POR Marcelo Madueño
O começo da primavera é um momento bastante emblemático para o europeu. A paisagem, agora não tão gélida, já sinaliza que em breve o calendário de festivais estará recheado por todo o continente; e, quando o assunto é techno, quem abre alas é o Time Warp. Iniciado em 1994, o festival — que tem sede em Mannheim — é o mais antigo do gênero e já circulou por oito cidades alemãs e outros seis países (à exemplo de Holanda, República Checa e EUA). Com tanta bagagem nas costas, iniciantes e experientes são nivelados na pista de dança pela grandiosidade da experiência musical.
Tudo tem começo, meio, fim e after.
COMEÇO
Minha chegada em Mannheim foi prematura: cerca de três dias antes do evento. Tendo cerca de 300 mil habitantes, é dedicada à indústria química e possui uma das melhores universidades da Alemanha, cuja escola de negócios da música é a única do país. Considerada patrimônio histórico pela UNESCO, seu dossiê contou com a presença do Time Warp para ser aprovado.
MEIO
Um dia antes a cidade ainda parecia bastante calma, porém com duas pré festas sendo realizadas nos clubs que pertencem aos produtores do festival. Com propostas complementares, o club Zimmer apresentou Patrick Topping e Steffen Deux, enquanto o Loft recebeu Chris Liebing e Rod Malmok. Nenhum lotou e era nítido que as pessoas estavam se resguardando. O melhor momento da noite se deu no Loft através do duo local Confidns, que fez um long set de techno/ acid/ break beat em um espaço projetado dentro do fumódromo. Tendo em vista essa ótima entrega, foram escalados para tocar novamente, desta vez na principal após Liebing, segurando o público até o encerramento.
FIM
A chegada ao local foi a mais tranquila que já tive até hoje. As ruas pareciam vaziam, como se não houvesse evento. Por quê? Os órgãos públicos têm uma parceria com o Time Warp e disponibilizam trem e VLT grátis para todos que viessem a partir de Frankfurt. São 20 mil pessoas distribuídas em seis pistas, em que a primeira começa 19:30h e as últimas (2 e 3) terminam às 14h do dia seguinte — com os palcos 4, 5 e 6 indo até às 10h. Na entrada lê-se “a verdade está na pista de dança”.
Às 22h os seis espaços estão abertos e então é possível entender um dos elementos que colocam o festival como uma referência mundial: todos os artistas são headliners. A minha sequência foi Dubfire, Sven Vath, Adam Beyer, Rodhad, Ben Klock, Laurent Garnier, Ricardo Villalobos b2b Raresh, Len Faki e Nina Kraviz, com destaque para Ben Klock. O artista costuma tocar uma linha mais sóbria, linear e hipnótica, mas após o set cheio de energia de Rodhad, ele deu uma aula de versatilidade, técnica e seleção musical.
Porém, a surpresa pra mim tem nome: Dubfire. Já o vi em tantas apresentações ruins que não o colocaria em nenhum line-up. Talvez a energia do TW, o abandono daquele bassline ultrapassado da M_nus, a lua cheia… Enfim! O set foi bom, fez jus ao horário e mexeu com a pista.
Em um prato cheio dos melhores artistas do gênero, todos no mesmo lugar, entram em jogo outros diferenciais: cenografia e técnica (som, luz e vídeo). A vibe é uma “experiência de club gigante”, e lá toda pista se torna uma caverna blindada da luz do dia, banhada por um show de luzes muito mais completo do que já vi em qualquer outro festival. A cenografia dá um toque avançado no teto dos dois principais palcos: um deles desenhado com fios de LED que formam uma teia, e outro com “bolhas” suspensas e iluminadas por flashes que parecem uma tempestade. Ah, e o som? Alto e em bom tom, obrigado!
AFTER
Ir embora sempre é algo trabalhoso, mas não em Mannheim. Após dez minutos do encerramento estávamos dentro do taxi em direção ao after no club Zimmer. Ao entrarmos já avistamos Butch saindo do banheiro, e ao descer as escadas me deparei com o Sven Vath tomando shots de tequila com três amigos. Olhamos para os decks e lá estavam Seth Troxler, Nastia e Marco Carola em um b3b. Seis horas se passaram para finalmente dizermos adeus a nossa energia e a uma maratona a ser repetida em todos os anos.