O amplo know-how da dupla Fractal Mood

Por redação

Foto de abertura: divulgação

A amplitude de conhecimento é um fator decisivo junto a artistas que trabalham no cenário da música eletrônica em diferentes frentes. Somente através dela é possível proporcionar uma boa entrega em projetos ligados a discotecagem, produção musical e engenharia de áudio, por exemplo.

O estudo aprofundado de cada um destes setores se apresenta como uma válvula fundamental para aqueles que buscam se estabelecer na indústria na posição de formadores de opinião. O duo paulistano Fractal Mood, por exemplo, é um belo exemplo do poder que iniciativas como essa possuem no desenvolvimento de uma jornada frente a dance music.

Famosos por suas diversas contribuições frente a cena underground paulistana, Henrique Marciano e Guilherme Picorelli estão cada vez mais expandindo a atuação do projeto para o âmbito internacional. Prova dessa preocupação do duo é o recente EP “Assim”, lançado pela Kindisch, sublabel da Get Physical. A nosso convite, Henrique e Guilherme conversaram com exclusividade sobre os principais pontos.

HM – Olá, tudo bem? É um prazer falar com vocês. Após um certo hiato, vocês estão lançando o segundo EP do Fractal Mood em um intervalo de poucos meses. “Heimatlos” e “Assim” representam com profundidade o atual momento sonoro do Fractal Mood?

Olá! Mais uma vez agradecemos o convite para falarmos por aqui. O segundo EP pela Kindisch é composto por duas músicas que já estamos utilizando no live desde julho de 2017. São faixas escritas mais ou menos em 2016 e ao iniciar o projeto do live fizemos alguns ajustes de mix e arranjo para compor melhor a presença delas no live. Vale lembrar que o EP “Heimatlos” também é formado por duas tracks que estão no live.

Nossa música atual esta mas orientada para o dancefloor, mas continuamos compondo também downbeat e experimentos audiovisuais em parcerias com outros artistas. No momento estamos reescrevendo a “Petit Terrible” para uma instalação visual do artista Bruno Bez de Florianópolis. Então sempre estamos fluindo musicalmente entre a sinestesia e a pista, da malemolência ao caos.

HM – “Petit Terrible” marcou a estreia de vocês pela Kindisch, certo? De lá pra cá, como vocês avaliam a jornada de evolução do Fractal Mood? Algo mudou na forma como vocês se relacionam com a música?

Exato, “Petit Terrible” foi nosso EP de estreia pela Kindisch. A ideia com este trabalho era poder apresentar um EP que captasse algumas das facetas que marcaram o Fractal Mood no mundo da música eletrônica, que no caso seria o downbeat. O EP “Petit Terrible” foi um marco para nós, pois criou esta conexão com uma gravadora alemã que achamos interessante e nos motivou a partir para esta jornada do live, que já passou a ser focado em músicas mais rápidas e dançantes.

O trabalho de produção do nosso live tomou aproximadamente nove meses para a sua concepção. Conseguimos em um ano e meio apresentar este formato em 10 oportunidades e cada vez sentimos uma evolução natural na performance. A relação com a música continua sempre evoluindo com novas referências e técnicas.

HM – Somos muito curiosos a respeito do processo criativo de duplas e trios. De uma forma geral, vocês possuem tarefas separadas dentro do projeto? Como funciona o workflow de vocês?

Temos muitas maneiras de trabalhar, tanto no formato dupla, quanto em colaborações com outros artistas. Geralmente quando estamos só nós dois no estúdio, começamos um loop com as máquinas e partimos para uma sessão de gravação como jam session ou gravando os overdubs individualmente. Nosso workflow sempre passa por composição/gravação, arranjo, mix e finalização.

Acreditamos que a música é um processo colaborativo e não individual. Ela é um retrato do nosso “espírito do tempo” e caminha sempre imprimindo nosso subjetivo em arte, seja ele no formato/suporte que estivermos trabalhando.

HM – O EP “Assim” chega às plataformas digitais com uma série de colaborações com produtores brasileiros. O que esses nomes representam para a história do Fractal Mood?

Como explicamos anteriormente, a música para nós é um processo coletivo. Isso moldou a rotina em nosso estúdio, as sessions, sempre uma experiência diferente, estéticas opostas se complementando fazem desta dinâmica um processo de aprendizado para nós, o que julgamos muito interessante. Experimentamos linguagens novas sempre a procura da nossa identidade enquanto artistas.

Mari Ferrucci, Eric Foxx e 90’s Kids estiveram conosco neste EP e continuamos caminhando juntos em nossa parceria no núcleo artístico Folklore, onde vamos além da música e compartilhamos existência em nossos encontros e festas, sempre cultivados com muita música. Junto conosco na empreitada Folklore, estão algumas pessoas específicas que compartilham suas experiências musicais conosco: Ney Faustini, Brunne, Rodrigo Coelho (Grassmass), George Alveskog, Mind Mischief e Matheus Leston. Além dos já citados, neste semestre já passaram aqui no estúdio trabalhando em colaborações: Rafael Moraes, L_cio, Magal, Paula Chalup e Rômulo Lopes.

HM – O que vocês podem nos contar a respeito da influência do movimento independente de São Paulo na formação musical do Fractal Mood?

Tivemos, e temos, a oportunidade de participar deste movimento de festas que vem marcando São Paulo, seja como artistas, na produção ou ainda com projetos de engenharia de som. Passamos pelo D-Edge, Capslock, ODD, Mamba Negra, Soul Set, Gare e Folklore. Toda essa experiência nos mostrou uma gama imensa de novos sons e estilos musicais, explorado por uma juventude muito interessante, o que de fato agregou muito em nosso conhecimento e experiência musical.

HM – Quando falamos em festa, automaticamente as pessoas atribuem a dança também. Como é pra vocês trabalhar com essa expectativa e guiá-las até algo que seja marcante em um determinado período de tempo?

Vemos e procuramos a atemporalidade musical, seja no quesito composição como nas nossas apresentações, seja como DJ set ou no formato live. A música deve se manter no patamar da dúvida temporal quando falamos de estética. Isso reflete diretamente na mensagem difundida artisticamente e por consequência na pista de dança. A dança é um ritual, seja individual ou coletivo, de sublimação da individualidade dos seus praticantes.

HM – Para finalizar! Como vocês enxergam o desenvolvimento da música eletrônica no Brasil nos próximos quatro anos?

Acreditamos que cada vez mais novos participantes da música eletrônica contribuem para que a qualidade da música evolua. As festas tiveram e têm um papel fundamental para abrir espaço para a nova geração de produtores e músicos se apresentarem. A “cena” passará a ser cada vez mais musical, focada em sua criação. Notamos há algum tempo uma grande expansão de festas com subgêneros (ou variações) na cidade de São Paulo, apresentando assim a possibilidade de existir uma evolução da “cena” e do mercado. Em relação ao cenário nacional, também acreditamos nesta expansão através da música e não somente com relação aos eventos.

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