Por: Chico Cornejo
Oriundo de uma das partes mais belas e antigas do território italiano, Luca Agnelli é um daqueles artistas que carregam consigo uma portentosa herança cultural e de fato a tomam como algo valioso. Fator este que certamente o ajuda a conjugar qualidades díspares como singularidade e versatilidade de modo tão harmonioso e frutífero. Afinal, seu catálogo de lançamentos é um verdadeiro mostruário de proficiência e ecletismo dentro da relativamente rígida estrutura que o Techno oferece.
E é com esse ímpeto que ele chegou nesse último final de semana ao Brasil, repleto da energia e franqueza que tornam seus trabalhos tão distintivos, conversando com a House Mag às vésperas de sua apresentação na Ressonancia em São Paulo (que aconteceu no último sábado).
HOUSE MAG – Comecemos então pela terra-natal. Você já é uma figura constante no cenário por mais de uma década e, no decorrer desse período, a Itália fortaleceu sua posição entre os bastiões do Techno europeu. Como você se vê em meio a este processo e sua contribuição para a cena mais ampla?
LUCA AGNELLI – É bem difícil responder esta primeira questão.. Acho que não me cabe dizer o que fiz ou o que faço pela cena… De qualquer modo, o que posso lhe dizer é que amo de verdade o que faço e o realizo tudo com muita paixão. Meu som está evoluindo constantemente e eu tento fazer o que gosto mesmo quando não é fácil. Então, tenho bastante orgulho de ser uma parte ativa de tudo isso.
HM – Hoje em dia é fácil notar a riqueza de sons que provêm do país, entre estéticas bem variadas. Mas, para além disso, há um senso de comunidade entre os DJs e produtores?
LA – Na verdade, não…. e é uma pena! Poderíamos muito bem estar discutindo sobre nossas próprias experiências e pontos de vista, a fim de tentar encarar a situação presente, para preparar o futuro.
HM – Já foi mencionada sua carreira, uma que se espraia por toda uma década e uma gama de selos. Você sempre se manteve profícuo e eclético para quem o acompanhasse. Como você encara o desafio de manter a consistência e sua identidade através de tantas plataformas?
LA – Eu acredito que evolução é sinônimo de vida, então eu faço aquilo que me inspira em cada período. Cada selo marcou minha carreira de uma maneira distinta e minha identidade é substancial e forte porque minha energia, minha paixão, meu estilo, minha evolução se expressam em cada faixa.
HM – Falando nisso: como foi que se deu sua ligação com a Drumcode e, mais especificamente, o remix para a faixa do Moby? Ele seguiu uma certa abordagem que você procura adotar quando vai reinterpretar algo?
LA – A conexão com a Drumcode ocorreu simplesmente porque eu mandei minhas produções para eles e eles gostaram a ponto de lançá-las… Então, como o Adam Beyer também toca uma variedade de remixes meus, um belo dia ele me contatou e me perguntou se eu topava remixar “Porcelain” do Moby. Naquele momento eu estava de férias com minha família e não tinha como começar a trabalhar na faixa, mas comecei a imaginá-la na minha cabeça mesmo assim, considerando quais partes iria usar. Como arranjá-las e como deixar minha marca nisso tudo. Claro que tendo plena consciência da responsabilidade que pairava sobre mim! Quando voltei para meu estúdio, finalizei tudo em três dias!
Trabalhar em um remix para uma lenda como Moby foi, para mim, uma conquista muito importante. Um sonho que se tornou realidade pois eu cresci com sua música e a mera oportunidade de poder colocar minhas mãos numa obra-prima como “Porcelain” me encheu de orgulho e alegria, ainda mais sendo lançada pela Drumcode!
HM – E quanto a produzir, viajar e se promover? Como funciona a concilação entre essas frentes? Jea deve ser complicado harmonizar o tempo entre o estúdio e a cabine, sem falar em se tornar o “King of Social” (título conferido na capa da DJ Mag italiana).
LA – Como acabei de lhe dizer, eu amo meu trabalho de verdade. Então, mesmo que tudo seja bem conturbado, eu aguento! Quanto a meu lado “social”, acredito que seja útil para que eu me mantenha próximo de meus fãs, já que me permite compartilhar músicas, experiências novidades com eles… Afinal, são eles que te apoiam na pista e apreciando sua música.
HM – Agora falemos do Etruria Beat. Ele evoca um senso de lugar, de pertencer a ele e representá-lo. Neste caso, a Toscana, certo? Como você concebe a seleção de talentos e faixas para seu catálogo?
LA – Exato. Desde o nome do selo você pode perceber o quanto minha região é importante para mim. Eu tento criar uma dinâmica familiar entre dos artistas mais próximos a mim, aqueles com quem não compartilho apenas música. Nós dividimos e discutimos experiências, pontos de vista, valores e nos apoiamos mutuamente. Uma família de fato. Quanto às faixas que lanço, eu apenas me interesso por aquilo que curto, faixas com alma, que tenham algo atemporal.
HM – No que se refere ao Brasil, estou seguro que sabe que abrigamos uma das maiores comunidades italianas do mundo e sua influência em nossa cultura (especialmente em São Paulo) é tida na mais elevada estima. Nossa cultura em algum momento, especialmente musical, lhe inspirou de algum modo ou em algum estágio de seu desenvolvimento artístico?
LA – Nunca fui ao Brasil, então pode imaginar que estou muito ansioso em poder conhecer o país… não me resta dúvida de que será muito inspirador! Te conto depois! De qualquer modo, poso lhe dizer sinceramente que amo a música brasileira, especialmente artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Joao Gilberto, Hermeto Pascoal…
HM – Per finire, se puder nos contar, é claro: quais são os próximos passos para você e seus projetos?
LA – Eu tenho uma nova faixa a ser lançada pela Drumcode chamada “Hyperium” na semana que vem. Vou me apresentar em alguns eventos bem legais como o festival Movement (Turim) e o ADE em Amsterdam, na festa Dockyard, assim como uma tour do Amnesia em Bucareste e muitos clubs e festas fantásticas como a Ressonancia. Também estou preparando meu próximo EP pelo Etruria Beat a ser lançado em 2018.
—