Festas eletrônicas no interior de São Paulo estão sendo embargadas; entenda a polêmica

Por: Anderson Santiago
Fotos: Freitas Forografia e Divulgação

Duas semanas atrás, muitos clubbers do interior de São Paulo levaram um susto ao saber que a festa Alien Trip, que comemoraria 12 anos com uma edição nos arredores de São José do Rio Preto, a 436 km de São Paulo, havia sido embargada na justiça e não poderia realizar o evento marcado para 9 de abril.

A pouco menos de 24 horas da realização do evento, os organizadores receberam o papel de uma liminar feita por um juiz anunciando o embargo. O documento dizia que a Alien Trip não havia protocolado o festival na promotoria da infância e juventude e que não possuía alvará da Prefeitura e nem o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).

Luís Fernando Mesquita, um dos organizadores da Alien, disse que a documentação estava de acordo com as exigências da prefeitura. “Ao invés de me intimar primeiramente para eu mostrar que possuía toda a documentação, o juiz simplesmente resolveu já mandar o embargo. Levei o fato aos meus advogados, que passaram a noite montando o processo para correr atrás de reverter a decisão no sábado, o dia em que seria realizada a festa. Estávamos muito confiantes, pois tínhamos todos os documentos exigidos em mãos, então era só apresentá-los ao juiz de plantão”, afirmou Mesquita.

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No entanto, o juiz se negou a cancelar a liminar, e a festa teve de ser realmente cancelada. O prejuízo, segundo Mesquita, foi enorme. “Nós estávamos com quase 100% da estrutura pronta. Não somente eu, mas todo o pessoal da praça de alimentação e outros que trabalhariam no evento foram muito prejudicados”.

De acordo com Mesquita, o que ocorreu com a Alien Trip tem viés preconceituoso. “Fizeram tudo bem armado para que não tivéssemos tempo hábil de reverter a decisão. Foi preconceito com o evento, porque é de música eletrônica, com certeza. Para vocês terem uma ideia, nós nunca tivemos problemas com a policia e nem com menores de idade. Mostramos até uma carta assinada pelo prefeito de Ipiguá (cidade vizinha de Rio Preto onde rolaria o festival) dizendo que as duas edições que ocorreram por lá em 2015 não trouxeram nenhum problema à cidade e nenhuma ocorrência com autoridades. Não se tratava de uma festa com antecedentes negativos, e a documentação estava toda certinha”. 

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Segundo a Justiça, os organizadores não tinham estrutura para evitar a entrada de menores de idade. Ao jornal local “Diário da Região”, o delegado de Ipiguá, Paulo Grecco, disse ainda: “Neste tipo de festa de música eletrônica também pode ocorrer o consumo de LSD e ecstasy, duas drogas sintéticas de alto poder de alucinação e danos à saúde”.

No evento oficial, a Alien Trip publicou um comunicado contando os motivos do cancelamento e mostrando fotos dos documentos necessários para a realização do festival. O público reagiu com força, dizendo que se tratava de um boicote das autoridades por se tratar de uma festa eletrônica.

O final dessa história, ainda bem, deverá ser feliz. Em pouco tempo, com a ajuda do núcleo Nectars, da de São Carlos (a 232 km da capital estadual), Mesquita conseguiu transferir o evento para a cidade do centro-leste paulista e levar consigo toda a estrutura e, o mais importante, 80% do line-up confirmado (coisa rara, já que os principais nomes têm agenda disputada). O novo evento foi remarcado para 30 de abril e será a 29ª edição da Alien Trip (mais informações neste link). “Não vamos deixar essa história assim. Meus advogados já estão montando o processo contra o poder publico”, disse.

Outra balada eletrônica que seria realizada no fim de janeiro na mesma região, em Araçatuba (a 522 km da capital paulista e a pouco mais de 100 km de São José do Rio Preto), infelizmente não teve a mesma sorte. O evento, promovido pelo Underground Club em uma área ao ar livre, sofreu o mesmo tipo de embargo alguns dias antes de sua realização por um capitão da polícia militar. Segundo a organização, foram dois meses gastos na produção e sete dias de montagem para construir o evento, que possuía os documentos necessários, mas que mesmo assim foi embargado.

“Rolês e festas para o lado de São Carlos, Campinas e Itu sempre rolam, todo mês tem algo bom. Aqui em nossa região, no oeste paulista, nunca tem, a Alien Trip foi o segundo evento cancelado em menos de seis meses. Isso só pode ser preconceito”, disse Elton W., estudante que mora na região e frequenta as baladas eletrônicas do interior de São Paulo. “Com evento cancelado, a gente recebe reembolso e desculpas da organização, que não tem culpa, né? Mas o que nós queremos mesmo é poder ver as feras tocando e não reembolso!”.

Tentamos falar com autoridades públicas para conseguir o outro lado dessa história, porém as prefeituras de São José do Rio Preto e de Araçatuba não retornaram os nossos contatos até a publicação desta reportagem.

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