Por Anderson Santiago
A popularização da música eletrônica no Brasil trouxe como vantagem um mercado mais aberto para novos talentos. Inspirados em nomes de sucesso que começaram cedo a carreira de DJ, como Alok e Vintage Culture, muitos jovens (alguns até menores de idade) também resolveram investir logo cedo no sonho de tocar e produzir música para multidões em festivais e baladas ao redor do Brasil. A seguir, conversamos com quatro desses novos talentos – Vinne, Liu, Skullwell e Zerb – que já chamam a atenção de muita gente e começaram bem novinhos a traçar uma carreira no disputado cenário eletrônico atual. Descobrimos como eles fazem para lidar com responsabilidades de gente grande, como conciliar os estudos com as discotecagens, lidar com a pressão de produzir hits e empolgar plateias, e como eles veem suas carreiras daqui a alguns anos.
VINNE, 19
O sucesso “Rock U” foi o hit que fez o brasiliense Vinne, de apenas 19 anos, se destacar na cena eletrônica nacional. Ele já ganhou elogios de DJs consagradosm como Illusionize e Alok, e já tocou em festivais como o Universo Paralello e clubs como o gigantesco Green Valley.
“O Vinicius é um grande talento mirim, vamos caracterizá-lo assim (risos). Na idade em que está, já conquistou muitas coisas e acredito eu que ainda tem muito potencial para explorar mais. Por ser muito novo e não ter rodado muito, ele ainda é um pouco imaturo, mas eu acredito que se transformará em um grande homem, isso se for guiado pelas pessoas certas. Vinne tem tudo pra ser um grande nome na cena, mas tudo depende inteiramente dele e das atitudes que ele tomar. Eu acredito muito nele, esse garoto vai longe!”, Illusionize.
HOUSE MAG – Como você entrou em contato com a música eletrônica pela primeira vez? Alguém o influenciou diretamente? Quando é que você decidiu mesmo que iria ser DJ? (VINNE) – Não lembro de fato do meu primeiro contato. Eu, desde sempre, tive um interesse fora do normal por música eletrônica que, apesar de qualquer coisa, tinha tudo para ser só uma daquelas vontades que passam com o tempo. Eu tinha 12 anos quando um dia baixei por acaso um software de mixagem. Nesse dia eu descobri o que eu queria fazer da vida: ser DJ.
Quais são as bandas e os DJs que influenciam e influenciaram o seu som? E quem são seus ídolos hoje na música eletrônica? Minha maior influência e ídolo sempre foi o Deadmau5. Não só pela qualidade de suas músicas, mas também por ele imprimir a identidade dele no trabalho. Só de ouvir, você já sabe que é coisa dele, e está cada vez mais raro produtores assim.
Você já costuma tocar em festas e vivencia a rotina de trabalhar durante a noite. Como você lida com isso? É difícil conciliar as discotecagens com os estudos e as atividades diurnas? É realmente difícil conciliar tudo, vai de cada um saber lidar com isso. Eu tive que passar por uma decisão, me dedicar às outras tarefas ou fazer o que gosto.
Como você se vê daqui a 10, 15 anos? Quais são seus sonhos e objetivos na música? Para ser sincero, eu evito pensar tão longe, tem muita coisa para acontecer. Mas é o que eu sempre digo sobre o futuro: quero continuar fazendo o que faço e servir como inspiração para futuros produtores.
Quais são os principais desafios que você enfrenta hoje? O desafio de hoje é o desafio de sempre, fazer música boa e conquistar pessoas com meu som. Essa é a luta de todo dia (risos).
Como foi colaborar com um nome já conhecido como o Illusionize? Eu já me espelhava bastante no Illusionize quando comecei meu projeto, então foi incrível poder fazer essa parceria com ele. Já havia algumas semanas que eu tinha entrado para o top 10 do Beatport com a faixa “Rock U” quando ele entrou em contato comigo pelo Facebook e, uma semana depois, nós já estávamos trabalhando na “Bring it Back”. Não tenho dúvidas de que nossa parceria está dando muito certo. As pessoas estão amando isso!
LIU, 19
Paulista de Santana do Parnaíba, o jovem de origem chinesa Christian Liu descobriu a música eletrônica ouvindo o DJ italiano Benny Benassi e começou a produzir bem cedo, quando trocou joguinhos de video game por programas de fazer música. Em abril, com apenas 19 anos, vai realizar um sonho: tocar para uma multidão no Tomorrowland Brasil.
“Conheci o Liu após meu show no Tomorrowland Brasil em 2015. Ele estava na boca do palco querendo me entregar um material com produções dele. Eu ouvi o som dele, também pesquisei bastante sobre o garoto e no fim ouvi muita coisa bacana. No entanto, o que mais chamou a atenção foi a singularidade do som dele: ele faz um trabalho original, o que é muito importante na cena hoje, inclusive ele está trabalhando e fazendo tracks comigo. Liu é um garoto diferenciado e deve fazer muito sucesso. É uma das minhas grandes apostas”, Alok.
