Exclusivo: Alemã Britta Arnold fala sobre artistas brasileiros, Berlim, door policy, carreira

Por: Gabriela Loschi

Britta não costuma dar entrevistas. Mas para a nossa sorte, ela abriu uma exceção. Direto do seu apartamento na região de Kreuzberg, região central da capital alemã, perto de todos os clubs, ficou 1h conversando com a House Mag por Skype, dois dias antes de embarcar pela primeira vez ao Brasil. A voz suave e dócil e a evolução da conversa agradável nos mostrou uma pessoa educada e de uma gentileza inspiradora. Ao fim, agradeceu dizendo “não parece que estamos falando há 1 hora!”. Não parecia mesmo.

Na pista, vi ela uma vez em 2012, literalmente dominando o andar de baixo do antigo Kater Holzig em Berlim – onde ela sempre morou -, num domingo à noite. Lembro que fiquei encantada com o poder do som que vinha dela, uma mulher de estatura baixa, cabelos loiros curtos, repicados, tocando toda delicada um tech house – meio mínimal, ora tech, aquele estilo berlinense mais criativo, que nada enjoa, muito pelo contrário. Som maduro, levou a pista lotada e mostrou que já tocou pra muito marmanjo por aí. Nesse dia eu descobri que ela co-fundou o label do histórico e super influente club berlinense Bar 25 (que originou os “Katers” – o extinto Kater Holzig e agora o Kater Blau, onde ela é residente). Ta explicado, eu pensei. Ela não brinca em cena.

Ao longo da carreira, Britta Arnold lançou vários EPs, sendo o último deles o “Sushi Holls” em 2015. Lançará um novo EP agora em abril pela Heinz Music (gravadora Berlinense que lançou a faixa “Ambition”, do Gabe e do Dashdot, que por sinal estava em 5º lugar no TOP 100 de mínimal no Beatport semana passada, e 7º nesta).  E outro em maio junto com o produtor holandês Unders, pelo Katermukke – os 2 principais selos que ela vem lançando.

Ela acabou de passar pela África do Sul e pelo Egito, onde visitou as pirâmides e foi abduzida pelo aspecto monumental. No Brasil ela chegou felicíssima na quinta-feira, quando tocou no 5uinto em Brasília. Hoje ela toca na Noon, no RJ à tarde e segue pro D-Edge em SP à noite.

O papo começou bem natural, e falar do tempo dessa vez foi inevitável  – e não falta de assunto, rs. Ela contou que estava feliz em sair do frio berlinense para encarar qualquer temperatura alta aqui no Brasil: “Estou tão empolgada! E outros DJs do Kater também gostariam muito de ir tocar no Brasil!”, confessou. Ela também queria saber como se preparar para o calor, o que trazer na mala e como é por aqui. E foi a deixa para começarmos…

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HOUSE MAG – Você realmente não gosta desse inverno aí de Berlim, ou você aproveita para se trancar no estúdio e produzir?

BRITTA ARNOLD – Berlin no inverno é depressivo, todo mundo intimista. Eu realmente não gosto, fico mais no estúdio. Gosto quando o tempo melhora e podemos sair, encontrar pessoas, isso é importante. Durante a semana eu fico quase o tempo todo dentro do estúdio, fazendo música, encontrando amigos como o Sascha Cawa, que me ensina muito. Estou em uma fase muito produtiva, remixes e EPS vindo aí, parcerias… Mas quando o tempo melhora gosto de ir a parques também, aproveitar o ambiente externo. Eu aproveito muito a cidade no verão, sentar na ponte e observar… Todos são tão livres, eles podem fazer o que quiserem.


HM – Aproveitando que estamos falando de Berlim, a cidade vem mudando bastante, muitos turistas, preços aumentando… Você sente isso?

BA – Há mudanças a todo momento em todos os lugares. Realmente Berlim está mais cara, os alugueis estão altos, difícil de encontrar. Turistas vêm a Berlim há muito tempo. Eu gosto deles, alguns são muito legais. Eu também, vou a outras cidades e também sou turista, então…. Eu gosto de encontrar pessoas de outros países. As mudanças existem, mas não fico nesse desespero achando que é tão ruim. Não tem mais tantos lugares FREE pra trazer o soundsystem e fazer uma festa em qualquer lugar, como antes. Mas Berlim ainda é um lugar cheio de lugares incríveis. Eu me sinto bem aqui, mas claro que eu estou dentro da minha própria bolha, não posso dizer como outras pessoas se sentem.

