Por: Camila Giamelaro
Em fevereiro de 2016, Alan Max iniciou um dos projetos culturais que vem chamando a atenção de muita gente em São Paulo. O Batata Eletrônica não tem fins lucrativos e iniciou sob a forma de ocupação no Largo da Batata, no bairro de Pinheiros.
Depois de 15 edições, neste domingo, dia 19 de março, o Batata Eletrônica comemora 1 ano de vida e promete fritar a praça com uma grande festa que terá duração de 14h.
Como uma ocasião especial pede medidas especiais, conversamos com o idealizador desse lindo projeto que resiste às adversidades do cenário econômico e político atual.
Prazer em conhecer você e sua história, Alan Max.
HOUSE MAG – Como surgiu a ideia de criar o Batata Eletronica?
ALAN MAX – Uma vez eu tive a oportunidade de presenciar uma festa que ocorreu no Largo da Batata chamada “Fraude”. Foi realizada apenas uma edição e no line up tinham DJs importantes, como Rafael Onid. Lembro de ter ficado maravilhado com a ideia da festa. Fiquei esperando por um bom tempo ter mais edições mas o projeto não retornou. Foi aí que, coincidentemente, tive a oportunidade de conseguir comprar meus primeiros CDJs e mixer, então fizemos uma montagem de som um pouco primitiva e lançamos a primeira edição que foi um sucesso logo de cara. Tiveram muitas críticas, mas também muitos DJs vieram conhecer e saber o que estava ocorrendo, demonstraram solidariedade com o projeto e com os idealizadores. Nessa primeira edição tocaram projetos importantes como Algebra e Marcelo Ribeiro, mesmo o soundsystem não sendo adequado. Percebemos que a missão seria longa e que o Batata Eletrônica teria um compromisso com a cena.
HM – Como o Largo Da Batata, em Pinheiros, foi escolhido pra sediar o projeto?
AM – Sou morador da região e assíduo frequentador da praça. Me envolvi com o coletivo “Batata Precisa de Você”, que faz tudo aquilo que muitas vezes as próprias subprefeituras esquecem de fazer (limpeza, jardinagem, mobiliários, atividades culturais e de lazer). Desde então, o Batata Eletrônica passou a fazer parte das iniciativas realizadas por este coletivo, no entanto, hoje a festa continua ocorrendo sob a forma de ocupação. Conseguimos continuar nossas atividades dada ao apoio dos moradores e comerciantes da região, que apesar das reclamações por causa de perturbação com o som, entendem que o projeto é uma bacana e interessante para o local e para as pessoas.
HM – Porque escolheram o techno para ser o estilo que leva a festa? Você pretende incluir outros estilos?
AM – Inicialmente a ideia da festa era agregar house music e techno. Tivemos a ideia de trazer outros estilos também, mas, por experiências anteriores, percebemos que uma linha de som deveria ser mantida e que o público era bastante exigente e não toleraria ouvir qualquer coisa.
Embora o techno nunca tenha saído de cena, hoje há uma forte tendência do seu consumo em festas de rua independentes. Embora não sejamos capazes de “escolher” nosso publico, sentimos um forte interesse das pessoas em ouvir techno. Nos importamos com a questão da educação musical e de nunca perder a concepção de ser um projeto cultural que pensa em horizontes maiores da E-Music sem modinhas, sem vertentes, sem fronteiras. Por outro lado, sim, sentimos que parece que está se tornando uma festa de techno, inclusive muitos turistas estrangeiros comentam que se sentem em casa ouvindo o techno, mas amamos muito house music também!
HM – Qual o critério usado na hora de escolher os artistas do line up?
AM – Como assíduo frequentador de festas, baladas e projetos de música eletrônica, acredito que a grande ideia que norteia a escolha dos artistas do line up seja a união e a representatividade. Desde o início do Batata Eletrônica priorizamos dar uma “forcinha” aos DJs e coletivos que queriam decolar na cena. Ao contrário das outras festas de ruas independentes, os line ups do Batata Eletrônica contam com DJs de diferentes núcleos (iniciantes e evidentes). Somente no ano passado mais de 50 DJs se apresentaram nos nossos eventos. Eu, como residente do projeto, nunca me preocupei em tocar nos melhores horários, o mais importante até aqui tem sido revelar o que há de melhor no nosso cenário e que muitas vezes não é sido mostrado.
HM – Como você enxerga o crescimento das festas de rua gratuitas em SP?
AM – Por um lado eu associo esse crescimento à grande crise econômica que o Brasil vem vivendo. O público não tem mais condições de pagar uma entrada caríssima, consumir produtos com preços exorbitantes e muitas vezes receber um atendimento ruim nos clubs. Por outro lado, acredito que a festa de rua seja uma ação que valorize a ocupação responsável do espaço público e que também cria laços de pertencimento e cidadania, promovendo o encontro de diferentes classes sociais. São maneiras diferentes de promover a acessibilidade a arte e a cultura, da inclusão social, uma maneira diferente de amar a sua cidade.
HM – Você acha que com a gestão do atual prefeito será possível manter o projeto no formato atual?
AM – Acredito que este vai ser um ano bastante difícil para os coletivos de festas de ruas independentes de São Paulo. De fato nós nunca tivemos apoio para a realização do Batata Eletrônica. A gestão anterior não ajudava, mas também não atrapalhava (o que na verdade já é ajudar muito). No entanto, o que viabilizou grande parte de nossas festas foi a verba disponibilizada através de projetos da Secretaria de Cultura, como o SP NA RUA (Mês da Cultura Independente), que foi cortado pela nova gestão. Houve um corte em cerca de 50% das verbas da Secretaria da Cultural na nova gestão. Sabemos que os coletivos não irão participar da Virada Cultural este ano, que além de não ter autorização, também não terão verba, que é importantíssima para a sobrevivência de todos os projetos. Estamos bastantes preocupados com essa questão haja visto também o posicionamento contra as ocupações sociais e festividades como os bailes funks e outras manifestações da cultura popular.
HM – Pra finalizar, o que o público pode esperar dessa edição especial de um ano do Batata Eletrônica?
AM – Para esta edição podemos esperar uma experiência incrível em termos de qualidade sonora e musical, além de algumas pequenas conquistas de comodidade e conforto para o público. Teremos o primeiro LIVE PA com o Binaryh, além de contarmos com o primeiro DJ estrangeiro convidado, o português Midinoize. Se apresentarão também nesta edição Claudio Bay a.k.a. Mandraks, SINERGIE (dupla formada por Voney, da Stigma, e Deb, da Techno On), Fer Paiva (Stigma), Mika Guedes (BW). Serão 14h ininterruptas de som para comemorar o 1 ano de vida do projeto que vem enfrentando muitas dificuldades pela falta de patrocínio e apoios, No entanto, não temos motivos para desanimar. Estamos muitos contentes por termos alcançado horizontes tão distantes e vamos acender a vela do bolo com muito techno de graça na praça! Dia 19 de março o Largo da Batata vai ficar pequeno!