Por que é tão prejudicial divulgar a track não lançada do seu artista favorito?

Por Luiza Serrano

Foto de abertura: divulgação

Você já deve ter ouvido a expressão “ripar”. Ripar, na música eletrônica, significa extrair o áudio de uma música sem autorização. Ou seja, sabe aquela música que você está louco para ouvir no repeat e ainda não foi lançada, mas, que está no set do seu artista favorito?

Pois é, algumas pessoas utilizam desse mecanismo para adquirir essas músicas ilegalmente e disponibilizá-las em canais do YouTube, SoundCloud ou Spotify, com uma qualidade inferior de quando essa track é oficialmente lançada – beeeeeeemmmmm inferior – e o pior, sem o consentimento do artista.

Gaba Kamer, responsável pela curadoria das tracks lançadas pela UP Club Records, vê essa prática como prejudicial para vários lados do mercado musical. “Você tira horas para fazer um trabalho, tem todo um planejamento, e a primeira parte dele é começar a tocar para galera. Aí, vem alguém, tira essa música e deixa disponível para todo mundo”, explica.

Ao liberar ilegalmente uma track antes do lançamento, você quebra todo esse cuidadoso planejamento de distribuição, atingindo, principalmente, o seu artista preferido. Por exemplo, quem vai querer fazer o pre-save de uma track que já está na sua playlist? Esse mecanismo de pre-save contribui para que a música saia nas principais playlists do Spotify e tenha maior visibilidade. O produtor Pedro Maia aka Mochakk ainda levanta outro ponto importante sobre essa prática ilegal, a de que você prejudica a vendas das músicas em plataformas como o Beatport, uma importante forma de monetizar o trabalho dos produtores. “Vazar pós lançamento já é muito ‘paia’, prejudica as vendas das tracks e faz o artista que você gosta não receber o que ele deveria receber com a compra da track no Beatport, por exemplo, antes ainda, aí fu…”.

mochakk_500
Mochakk – Foto: divulgação

Em tempos de quarentena, nos quais os artistas não podem se apresentar, essas plataformas de streaming são ainda mais aliadas, monetizando esse trabalho de produção musical. Ou seja, ripando, você não ajuda e ainda atrapalha o produtor que é fã.

“Ripar” é uma prática, infelizmente, constante no universo da música eletrônica, porém, recentemente, tem ganhado maior visibilidade diante do fácil acesso às plataformas de streaming, tanto de quem age ilegalmente, tanto dos artistas prejudicados, que têm se posicionado mais fortemente com relação a esse tipo de prática.

Há algumas semanas, o produtor Fluxzone teve, mais uma vez, uma de suas tracks vazadas. Na ocasião, uma pessoa extraiu a música que ainda não estava disponível e a colocou à venda em uma plataforma. “Eu pesquiso sempre as minhas músicas para ver se vazou ou não. Nos últimos meses rolou bastante”, conta Paulo Maia. “A track que eu vou lançar em maio vazou no Youtube. É muito chato isso e ainda ilegal. É uma produção que você tem direito sobre ela”.

fluxzone_500
Paulo Maia aka Fluxzone – Foto: divulgação

Para piorar, Fluxzone encontrou uma de suas músicas ainda não lançadas em um pacote com outras 200 tracks de artistas, entre eles o Breaking Beattz. “Não faço ideia de como o cara conseguiu. Fez um arquivo com as 200 músicas e estava vendendo por R$35”. Até o fechamento desta matéria, Paulo aguarda a análise da denúncia do conteúdo no YouTube. “A gente tenta resolver da melhor forma possível, mas já tá chato e cabe processo”.

Agora, o caso da vez é o do Vintage Culture, que teve algumas de suas músicas “vazadas” antes do lançamento. Em sua conta no Instagram, nos Stories, ele se posicionou sobre a situação e fez um apelo para que as pessoas parem de burlar o processo, além de pedir a remoção das músicas. “Isso atrapalha muito o lançamento. A gente faz a música com todo carinho, faz um planejamento de lançamento, faz clipe, faz vídeo, a gente trabalha 24 horas nisso. Aí, vem uma pessoa e vai lá e posta, não faz sentido”, explicou Lukas.

vintage_500_05
Vintage Culture – Foto: Fabrizio Pepe

“A música está no set ouve ela lá. Tenho 60 músicas novas aqui, como vou tocar todas essas músicas para vocês se depois vão estar disponíveis na internet e quando eu for lançar todo mundo já conhece? ”, finalizou.

O que assusta é que, além das tracks não lançadas, a disponibilização de remixes. Para que uma música fique acessível no Spotify, é necessário ter uma gravadora e uma distribuidora responsável por disponibilizar os lançamentos nas plataformas de streaming. No caso do remix, o processo é ainda mais burocrático, pois envolve a sua legalização. Dessa forma, são várias irregularidades que são passíveis de processos legais movidos pelos artistas envolvidos. “Isso viola muita coisa. Primeiro que não há contrato assinado pelo artista, nem do artista que fez o remix muito menos do autor da versão original. Isso pode causar problemas para todos os lados”, explica o A&R da UP Club Records.

gaba_500
Gaba Kamer – Foto: divulgação

“Estou impressionado com tamanha força de vontade e empenho para fazer uma coisa dessas, onde todos perdem e até mesmo o artista que ele tanto gosta”, completa Gaba que revela que o produtor da track original pode vir atrás da gravadora e do artista, que terá que provar que não disponibilizou a versão na plataforma. “Até provar, vai gerar uma enorme dor de cabeça”, afirma. “Algumas vezes, a label interessada pelo lançamento pode até desistir com toda essa situação. Quem faz isso prejudica demais o artista que ele tanto ama a música”.

O DJ e produtor Pedro Maia aka Mochakk, já cogitou lançar apenas em mídia física. As faixas completas seriam disponibilizadas apenas para os DJs amigos mais próximos. “Vai ser o jeito se continuar assim. Não vou nem disponibilizar para compra, só mídia física. Quem comprar assim vai dar valor ao negócio, vai saber que é exclusivo. As gravadoras gringas como Digwah e Treasure Series já fazem isso, você não acha a track para baixar na internet, a música saiu há três anos e você não acha. Quem quer compra o vinil, e quem tem, não vai vazar”.

Agora, entendendo todo o processo de monetização das tracks do seu artista favorito, talvez, seja mais fácil compreender a importância de não soltar a track ilegalmente antes do seu lançamento, ou pós lançamento. Ter uma música “ripada” não te faz ter exclusividade, pelo contrário, prejudica o trabalho do seu artista preferido. Se você ver alguma track ainda lançada do produtor que você gosta em alguma plataforma de streaming, denuncie, não compactue com essa prática.

Curta os spoilers dos seus artistas nos sets disponibilizados oficialmente por eles, aproveite, compartilhe, comente. Essa é a melhor forma de fazer com que a música que eles fazem reverbere. Apoie o seu artista, não “ripe”!

Fique por dentro