Por: Camila Giamelaro – adaptação de um artigo que saiu no The Guardian.
O lendário club Fabric fechou suas portas de vez e a cultura clubber de Londres parece estar por um fio. Com a decisão de aumentar aluguéis e a forçada de barra dos promotores imobiliários locais, era só uma questão de tempo mesmo para que isso acontecesse.
O fechamento de um local tão importante para a vida noturna europeia marcou uma nova fase na erradicação da diversidade de Londres e os clubbers lançaram olhares invejosos para Berlim que, ao contrário da capital inglesa, tem valorizado a cena eletrônica local como nunca havia acontecido antes.
E já que todos os olhares já estão voltados mais para o leste, o ideal seria olhar para ainda mais além, pois pelo o que parece, a Europa está prestes a presenciar o que podemos chamar de a Era Clubber do Leste Europeu.
Seja no Luzztro em Varsóvia, um club esfumaçado com duas pistas onde dizem que “o diabo vai pra dançar”, ou na ARMA17 de Moscou, uma festa pata 9 mil pessoas que dura um final de semana inteiro e acontece dentro de uma fábrica de três andares abandonada, algumas das melhores experiências clubber da Europa estão no Novo Leste.
No Mtkvarze, um restaurante de frutos do mar da era soviética que foi transformado em um club flutuante localizado em Tbilisi, a magia não está só no local e na música. Há um senso comum de que aquilo é algo novo, positivo e excitante na cena.
Um artigo sobre a cena em Tbilisi, publicado recentemente no Resident Advisor, foi muito compartilhado pelo Reino Unido. O público das mídias sociais achou notável que os jovens em um estado pós-soviético estavam ouvindo boa música, a partir de uma cena com clubs dignos de atenção internacional.
Tblisi, a capital de Geórgia, é o que temos de mais próximo fora de Berlim para comparar com o Berghain. O Bassiani fica dentro de um estádio de futebol da era soviética e conta com uma piscina abandonada que foi transformada em uma pista de dança, com DJs tocando em seu fundo.
Assim como muitos clubs ocidentais, estes clubs estão levando grandes DJs internacionais, bem como desenvolvendo diversos talentos locais e os organizadores de clubs concordam que a cena musical underground de Tbilisi é como “Berlim na década de 90”.
Já se perderam as contas sobre o número de cidades da Europa Oriental que foram apontadas como “a nova Berlim” nos últimos anos, mas quando se trata de clubbing, o paralelo é válido. Essas cidades compartilham os ingredientes mágicos que permitiram que as boates prosperassem na Berlim Oriental: rendas baratas, muito espaço, muitas vezes sob a forma de edifícios abandonados da era comunista, e pessoas jovens, criativas e de mente aberta.
Claro que essas cidades “pobres, porém sexies” têm seus problemas, mas neste contexto, uma cena techno é saudável – mais do que apenas uma saída para o hedonismo, esses clubes oferecem um refúgio a partir do que está acontecendo lá fora, seja a homofobia, o nacionalismo ou em caso de Kiev, guerra.
Paata Sabelashvili, um proeminente político georgiano que luta por causas LGBT e por politicas em campanhas sobre uso de drogas, disse que os jovens precisam desses clubs mais do que no ocidente. Em um país conservador como a Geórgia, dá pra entender o porquê.
A prosperidade da cena underground local demonstra que existe um núcleo de pessoas jovens e inovadoras nestas cidades que querem ficar lá e criar algo próprio. Muitas dessas pessoas nasceram depois que a URSS entrou em colapso e, como membros da primeira geração verdadeiramente pós-soviética, eles vão desempenhar um papel importante na determinação das identidades de seus países nos próximos anos.
Eles são de uma geração que olham pra frente, ao invés de viver no passado e, para muitos deles, o techno é a trilha sonora do futuro.
Fonte: The Guardian.