Por Nazen Carneiro, da Coluna Tudobeats
Bem-humorado e com um conhecimento gigantesco sobre tudo o que rola numa indústria multifacetada como é a da música e do show business, Roland Leesker coleciona sucessos e uma carreira de empreendedorismo. Contemporâneo – e amigo – de alguns dos principais DJs e produtores alemães da atualidade, Roland começou a discotecar com apenas quinze anos e, à época, destacou-se junto destes artistas. Em entrevista a coluna Tudobeats o artista conta que em determinado momento cansou-se de uma competição exacerbada e procurou os meios para compreender e atuar de forma diferenciada na indústria.
Seja gerenciando uma loja de discos em Nova Iorque ou um dos selos mais importantes do mundo da música eletrônica, o Get Physical Music, Roland ouve e sente o que está rolando a sua volta como poucos. Assim, viu a ascensão de diversos produtores brasileiros e iniciou, junto de Leo Janeiro e o BRMC, a compilação Cocada Volume 1, que acaba de ser lançada e que está tendo uma série de eventos pelo país, com a participação de Roland que, antes, bateu um papo exclusivo com a House Mag, que você confere aqui!
HM: Roland, você tem uma relação fortíssima com a house music e techno, mas já revelou um gosto musical bastante amplo. Por gentileza, compartilhe com o público da House Mag, cinco músicas – de qualquer estilo – que tem escutado ultimamente.
“Phuture – Ácid Tracks”
“Kid Sister – Get Fresh (Zombie Nation Remix)”
“Milan Ariel & Juan Atkins – The future is here”
“Model 500 – The Flow”
“Francesco Tristano – The Melody”
HM: Nestes 29 anos de envolvimento com a música, você discotecou, produziu e então buscou um outro lado da indústria, graduando-se em finanças e com pós-graduação em direito. Foi gerente de produto do Ministry of Sound, fez a curadoria da sua própria gravadora – que, por sinal, figura entre as mais relevantes da atualidade – e então retomou sua carreira como DJ e produtor. Conta de onde você encontra toda essa energia empreendedora?
RL: O conselho mais importante que meu pai me deu foi concentrar-se apenas nas coisas em que eu realmente estou interessado. “Siga sua paixão e cometa erros de risco, pois você aprenderá muito mais disso do que viver uma vida média“. É isso que estou tentando fazer. O engraçado é que fazer o que amo me dá mais energia do que é preciso de mim. E sempre recebo muitas idéias e inspirações novas quando estou fazendo algo do que amo. Então esse tipo de coisa inspira-me a continuar.
HM: “My Warehouse” foi sua primeira faixa produzida quando você decidiu voltar para produzir e tocar. Compartilha um pouco desta história com o público brasileiro.
RL: “My Warehouse” é inspirada por um dos meus registros favoritos de todos os tempos: “Altered States”, por Ron Trent. Eu a toquei para o meu parceiro de produção, Philipp Maier a.k.a. Santé, quando começamos a trabalhar nesta nova faixa, depois de um hiato de produção musical de mais de dez anos… E todo o processo aconteceu muito rápido. A linha de base estava lá em menos de um minuto, aí já gravei os vocais dentro de cinco segundos com a ajuda do meu celular… E dez minutos depois, a pista estava pronta. O único problema é que coisas assim não me acontecem todos os dias e acho que vou ter que esperar outros dez anos para um momento tão mágico e inspirado (risos).
HM: Uma vez você me disse que as linhas de baixo em sua música têm algo a ver com o Brasil. Essa relação ainda está em andamento?
RL: Absolutamente, não há nada mais sexy, bruto e poderoso do que a energia de uma linha de baixo brasileira com alguns bons tambores no topo! E isso é interessante sobre a música e a forma como ela pode ser recebida pelo seu corpo e alma: quando estou virando uns discos no Brasil, eles parecem ser diferentes para mim do que em outros lugares. Ainda não encontrei o segredo por trás desse sentimento, mas acho que você pode compará-lo com um efeito semelhante com alimentos ou bebidas, que o gosto o afeta de forma muito diferente quando consumido em um ambiente bonito e relaxado com bons amigos à sua volta.
HM: Falamos no ano passado sobe o EP Cocada volume 1 quando vocês ainda estavam cozinhando ele. Agora está pronto, temperado e pronto para servir. Compartilhe algumas palavras com a gente sobre este excelente trabalho realizado ao lado de Leo Janeiro e do BRMC.
RL: Em primeiro lugar, se tivermos que dizer que Leo Janeiro, Matt Alline, Claudia Assef, Claudio da Rocha Miranda Filho, Pedro Nonato, Nuno Deconto e todos os músicos e colaboradores – toda a equipe por trás da Cocada – fizeram um trabalho fantástico! Também a arte que foi feita por Lilly e Mirjam da nossa equipe de Berlim me faz muito feliz e orgulhoso de fazer parte desse projeto! O volume 1 finalmente foi lançado e estamos comemorando este primeiro passo importante com a turnê Cocada em todo o Brasil. O próximo passo será uma sessão aberta de A&R com o Leo Janeiro, nosso gerente da A&R Matt e eu mesmo no BRMC em maio, em São Paulo, e vou adorar ver um horizonte ainda mais amplo para a turnê, bem como os lançamentos futuros – idealmente com muitos novos artistas de toda a América do Sul.
HM: No ano passado você tocou no Brasil, África do Sul, Estados Unidos, Japão e tantos outros lugares. Quais são as expectativas com esta nova turnê?
RL: Foi um belo ano, sinto me abençoado e honrado por viajar o mundo e conhecer tantas pessoas amigáveis e inspiradoras em todos os lugares que vou. Costumo tentar não esperar nada, daí nunca fico desapontado, não importa o que aconteça. Mas é claro que estou muito ansioso para ver todos os meus amigos novamente, bem como aprender a conhecer muitos lugares novos, novas pessoas e conhecer melhor a cultura brasileira e a atual situação política, econômica e tecnológica. Acredito firmemente que a música é uma linguagem universal que ajuda a criar paz e felicidades e espero que possa espalhá-la por muitos anos à frente.