HOUSE MAG – Como você entrou em contato com a música eletrônica pela primeira vez? Alguém o influenciou diretamente? Quando é que você decidiu mesmo que iria ser DJ? (LIU) – Meu primeiro contato com a música eletrônica foi com um remix da música “California Dreamin”, do DJ italiano Benny Benassi. Aprendi a tocar violão aos nove anos e tive uma formação clássica. Minha vibe era bossa nova, MPB e muito rock`n`roll. Depois de escutar esse remix, entrei em choque e comecei a conhecer o mundo da música eletrônica. Decidi que definitivamente eu precisava começar a produzir esse gênero e então conheci o FL Studio há oito anos. Eu entrei num mundo totalmente novo para expandir minha imaginação, troquei o videogame pelos sintetizadores e plugins. Minha vida era estudar e passar o dia “brincando” de criar sons novos no Massive e Sylenth. Por fim, decidi que viraria DJ por necessidade, já que produzia música há seis anos. Quando as faixas começam a dar certo, as pessoas começam a chamá-lo para tocar naturalmente. É engraçado, pois sofri muito mandando e-mails para clubs quando eu não tinha nenhum nome.
Quais são as bandas e os DJs que influenciam e influenciaram o seu som? E quem são seus ídolos hoje na música eletrônica? Minhas primeiras influências foram Benny Benassi e Daft Punk. Com o tempo conheci Skrillex, Madeon e Oliver Heldens, além dos brasileiros Alok e Vintage Culture, que viraram meus maiores heróis. Tenho grande influência de músicos brasileiros, como Villa-Lobos, assim como do rock`n`roll. Também fui influenciado pelo jazz de nomes como Herbie Hancock e adoro blues americano com muito groove.
Você já costuma tocar em festas e vivencia a rotina de trabalhar durante a noite. Como você lida com isso? É difícil conciliar as discotecagens com os estudos e as atividades diurnas? As minhas maiores oportunidades na música eletrônica surgiram no mesmo ano em que comecei a estudar engenharia na Universidade Federal de Santa Cartarina (UFSC). Passei por momentos de muito stress, já que, apesar de eu amar engenharia, o momento era para eu fazer música eletrônica. Foi realmente bem difícil conciliar a música com o Ensino Médio. Graças a Deus, consegui produzir a faixa “Don`t Look Back” em parceria com meu amigo Vokker, que saiu quase inteira em quatro horas, depois de uma prova de cálculo que tive – e num momento bem ruim! Às vezes na vida são nos momentos ruins que nascem as oportunidades. É muito engraçado isso tudo.
Como você se vê daqui a 10, 15 anos? Quais são seus sonhos e objetivos na música? Me vejo fazendo música. É o que amo. Também sinto a necessidade de terminar a faculdade de engenharia ou outro curso. Tenho o sonho de criar um disco realmente novo, experimental e totalmente inovador. Algo como a metalinguagem da música eletrônica, brincar com sinestesias e harmonias marcantes. Também gosto deixar coisas escondidas nas minhas músicas, fica a dica
Quais são os principais desafios que você enfrenta hoje? O principal desafio é o de sempre estar inovando e melhorando a qualidade das minhas tracks. Sempre existe a pressão para criar mais hits, e o processo musical não é nada previsível, o que complica as coisas. Outro grande desafio é agradar ao público sempre. Vim do dubstep, me destaquei no future house e criei uma pegada nova no bass/deep house com a faixa “Don`t Look Back”. Por eu trabalhar em muitos estilos, rola muita pressão para agradar a todos, mas ainda me prendo em fazer somente o que amo.
SKULLWELL, 17
Desde os 12 anos, Pedro Moraes, aka Skullwell, natural de Ribeirão Preto-SP, já ia para raves e estava em contato com a música eletrônica. Hoje, aos 17 anos, costuma tocar em superclubes como o Green Valley, sem Santa Catarina, e se apresenta cheio de personalidade com uma máscara de caveira bem ao estilo Deadmau5.
“A cena brasileira vem crescendo há tempos e isso é reflexo dos `heróis` que vem fazendo um trabalho muito bom por aqui, como Marky, Mau Mau, Anderson Noise, Gui Boratto e vários outros… Cada vez mais, esses caras acabam influenciando essa nova geração, que antes queria ser rock stars e hoje sonham ser DJs e produtores. Isso fica claro quando vemos cases de sucesso como Vintage Culture, Illusionize e outros artistas mais jovens que estão aparecendo, como o Skullwell. A energia de revelações como ele, é muito boa até pra dar mais gás a artistas como eu e vários outros que estão há mais tempo no mercado. Na minha visão, devemos cada vez mais dar suporte a essa nova geração pois é o sucesso deles que vai manter a cena crescendo cada vez mais”, Bruno Be.
