John Digweed marca o encerramento do Ouput com long set histórico

Por Jonas Fachi

Foto de abertura: divulgação

Situado no condado do Brooklyn, o Output nasceu em 2013 com o intuito de resgatar a emblemática cena underground da cidade dos anos 80 e 90, onde clubs como Sound Factory, Twilo e Spirit marcaram gerações de clubbers e entraram para a história como os primeiros dedicados exclusivamente a dance music no país. Com a repentina mudança de direção após a virada do século do que se entendia por cultura noturna na cidade, a cena eletrônica sofreu um colapso estrutural devastador, foram anos de uma intensa política de “combate às drogas’’ e perseguição estilo “caça às bruxas’’ da vida noturna na cidade durante sucessivos governos locais conservadores.

Com a explosão da EDM após 2010 em todo os EUA e o bilionário mercado de dólares que se criou ao seu redor, o papel da cena underground voltou às suas bases fundamentais; lançamento de tendências e criação de culturas dissemelhantes por onde se instala. O Output surgiu com esse objetivo – colocar a cidade novamente na rota de grandes DJs globais da cena conceitual regularmente, exercendo assim um papel de liderança da cena no contexto de país. Aos poucos, nomes como Richie Hawtin, Seth Troxler, Ben Klock e Chris Liebing passaram a rasgar elogios para o poderoso sound system Funktion One da casa e ajudaram a definir um techno com linhas quentes e obscuras como a marca registrada de um espaço físico de mesma carasteristica – entranhado no coração de uma região que ainda enseja na mente das pessoas sinônimo de periferia e “no status”.

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Foto: divulgação

O Output passou a ser uma rota obrigatória para diversos expoentes que ali viam a oportunidade de jogar em alto nível em uma das cidades pioneiras na história da música eletrônica no mundo. Mesmo que o Brooklyn pareça estar na memória coletiva das pessoas como um local representante da cultura black nos Estados Unidos, quando você anda pelo bairro, percebe que não se trata mais das ruas dos filmes e séries com prédios baixos de tijolos e street art espalhadas por todo lado. É nítido e tem causado bastante polêmica o enorme processo de gentrificação que as regiões periféricas da cidade têm passado.

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Foto: divulgação

A especulação imobiliária trouxe grandes redes de hotéis e centros comerciais – novos bares e restaurantes passaram a fazer parte desta região como consequência, que historicamente era relegada a população de baixa renda. Nesse caso, ao contrário do que ocorreu em lugares como Londres e Balneário Camboriú, onde a vida noturna foi expulsa pela gentrificação, o Brooklyn passou a ser um local aberto e turístico, não mais blindado para o resto da cidade como nos anos 70 e 80. Outros lugares como Williamsburg, Bushwick, Ridgewood e Bedstuy têm passado pelo mesmo processo de transformação de perfil sócio econômico e cultural. Com isso, a vida noturna hoje é possível e segura para turistas e locais por lá. Com todo esse contexto histórico dando o clima do desenvolvimento do club, o Output em poucos anos passou a ser um dos lugares mais desejados do mundo, tanto para DJs globais quanto para clubbers em visita pela cidade. O ápice veio em 2017, quando ao deixar para trás gigantes como Fabric, Berghain e DC10 venceu o Electronic Music Awards – premiação dedicada a cultura da dance music, nominando DJs, produtores, radio shows, festivais e claro, o club do ano. Era o seu auge!

Composto de dois andares e já conhecido por muitos como o melhor club de Nova Iorque, o Output ganhou notoriedade por sua política extra rígida de “sem fotos”, design distópico e lendárias festas de verão no terraço. Em sua essência, manteve-se fiel a esse estilo fora dos padrões como um título capaz de maximizar a experiência de liberdade dos clubbers que o frequentam.

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Foto: divulgação

Entretanto, em 11 de dezembro, a página oficial do club surpreendeu a todos com uma mensagem em forma de carta, anunciando o fim do club e levantando diversas questões referentes ao desenvolvimento da cena local. Em resumo, ao que parece, a concorrência para outros clubs novos na cidade estaria forçando a curadoria a ter que trazer artistas que fogem do estilo que foi idealizado por seus fundadadores que, ao final, se identicaram como os relatores da mensagem: Nicolas, Shawn e Bo. Você pode ler a mensagem na íntegra aqui.

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Foto: divulgação

Em uma decisão ousada e que poucos se sujeitariam a tomar, eles optaram por encerrar as atividades com o club em alta, operando em sua melhor forma – como um devido camisa 10 da cena clubber global e americana. A repercussão foi imensa, com mais de mil comentários e compartilhamentos de admiradores e frequentadores do club, expressando enorme pesar pelo falecimento de um ponto ímpar da dance music. Assim como em 2017, o nome escolhido para o “New Year’s Eve’’ do club, era John Digweed, o lendário DJ britânico tinha se consolidado como uma das peças fundamentais da identidade musical do club e ter seu nome para o último extended set não poderia ser mais apropriado. Em vídeos postados pós evento, foi possível perceber o quão especial John preparou o set para esse momento de despedida, tocando na hora da virada do ano, por exemplo, a faixa “Last Dance”, de Eagles & Butterflies, com um mash up do vocal de “Loaded”, clássica do indie/alternative de Primal Screem. Confira aqui.

O club abriu suas portas para a exposição nas mídias sociais uma única e exclusiva vez, recebendo set de Richie Hawtin no lançamento de seu mixer Model 1 nos EUA, em um live stream pela revista mixmag, onde foi possível transmitir um pouco da atmosfera do club para todo o mundo.

Uma excelente matéria do The New York Times resgatando depoimentos de frequentadores e artistas sobre o club saiu na última semana. Destacamos a fala do ator americano Idris Elba, que comandou uma das pistas:



Em 2016, a Output realizou uma festa durante todo o dia com Seth Troxler e Martinez Brothers, em um b2b. À noite, Idris Elba tocou no Panther Room. Estava esgotado e a multidão era intensa. O projeto atraiu vários estilos de pessoas e foi um show lendário. Foi o mais longo que eu já fiquei em um club: 16 horas seguidas”.

Josef P., 25, Greenpoint

 

Confira a matéria na integra aqui. A manhã de 1º de janeiro de 2019, mais precisamente às 9h45, John baixou o canal do mixer e silenciou toda uma fervorosa pista pela última vez. Todos sentirão saudades, mesmo aqueles que nunca lá estiveram, afinal, quando um club como esse fecha as portas, é um pedaço da dance music que deixa de existir.

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