O Tresor foi fundado em 1991, poucos depois da reunificação da Alemanha e da queda do Muro de Berlim. O clube foi estabelecido por Dimitri Hegemann. O local escolhido foi o cofre de um antigo armazém no coração do antigo setor leste de Berlim, próximo à Potsdamer Platz. Esse espaço, abandonado por décadas, era um porão claustrofóbico, com paredes de concreto, portas de aço e cofres antigos, criando uma estética crua e industrial que se alinhava perfeitamente com o som do techno e o momento sombrio vivido no país.
A história do Tresor está intrinsecamente ligada à reunificação da Alemanha e ao clima de liberdade e experimentação que marcou Berlim nos anos 1990. Após a queda do Muro, a capital tornou-se um caldeirão cultural, com prédios abandonados e uma juventude ansiosa por liberdade, novas formas de expressão e acima de tudo, recuperar o tempo perdido. O clube surge nesse contexto como um espaço onde jovens do leste e do oeste de Berlim se uniam na pista de dança, superando as divisões políticas e culturais.
A primeira unidade operou de 1991 até 2005. Durante esse período, enfrentou constantes ameaças de fechamento devido a arrendamentos de curto prazo, mas conseguiu se manter como um ponto de referência global para o techno. O Tresor não era apenas um clube, mas também uma plataforma cultural: no mesmo ano de inauguração, foi fundado o selo Tresor Records, que lançou artistas fundamentais do techno, como Jeff Mills, Juan Atkins, Blake Baxter, Robert Hood. O clube também foi palco para DJs locais como Tanith, Rok, Dr. Motte e, mais tarde, Ben Klock e Marcel Dettmann.
A estética do Tresor, com sua atmosfera escura, úmida e industrial, amplificava a potência do som techno. A pista de dança era envolta em névoa, com luzes estroboscópicas e um sistema de som potente como pede a música eletrônica.
Em 2005, o Tresor original foi fechado após a venda do terreno para um grupo de investidores que planejava construir escritórios. A porta de aço do clube, um símbolo de sua história, foi preservada e hoje está em exibição no museu BERLIN GLOBAL, representando a história berlinense e como a cidade se relaciona com o mundo.
Em 2007, o Tresor foi reinaugurado em um novo local. Esse espaço maior, com vários andares e uma área externa, manteve a estética industrial, mas expandiu a programação para incluir eventos multimídia e exposições de arte. O novo Tresor tem dois espaços principais: o Tresor floor, dedicado ao techno como em suas raízes, e o Globus, voltado para sons mais suaves, como house.
Ainda hoje, o Tresor se mantém entre os principais clubes do mundo por toda sua relevância não apenas musical, como cultural para que a cena alemã se tornasse uma referência para todo o universo da música eletrônica. O local é destino de milhares de clubbers todos os anos, principalmente em suas icônicas festas comemorativas como aniversários e viradas de ano que chegam a durar dias e até semanas ininterruptas. A construção de identidade da juventude alemã dos anos 90 teve em sua pista escura e dançante um ponto de partida central, no qual a partir da vivência dessa nova experiência criou um senso de comunidade e unidade que permeia até os dias atuais.
Por Adriano Canestri