Conheça Luciane Chiodi, uma das personagens centrais na divulgação da música eletrônica em SC

Introdução, perguntas e edição por Jonas Fachi

Fotos: divulgação

Na era da revolução digital, onde quase todas as formas de se comunicar cabem na palma de uma mão, plataformas como Spotify e iTunes, transformaram a maneira como se ouve música no mundo, trazendo praticidade, rapidez e a possibilidade de personalizar preferências musicais de um jeito nunca visto antes, ampliando assim uma demanda de milhões de pessoas.

Tão como quando surgiu a TV, essa revolução fez parecer que em algum momento o papel da rádio no contexto social de proliferação de informação e cultura estaria com os dias contados. Entretanto, avançamos ao final da segunda década do século XXI e a importância do sistema de comunicação através de ondas eletromagnéticas propagadas no espaço, ainda se mantém no coração de milhares de ouvintes ao redor do planeta. Como explicar isso? Parece que o interesse e a audiência permanecem mais do que nunca na vanguarda do que é ou não relevante em termos de qualidade musical.

Conseguir ser fonte de informação nova é um desafio que exige muito trabalho, mas que resulta em uma espécie de filtro para ouvintes que recebem uma quantidade massiva de músicas lançadas todos os dias, muitas delas de boa ou péssima qualidade. Outra forma que as rádios descobriram para se manter relevantes é que é preciso adaptar-se as realidades locais em que estão inseridas. Este é um poder que plataformas de alcance global ainda não conseguiram alcançar e os veículos que se comprometerem a entender e ajudar a moldar os interesses musicais de uma região especifica, se colocarão um passo a frente.

Com um alcance estimado em mais de dois milhões de ouvintes distribuídos em 50 cidades do litoral norte e vale do Itajaí, a rádio Jovem Pan, 94,1 FM, se distingue há muitos anos por justamente ser pioneira neste olhar de conexão com a agitada vida noturna da região. Estando inserida no que já foi considerada a meca da música eletrônica no Brasil, a rádio tem uma história muito particular de difusão da dance music de forma acentuada em sua programação diária. Uma das personagens centrais desse amplo domínio da música eletrônica na programação da Jovem Pan de Itajaí/Balneário Camboriú, se chama Luciane Chiodi.

DJ, jornalista, locutora e radialista há 20 anos, ela é sem dúvidas uma das responsáveis por ajudar na tão importante renovação da cena local, empurrando com muita personalidade tracks que fogem do modismo e estão definitivamente conectadas com o nível conceitual de um dos polos mais avançados do mundo no que tange qualidade de clubs e público. Assim como esse colunista que vos escreve, milhares de pessoas descobriram o poder da música eletrônica através de programas lendários produzidos pela rádio desde os anos 90. Conversamos com ela para saber mais como funciona todo esse processo, afinal, a música eletrônica está presente em horários de grande audiência na grade da rádio, através de programas como “Só as melhores’’ e “Sunset’’. 

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Resgate histórico, por Luciane Chiodi

História rádio com a música eletrônica

A história da Rádio Jovem Pan 94,1 FM se confunde com a própria história da música eletrônica em Balneário Camboriú, no litoral e também em todo o vale do Itajaí em Santa Catarina. Desde que nos filiamos à Rede Jovem Pan SAT em 1996, a programação passou a ser direcionada aos jovens que ouviam na rádio uma extensão do que curtiam nas pistas das principais baladas e casas noturnas da região. Destaque para o Baturité, Ibiza, Djun Music Place, Mein Bier, Green Valley, Kiwi Bar, Divine Beach Club e mais tarde com o Warung.

Um dos programas mais emblemáticos, que entrou para história foi o Baturité Power Mix. No ar de 1996 até o encerramento das atividades do club em 2008, o programa era produzido e mixado pelos DJs Celso e Handerson, e apresentava os maiores sucessos da pista do Baturité. Naquele tempo, eles importavam os discos de vinil do exterior para poder tocar na pista e também no programa da rádio. Era muito comum os ouvintes gravarem esses programas em fita K7 (vários já me falaram que tem esse material até hoje).

O Club Baturité acabou e de anunciante, o proprietário Nato Salvati passou a ser diretor da Jovem Pan 94,1 FM. Com a chegada do Nato na Rádio, a importância da música eletrônica passou a um patamar mais elevado e mais valorizado. Por ser um apaixonado pela música eletrônica, ele reforçou a parceria com o Green Valley, Warung e tantas outras casas e beach clubs da região, para continuar levando aos ouvintes o melhor da música eletrônica mundial através das ondas da rádio. Hoje em dia, quem quer saber o que rola nessas casas precisa ouvir a Jovem Pan Itajaí/Balneário Camboriú.

