Por Kelysson Duarte
Foto de abertura: divulgação
Na última segunda-feira, 13 de abril, precisamente às 18 horas (horário de Brasília), Eric Estornel, conhecido pela alcunha de Maceo Plex – um de seus vários projetos – apresentou uma live que, antes de ser uma apresentação musical, veio como uma mensagem objetiva por meio da arte para um futuro melhor.
Para iniciar o papo sobre essa apresentação, preciso inserir alguns assuntos que norteiam a alma criativa de Eric, que sempre tenta encaixar signos nas suas apresentações apoiando-se na arte, mais precisamente, no Surrealismo, tão famoso nas mãos de Salvador Dali, que intencionalmente é a imagem da sua gravadora Ellum.
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O Surrealismo por definição é um movimento de expressão espontâneo e automático do pensamento, ditado apenas pelo inconsciente, um ponto chave que permeia as obras de Eric, afinal, a música como arte nasce desse ponto, espontaneidade e inconsciente. É a forma que absorvermos essa arte que nos traz seu devido valor, seja como entretenimento ou reflexão.
Já com esse conceito fixado, podemos perceber nesta apresentação o inconsciente do pensamento de Eric agindo para transmitir a mensagem que está motivado a revelar.
Primeiramente, o nome escolhido por Eric não foi sem intenção. “The World Is Yours” é um conceito que foi reaproveitado do filme “Scarface” – disponível no Netflix – dirigido por Brian De Palma e apresentado por Al Pacino, no personagem Tony Montana, em uma sequência marcante durante uma conversa dentro do carro. “O que a vida te reserva Tony?”, questiona. “O mundo chico, e o que ele lhe oferece”.
Ao longo da obra, tanto nos letreiros do Zepelin e na decoração da residência de Tony, essa frase é persistente pela jornada do filme e também na apresentação de Maceo Plex: “The Worls Is Yours”.
No início do set é possível perceber o cenário da casa de Tony Montana, usado como inspiração que traça um paralelo da determinação do personagem e também de todos nós. Na música, a sua introdução vocalizada, já aguardada em todas às apresentações, leva a uma mensagem singular. Nesta, em específico, ele nos agraciou com um vocal-poema escrito em 1993, pelo alemão Ithaka Darin Pappas, mais conhecido pelo lendário duo de trance alemão Cosmic Gate.
Parte deste poema pode ser interpretado como “esqueça o passado e aproveite o que a vida tende a lhe presentear no futuro”, ou, simplesmente, aproveite o momento e esqueça tudo que passou. “The end of the Earth is upon us. Pretty soon it’ll all turn to dust. So get up. Forget the past.” Confira a letra completa aqui.
Por toda apresentação, conseguimos perceber que as imagens de background têm baixa qualidade, o que chega a parecer uma falta de preocupação, desleixo. Mas, só então, entramos no real significado abstrato da mensagem. A importância da mensagem por si só não depende de um papel bonito e bem trabalhado, mas do sentimento que deseja transpor. E isso se conecta perfeitamente ao significado da arte em suas nuances mais simples e objetivas.
Ao deixar de lado esse preconceito inicial, conseguimos perceber outras mensagens na tela, como cidades e cartões postais que foram bombardeados por uma imensidão de imagens mostrando estes mesmos pontos turísticos vazios, exemplo já apresentado logo no início, com Duomo Di Milano e sua cidade de Milão ao redor, um dos locais mais afetados pela pandemia em seu estágio inicial.
Esse formato de apresentação pode ser acompanhado durante todo o tempo, intercalado com imagens do Google Earth para simular o passeio pelo nosso ecossistema e diversas cidades acometidas pelo momento atual.
Já próximo ao final da live, imagens do nosso cotidiano, que tanto esperamos ter de volta, e do espaço, o qual a humanidade sempre viu com mistério e, também, como a esperança de um futuro. Carl Segan objetivamente já nos presenteou com frases como “há milhares de coisas, lugares, pessoas, ‘poeira cósmica’ para serem descobertas à sua frente: só falta você se jogar”. O futuro está lá fora.
Por fim, é chegado ao ápice da mensagem com a track “The Light 3000”, de Schneider TM & Kptmichigan, uma releitura eletrônica dos anos 2000, que tem na sua composição a letra da clássica trilha e mais primorosa “There is a light that never goes out”, da banda “The Smiths”. Uma letra que já foi compreendida por vários como além do seu tempo, e que carrega uma linda mensagem de gratidão.
Como no filme de Brian De Palma, e na apresentação de Eric, ficamos com a mensagem: “The World is Yours”.