O MATO: música eletrônica no meio da Floresta Amazônica

Por Juliano Serpa – edição Gabriela Loschi

Fotos: divulgação

Após uma histórica O MATO na Floresta Amazônica, em setembro deste ano, o coletivo com raízes meio alemãs, meio brasileiras, em uma união criativa e singular, se prepara para O MATO – Into de Jungle, em Berlim, no dia 8 de fevereiro: uma viagem rumo a selva urbana. 

Aproveitando a proximidade da sua nova edição, apresentamos a experiência de mergulhar em uma experiência musical, sensorial e de muito aprendizado, vivida por Juliano Serpa em meio à floresta tropical brasileira. Fazemos agora o convite para você desfrutar desta última edição em terras tupiniquins, mas que já tem data para voltar! O coletivo anunciou a sua terceira edição na Amazônia em sua página oficial no Facebook, que será realizada de 6 a 16 de setembro. Os ingressos podem ser adquiridos aqui

Tudo começa em casa: passagens, ingresso, comprar rede, lanterna, decidir o que levar pra usar, escolher um hostel em Manaus. Aquela ansiedade de quem vai para o pulmão do mundo curtir uma experiência de dez dias longe da civilização e sem sinal de celular. Para minha infelicidade, a compra da passagem aérea deu erro e tive que ir na segunda leva, pois só se pode comprar os dez ou cinco dias.

Indo ao encontro dos que já estavam lá, no primeiro dia tive a oportunidade de curtir uma festa já no barco com todos os DJs presentes: Cecílio (Slow Life), Alex K (Childhood Intelligence), Einetter (Childhood Intelligence), Eva Luzia (Colômbia), Ian Fog (Alemanha), o manauara Shaisson, da House92 (único núcleo de música nessa linha da capital amazonense), a paulista Gabriela e os residentes do O MATO.

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O rolê de barco até lá é realmente surreal, explorando a Floresta Amazônica e adentrando o Rio Negro por seus igarapés, com diversos paraísos deslumbrantes em tons de verde que contrastam com o azul do céu e o negro das águas. Isso numa festa de 10 horas, tendo como destino o paraíso de Cheiro do Mato, em Apuaú.

A primeira vista do deck, onde fica a pista, foi inesquecível. Gritávamos do barco e na pista vibravam com a chegada de mais pessoas, com todos se cumprimentando como conhecidos que não se viam há algum tempo. Neste dia, pude conferir sets impecáveis de house/disco, logo após o DJ de Manaus também fazer uma seleção bem interessante de house music.

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O destaque do line up era o Cecílio, que fez um set de mais de seis horas, assumindo à tarde e conduzindo até após o pôr do Sol. Aquela sexta foi especialmente house music, com muita melodia e vocais até quatro da madrugada. O festival se preocupa com o meio ambiente e com a energia do público, por isso todos os dias era oferecido o café da manhã e a música tinha início apenas por volta do meio dia.

Na manhã de sábado, durante o café estilo manauara, fico sabendo que é meu dia de tocar. A artista de São Paulo, Gabriela, apresenta um set incrível de música brasileira, africana e grooves diversos. Como cada pôr do sol proporciona uma sensação imensa de harmonia e conexão, a falta de sinal no celular é como uma cereja no bolo para conectar o público. 

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Na sequência, chega o Kaká Franco e faz um set de house impecável só no vinil. Logo após, o set do Alex entra numa linha mais minimalista, já na preparação para a colombiana Eva Luzia. Tocar depois deles foi um grande desafio, pois o BPM já estava em 137. Entrei fazendo b2b com o Alex, e depois segui sozinho. O que era para terminar às quatro, seguiu até às seis da manhã. A atmosfera estava incrível!

No domingo mais um dia tranquilo. Música começando no início da tarde, com muita MPB como sempre, além de house, clássicos da disco e rock. Foi quando descobri o Sasha, um bar secreto onde se tem que ter fôlego para beber cachaça de graça. Já a segunda-feira seria para o descanso, com uma parte dos participantes seguindo para a expedição de dois dias na cachoeira, a uma distância de seis horas de caminhada da festa. Porém, ligamos os equipamentos e fiz um set de cinco horas a 112 BPM. 

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Na terça acordei no meio de um sonho que tinha “Sade – Smooth Operator” como trilha de fundo. Foi bizarro abrir os olhos e perceber que era a mesma música do deck. Fui pra pista e um dos residentes estava tocando hip hop e clássicos do R&B. O que prova que O MATO não se trata de um festival apenas de música eletrônica, mas sim uma simbiose de estilos.

Seguimos para a quarta-feira e voltamos ao minimalismo de Berlim com o DJ Ian Fog. A noite foi finalizada com filmes do Wolfgang da década de 90 sobre o desmatamento da Amazônia. Tema sério e super de acordo com a proposta do evento. Na quinta uma sensação de nostalgia por ser o penúltimo dia. Foi um dos mais descontraídos, com vários tipos de música. No cardápio havia peixe piranha e tucunaré, sempre regados a muita pimenta de tucupi.

Na sexta, 14 de setembro, começamos desde cedo com o som, e o último dia parecia que não ia acabar. A noite foi entrando e logo começou a nostalgia geral: rock misturado com disco music. Não era para menos: todos cantando juntos. Finalizamos o festival com um b2b entre eu e o Florian, um dos residentes. Depois partimos até Manaus, onde ficamos mais duas noites com direito a festa secreta de despedida.

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Ao todo, foi uma experiência extremamente enriquecedora. Mal posso esperar a edição 2019 e desejo também encontrar mais compatriotas na próxima, pois a experiência de conhecer a Amazônia deveria estar nos principais roteiros de qualquer bom brasileiro.

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