“Passamos a tocar aquilo que outras rádios e até mesmo as baladas nunca tinham tocado. Saímos do `mainstream`, do convencional”.

Papel da rádio na difusão da cultura eletrônica regional

São muitos os relatos de ouvintes super fiéis que acompanham a Rádio Jovem Pan Itajaí/Balneário Camboriú 94,1 FM desde 1996, justamente por conta da nossa veia eletrônica. Nesses anos todos, a rádio mudou, a internet chegou com tudo, as redes sociais revolucionaram o contato com os ouvintes, a cena eletrônica se transformou e a rádio precisou perseguir novas tendências para inovar e cativar os ouvintes que continuam sendo “jovens” (de idade ou espírito).

Em 2012, fizemos um mergulho mais profundo na música eletrônica mais conceitual e começamos a apresentar para os nossos ouvintes um som diferenciado. Começamos a fazer uma verdadeira pesquisa sonora e passamos a tocar aquilo que outras rádios e até mesmo as baladas nunca tinham tocado. Saímos do “mainstream”, do convencional. Apostamos no que chamamos de música boa, aquela que mexe com a gente quando toca, sem rótulos, sem se apegar a um estilo ou vertentes e o resultado foi maravilhoso.

Nossos ouvintes passaram a ouvir a rádio justamente porque o som é diferente e muitas vezes não ouvem nem nas próprias baladas. Garantimos assim a audiência entre os ouvintes que já gostavam de música eletrônica e atingimos aqueles que passaram a apreciar o estilo ouvindo a rádio. Diariamente, novos ouvintes se manifestam pelas redes sociais, especialmente pelo WhatsApp, dizendo que adoram o tipo de música eletrônica que tocamos. Vários já confessaram que passaram a gostar de música eletrônica ouvindo nossos programas. E são ouvintes de todas as idades e classes sociais.

Influenciadora ou influenciada?

Quando os ouvintes entram em contato conosco para saber “que som é esse”, ou ainda, quando um DJ conta que ouve a Rádio Jovem Pan Itajaí/Balneário Camboriú para saber das novidades e quando um produtor (um artista) nos procura para que toquemos a música dele, para gente isso é muito especial. Significa que nosso ciclo se completa. Ouvintes, DJ`s, produtores e baladas estão literalmente em sintonia e reconhecem a força da Rádio Jovem Pan Itajaí /Balneário Camboriú e o nosso amor pela música eletrônica.

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Critério para escolha das músicas

Temos reuniões quase que diárias para decidir o que tocar na rádio. Trocamos muitas “figurinhas” Nato e eu. Nossa pesquisa é intensa. Mensalmente, ouvimos dezenas de sets de DJs consagrados e nem tão famosos. Ouvimos produtores de todos os lugares do mundo. Semanalmente, chegamos a escutar umas 600 músicas em sites e publicações especializadas, a própria House Mag é fonte de pesquisa. Ficamos antenados aos lançamentos dos principais produtores e labels (selos) do mundo. Além disso, tem muitos artistas e amigos envolvidos com a cena eletrônica que nos procuram e sugerem sons legais.

Alcance da rádio na região

Nossa abrangência é em mais 50 cidades do litoral norte e Vale do Itajaí (de Joinville até Floripa, passando por Blumenau), a única rádio com classe especial fora da capital. Isso é muito importante, porque o som da rádio chega mais longe e com mais qualidade. Além disso, temos milhares de ouvintes que acompanham pelo site da Jovem Pan Itajaí/BC e pelo aplicativo. Estimamos cerca de 2 milhões de ouvintes em potencial.

“A proposta desde o início desse projeto foi tocar o som de produtores conceituados, mas também dar oportunidade pra galera que tá começando’’.

HM – Conte-nos sobre como você entrou para o mundo da rádio?

Nesse ano de 2018 completei 20 anos de rádio. Uma coincidência falar com você Jonas e com a House Mag, justamente nesse momento de celebração. Minha vida profissional sempre foi na rádio. Tive uma passagem pela Jovem Pan Itajaí/Balneário Camboriú entre 2002 e 2004. Depois trabalhei em outra emissora do próprio grupo e também em emissoras de outras cidades. Em 2012, voltei para a Pan, para juntamente com o Nato, aprofundar e dar início ao nosso projeto de focar na cena de forma mais conceitual e aberta para o mundo, mas olhando para o movimento da cena local.

