. Algumas coisas fizemos a distância também.
HM – Com quase 20 anos de estrada, vocês com certeza viram muita coisa começar, rolar e terminar. Muitas mudanças e muitas coisas que continuam, certo? Quais mudanças vocês consideram as mais relevantes nos últimos anos?
A cena psy trance com certeza cresceu muito nos últimos dez anos. Em grande parte tornou-se mais comercial. Isso tem efeitos bons e ruins. A parte boa é que sendo mais comercial, aqueles que vivem da cena, da música, tem a chance de ter uma vida decente sem sofrer tanto o impacto da atitude de muitas pessoas de baixar músicas ilegalmente, sem contribuir com o artista que a compôs, com a label. Enfim, além das festas cheias de ‘furões’ ou o clássico ‘vip’, que acaba com o orçamento da festa. Isso quer dizer que, com um público maior, quem vive da cena eletrônica consegue continuar a produzir tanto música quanto festas.
Por outro lado, o que move a cena psy trance mesmo para a gente é a sua essência, a espiritualidade envolvida e vibe underground. Se perdêssemos um pouco que fosse disso, seria uma grande vergonha para nós. Mas as coisas acontecem em ciclos de qualquer forma, nada é permanente, e o que talvez tenha sido perdido, com certeza retornará. O verdadeiro espírito puro do psy trance é a nossa cultura forte, que continuará a ficar ainda mais forte com o tempo.
HM – Recentemente, publicamos uma matéria na House Mag impressa, em sua edição #50, sobre nova ascensão do psy trance, que fala exatamente disso. Você considera que existe uma nova ascensão da cena psy trance no Brasil?
Com certeza! Existem alguns talentos inacreditáveis no Brasil e festas acontecendo que são magníficas. É muito renovador ver tudo isso rolando por aí e sem dúvida nenhuma está afetando a cena mundial positivamente. Hoje em dia, a cena brasileira está em outro nível, muito acima do que foi antes.
HM – Muito obrigado por conceder essa entrevista e compartilhar um pouco dessa história tão rica que vocês têm com a música, é definitivamente inspirador para todo o público de música eletrônica! Gostaria que vocês encerrassem com uma mensagem especial, pode ser?
Apenas reiteramos o nosso MUITO OBRIGADO por todo o carinho de todos os nossos apoiadores do Brasil e do mundo. Nos sentimos abençoados em contarmos com vocês. Sabermos sobre o que vocês pensam é muito importante para nós!