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HM – Sua carreira começou no Bar 25? Como foi? O que você fazia antes?

BA – Não me lembro muito bem porque eu era muito nova quando me tornei parte do Bar 25…. Quando eu tinha 15 anos fui pela primeira vez ao Tresor e foi meu lugar pra dançar por um tempo. Depois eu estudei economia, e era muito chato, não combinava comigo. Eu odiava. Quando eu conheci o Bar 25 pensei: This is the shit!


HM – Como você entrou para o Bar 25 e ajudou a fundar o selo?

BA – Eu conheci a Steffi e começamos trabalhando no bar, passamos para a gerência e logo surgiu a urgência de montar um label, pois queríamos lançar música e vinil. Não sabia como fazer, mas fui fazendo e aí fizemos tudo junto, conversando nos bastidores, quando vimos, o label cresceu e se tornou super cool. Até que um dia o DJ faltou, era 2009, e me colocaram pra tocar. E aí foi tão legal… Não parei mais. A paixão continua a mesma.

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HM – Se tem algo que é meio complicado de entender é a door policy nos clubs em Berlim, o que inclui o Kater, aquele famoso “not tonight”…  As pessoas ficam frequentemente bravas com isso? Ou entendem?

BA – Acho que não é fácil para as pessoas entenderem quando alguém fala pra você: “Você não, não vai entrar no club hoje”. Você pensa “puts”… Por outro lado, às vezes chegam na porta com um comportamento que talvez não seja o adequado para a atmosfera do club. Ou um grupo muito grande de homens, enfim. São situações e motivos variados. Mas ao mesmo tempo, quando você está lá dentro, todos estão curtindo, a vibe sempre é muito boa.


HM – Os donos dos clubs em Berlim ainda possuem aquela associação onde discutem como proteger a cena na cidade? Como é isso? Porque no Brasil a cena é um pouco mais competitiva, digamos assim.

BA – Os donos dos clubes discutem sim o que é bom para a cena de Berlim. Do Wilden Renate, Sisyphos, etc… eles conversam entre si, eles são amigos, se protegem. Isso é muito importante. Não é pelo dinheiro, é pela música, para estarmos juntos… é bom que eles conversam entre si, ajudam uns aos outros, não estão brigando entre si. Não estamos fazendo pelo dinheiro, definitivamente. E temos público para todos, não precisamos brigar.

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HM – Como nasceu o convite para vir tocar no Brasil e como é a sua relação com artistas brasileiros?

BA – Estou tão animada pra tocar e visitar o Brasil pela primeira vez! Muito, muito feliz! Foi através do D-Nox. Ele tem uma agência agora e é amigo do meu booker. Ele me convidou para tocar em alguns lugares pelo mundo, já que ele conhece minha música e meu booker. E os artistas brasileiros são tão legais. Eu realmente gosto do Victor Ruiz e tem também o Gabe, Dashdot e Volkoder.


HM – O Fusion é um festival bem diferente do convencional. Estaremos lá este ano pela primeira vez! Como alguém que toca no festival há 14 anos, quais são as principais dicas que você da aos marinheiros de primeira viagem?

BA – Tudo pode acontecer no Fusion, be prepared! Já aconteceu de chover muito, todas as barracas ficarem embaixo dágua. Eu sempre levo minhas botas de chuva. Muitas pessoas levam, pois já aconteceu de chover muito! O tempo às vezes é muito quente, mas em alguns Fusions durante à noite pode ser bem frio, é bom levar um bom casaco!


HM –  Qual é a sua pista preferida no mundo? Sem ser o Kater…

BA – Tem um muito bom que se chama Club VAAG em Antwerpen, na Bélgica. O pessoal é incrível. Tem muitos clubes maravilhosos pelo mundo na verdade.


HM – E aqui pro Brasil, o que está preparando? Alguém te falou algo sobre como tocar aqui?

BA – Com certeza vou tocar minhas faixas novas, eu gosto de tocar minhas faixas próprias ultimamente. Eu adoro ver as pessoas dançando as músicas que eu mesma produzi rs Sobre me falar, um me falou pra tocar mais forte, outros mais leve, enfim, vou tocar meu próprio estilo, mas à tarde e à noite são um pouco diferentes.

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