A proposta desde o início desse projeto foi tocar o som de produtores conceituados, mas também dar oportunidade para galera que tá começando. Além disso, sou jornalista e fiz o curso de DJ pela Aimec Balneário Camboriú, o que aumentou minha bagagem cultural e musical em relação a música eletrônica.

HM – Quais são as suas influências dentro da música de maneira geral?

Amo ouvir os clássicos, em vinil mesmo, do rock, punk rock, reggae, blues e claro, música eletrônica. Artistas como Pink Floyd, Eric Clapton, The Smiths, The Clash, Ramones, Depeche Mode, Kraftwerk, B.B King, John Lee Hooker, Lou Reed, Rooling Stones, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Bob Dylan, Bob Marley, The Doors, Chuck Berrry, Moby, Booka Shade. A lista é longa!

HM – Como aconteceu sua introdução na música eletrônica?

Sempre ouvi música eletrônica, desde que comecei a trabalhar em rádio. A gente sempre recebia os DJs das casas noturnas que vinham trazer as músicas para gravarmos os comerciais. Minha voz sempre foi muito atrelada as casas noturnas. Lembro que o primeiro comercial para balada que gravei foi pro Ibiza. Depois Baturité, Mein Bier, Djun, Divine, outras tantas casas e festas. Hoje tenho a honra de gravar pro Taj Bar e Warung. Então a música eletrônica sempre esteve presente na minha vida radiofônica. Além disso, ao longo desses anos de profissão, tive a oportunidade de entrevistar muitos DJs e produtores de música eletrônica e em cada conversa uma verdadeira aula.

Como Dj, jornalista, radialista e locutora, hoje na rádio me sinto muito feliz por poder exercer minha profissão como uma verdadeira Disc Jockey na essência da palavra. Me remonto aos tempos em que nas grandes rádios, principalmente da Inglaterra e Estados Unidos, os apresentadores das antigas recebiam os discos e selecionavam as músicas para apresentarem aos seus ouvintes. Isso é mágico. Faço na rádio o que faria numa pista.

HM – Podemos pedir por três produtores favoritos?

Apenas três? Adoro Solomun, Maceo Plex, GusGus, Rufus du Sol e o som da Blancah. Posso ainda citar o lindo projeto do Elekfantz e Gui Borato.

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“Turma do 8°Período de Publicidade e Propaganda noturno da Univali de Itajaí’’

HM – Quais as suas faixas favoritas desde que voltou ao comando do “Só as melhores’’?

Gosto muito de músicas com vocais. Para mim, os sons mais marcantes desse período para cá e que fizeram nossos ouvintes “pirarem” foram:

Talking Heads – “Psycho Killer” remix Lexicon Avenue

Yahel & Eyal Barkan – “Voyage” remix Eelke Kleijn

Sharam – “Be the Change”

Foals – “Late Night” remix Solomun

Mahmut Orhan – “Game of Thrones” remix Boral Kibil Khaleesi

Younoutus – “Sundaze” remix de Stereo Express

Amirali – “Beautiful World”

Imany – “Don´t be so Shy” remix Filatov & Karas

London Grammar – “Hey Now” remix Sasha

Claptone feat. Jaw – “No Eyes”

Gusgus – “Crossfade” remix Maceo Plex

Sasha – “Out of Time” remix Patrice Baumel

Rüfus du Sol – “Innerbloom” remix H.O.S.H

Jonas Rathsman feat. Josef Salvat – “Complex” remix Serge Devant

Maceo Plex – “Polygon Pulse”

CamelPhat & Elderbrook – “Cola”

Hot Since 82 feat. Jem Cooke – “Buggin”

Housenick – “Save me Baby” remix de Nayo Bitz

Quero, em nome da Jovem Pan Itajaí /Balneário Camboriú, agradecer a você Jonas e também a House Mag pela oportunidade de expor um pouquinho do nosso trabalho. Uma grande honra contar para vocês uma parte da nossa história. Parabéns pelo lindo trabalho que você e a House Mag realizam. Gostaria de convidar os seus leitores para ouvirem nossos programas na rádio pela 94,1 FM. Muito obrigada e vida longa para todos que promovem a cena eletrônica!

 


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