Por Marllon Gauche
Foto de abertura: divulgação
Não é de hoje que a união das mentes criativas gera resultados acima do esperado, afinal, aquele velho ditado “duas cabeças pensam melhor do que uma” sempre fez muito sentido. Foi o que aconteceu na última parceria da marca streetwear Pornograffiti com a festa Tantša e o artista plástico Felipe Risada aka RiR, que juntos deram vida a uma camiseta estampada original e repleta de detalhes inovadores.
Segundo Risada, a peça levou símbolos fortes e universais que representassem bem a ideia das duas marcas juntas. A etiqueta, por exemplo, faz referência à música eletrônica com ícones de download, endereços de arquivos do windows e gráficos de softwares musicais. A camiseta ainda carrega diversos elementos cada um com seu significado, agregando um valor ainda maior para essa “obra de arte”.
Ficamos curiosos para desvendar e conhecer mais o trabalho envolvido por trás dessa colaboração super especial, então resolvemos bater um papo diretamente com RiR, o responsável pela ilustração da peça. Confira!
HM – Olá, Felipe! Tudo bem? Primeiramente obrigado por nos atender. Em que momento da sua vida você começou a se expressar artisticamente? E quando isso virou seu trabalho de verdade?
O prazer é meu em poder contribuir com vocês. Desde que me conheço por gente eu já gostava de desenhar. A pichação fez parte fundamental na minha alfabetização. É desde pequeno mesmo! Aprender naturalmente a perceber o desenho nas letras, suas variantes e o entendimento disso de várias formas foi muito importante. De aí em diante foram muitos gibis, histórias em quadrinhos, desenhos animados e claro, sempre observando muito a cidade e suas inscrições.
Felipe Risada – Arte de Rua – Foto: divulgação
HM – Há oito anos você faz criou o Rolinho Bros ao lado de Pixotosco. Qual a ideia principal de se unir com outro artista e criar esse projeto?
O processo foi bem natural, eu já conhecia o rolê do Pixotosco e achava super foda por ser de rolinho, bem simples, mas muito forte e original! Ele encaixa aquele dragão em qualquer equipamento urbano, qualquer mureta já cabe um pixotosco. Aí conheci ele pessoalmente através do Mundano, numa festa, e coincidentemente trocando ideia vimos que morávamos no mesmo bairro, então comentamos de fazer um rolê juntos.
Nós percebemos que usávamos sempre as mesmas cores, o mesmo material (o Rolinho e a Tinta!) e que era isso que fazia a nossa diferença, ser 100% rolinho e 0 spray! É uma coisa bem séria pra nós. Isso faz todo sentido com nosso estilo de desenho e de vida! Aí começou como uma brincadeira apelidar os nossos rolês de “Rolinho Brothers”, para encurtar e ficar mais fácil, virou “Rolinho Bros”.
E a ideia é essa, levantar a bandeira da tinta látex, vestir a camiseta do Rolinho, já que é uma coisa sustentável, reutilizável, muito econômico. Enfim, tem milhões de qualidades [risos]. Essa nossa união é bem importante, foi um encontro de estilos parecidos que nos proporcionou várias conquistas juntos. A união faz a força. Nesses oito anos juntos com o Rolinho Bros crescemos graficamente, vieram outros personagens, o galão de tinta com a cartola, a gota serena, as ‘caretinhas’ dos rolinhos e por aí vai.
Rolinho Bros – Foto: divulgação
HM – Apesar do seu trabalho autoral singular, imagino que você tenha algumas referências importantes. Você consegue apontar alguns nomes que influenciam na sua arte?
Dos quadrinhos, Robert Crumb, Angeli, Manara, Laerte, a Revista Animal e a Revista Chiclete com Banana eram muito fodas! Foi uma grande escola pra mim. As pinturas dos povos nativos de todo o planeta, os habitantes ancestrais, grafismos rupestres, das cavernas, das tribos. Tudo isso me influenciou.
HM – Como você chegou ao estilo que possui hoje? Você trabalha bastante com o grafismo rupestre, ancestralidade, etc. Conta um pouco mais pra gente?
Sempre tive uma preocupação com o traço, com a originalidade. Ir para esse caminho do grafismo rupestre foi uma coisa de dentro pra fora, que naturalmente eu cheguei de tanto repetir o mesmo desenho de diferentes formas e materiais. Fui percebendo e observando aquilo que mais me satisfazia e fui criando essa ‘fórmula’.
Felipe Risada – Pantera enferrujada – Foto: divulgação
HM – Como artista plástico, qual seu principal objetivo? Que mensagem você pretende mostrar às pessoas com seu trabalho?
Eu gosto de fazer o traço mais simples possível para representar algo, um traço sintetizado minimalista e resgatar a simplicidade no desenho, quero valorizar isso, a economia de tinta, de traços e mensagem passada de forma sintetizada e rápida vista de longe. Como um pictograma. Acredito que a beleza está no simples, menos é mais.
HM – Recentemente você colaborou com a Pornograffiti, marca streetwear que também possui um perfil bem característico e original. A música eletrônica também faz parte da sua vida? Qual sua relação com ela?
A rua me levou a rolês de música bem foda. Os festivais ocupando o centro de São Paulo, sempre percorri a cidade de bike com tinta, minhas roupas passaram a ser todas sujas de tinta. Gosto das marcas undergrounds e gosto de música boa, tenho uma vitrola com alguns discos, gosto muito de um vinil em especial que tenho aqui do Beats International – Let Them Eat Bingo!
Tantša – Foto: divulgação
HM – E como foi desenvolver “A Dança do Escorpião”? Rolou um brainstorming entre vocês?
Foi bem legal trabalhar com o Caio, fomos trocando ideias por e-mail e chegamos num consenso bem apurado. O desenho do escorpião do logo da Pornograffiti é bem foda, é um animal forte, ancestral, tem muita simbologia envolvida. Eu já tinha alguns desenhos de escorpião nos meus cadernos, já tinha feito uma vez num muro e aí calhou de pegar esses desenhos e a foto do muro e redesenhar tudo isso, junto com outros símbolos do meu vocabulário de rua que faziam todo sentido com a proposto da Tantša e da Pornograffiti.
Foto: divulgação
Foto: divulgação
E por falar nisso, a Tantša rola em São Paulo no dia 19 de junho, na Fabriketa, véspera de feriado, com um line up especial, Dax J, ACAPTCHA, Black Snake 808, Brune, Gui Scott, HNQO, J g b, Kaká Franco, Kakubo, Ney Faustini, RHR b2b Romana, Silenzo / Urro. Saiba mais aqui.
HM – Para finalizar, como você vê o Felipe Risada daqui há 10 anos?
Não consigo imaginar isso, é sempre uma ilusão pensar no futuro, nunca me imaginei assim como sou com a minha idade. Pensar no futuro daqui um ano eu não consigo, do jeito que as coisas vão tudo pode acontecer. Não sei onde estarei nem como, mas pretendo estar ganhando a vida fazendo o que amo: desenhar!