HOUSE MAG – Como você entrou em contato com a música eletrônica pela primeira vez? Alguém o influenciou diretamente? Quando é que você decidiu mesmo que iria ser DJ? (SKULLWELL) – Eu sempre tive amigos mais velhos, inclusive um deles era DJ, que me influenciaram muito. Então, desde os 12 anos (tenho hoje 17), eu frequentava PVTs e festas pequenas com esses amigos e ficava encantado com os DJs que se apresentavam. Quando descobri que os mesmos DJs viviam somente da música, falei: “eu quero seguir essa profissão”. Porém, todos sabem que o mercado da musica eletrônica não é como gostaríamos. Foi então que há dois anos eu decidi que era isso que eu realmente queria fazer da vida.
Quais são as bandas e os DJs que influenciam e influenciaram o seu som? E quem são seus ídolos hoje na música eletrônica? No meu estilo, os que mais me influenciaram no começo foram os DJs Betoko, Tube e Berger, Noir e Maceo Plex. Hoje tenho vários ídolos, pessoas que transmitem uma vibe muito boa com sua música, como por exemplo Kolombo, Sirus Hood, Shiba San e Croatia Squad.
Você já costuma tocar em festas e vivencia a rotina de trabalhar durante a noite. Como você lida com isso? É difícil conciliar as discotecagens com os estudos e as atividades diurnas? Eu amo meu trabalho, não acho nada difícil me divertir e trabalhar ao mesmo tempo. No meu caso, concilio perfeitamente o estudo com o trabalho, até porque faço faculdade de Produção Musical (risos) e me dou muito bem com as demais atividades.
Como você se vê daqui a 10, 15 anos? Quais são seus sonhos e objetivos na música? Me vejo estabilizado financeiramente, com um nome feito pela musica, dono de uma gravadora requisitada e ainda tocando pelo Brasil a fora. Dentro da música, tenho diversos sonhos… Tocar nos maiores festivais, festas e clubs do Brasil (e fora daqui também). Ter lançamentos pelas gravadoras mais Tops do meu estilo, alem da minha própria gravadora… Só isso (risos).
Quais são os principais desafios que você enfrenta hoje? Acredito que o principal desafio seja o mercado, não só para mim, mas também para muitos jovens DJs. Ele é muito fechado e muito difícil de adentrar, impossibilitando que grande parte dos novos talentos sejam vistos.
ZERB, 18
O jovem paulistano começou a produzir música eletrônica em 2012, com apenas 15 anos de idade. Em dois anos como DJ, já chamou atenção de artistas como o Vintage Culture, com quem também já colaborou em faixas e remixes e é apontado como uma grande revelação da eletrônica nacional.
“Eu descobri esse garoto Zerb de forma bizarra… Não vejo muito meu inbox, mas uma manhã no hotel, voltando de uma gig, topei com a mensagem dele. Ouvi por acaso e pensei: Wow! Música boa, meio tropical house. Hoje eu o ajudo e estamos trabalhando tracks juntos”, afirmou Vintage Culture em entrevista para a edição impressa da House Mag ano passado.
Como você entrou em contato com a música eletrônica pela primeira vez? Alguém o influenciou diretamente? Quando é que você decidiu mesmo que iria ser DJ? Entrei em contato com a música eletrônica através de amigos em 2008, com 11 anos de idade. Quanto ao ofício de DJ, comecei a produzir em 2012 e só fui tocar por volta de 2014, por conta da cobrança de amigos que curtiam minhas músicas e de propostas para tocar em eventos por causa das minhas produções.
Quais são as bandas e os DJs que influenciam e influenciaram o seu som? E quem são seus ídolos hoje na música eletrônica? Sinceramente, acho que meu som não tem influências específicas de bandas ou DJs. Qualquer tipo de som que transmite emoção me influencia, desde o rock até a própria música eletrônica. Hoje em dia, meus maiores ídolos são produtores brasileiros, como Vintage Culture e Chemical Surf, que pelo destino, acabaram sendo, também, meus amigos.
Você já costuma tocar em festas e vivencia a rotina de trabalhar durante a noite. Como você lida com isso? É difícil conciliar as discotecagens com os estudos e as atividades diurnas? Assim como o sonho de ser DJ, também sempre sonhei em cursar uma boa universidade, portanto, ano passado foi realmente um ano turbulento (risos). Ao mesmo tempo em que a minha carreira musical deu um grande “boom”, eu estava cursando o último ano do Ensino Médio, no meio de diversas provas, simulados e vestibulares. Cheguei a viajar e voltar a tempo para fazer provas, além de tocar em outros Estados um dia antes de grandes testes vestibulares. Com muito esforço e pressão de todos os lados (familiar, escolar e profissional), consegui atingir todos meus objetivos, tive um incrível ano para minha carreira e passei no vestibular mais concorrido do país, o da USP.
Como você se vê daqui a 10, 15 anos? Quais são seus sonhos e objetivos na música? Meu maior sonho é ter uma grande (e longa) carreira internacional, levando minhas músicas para todos os cantos do mundo, conhecendo novos lugares e pessoas.
Quais são os principais desafios que você enfrenta hoje? Hoje em dia, meu maior desafio é tentar produzir algo diferente no meio de tanta mesmice. Na minha opinião, de pouco em pouco, os subgêneros da musica eletrônica são reduzidos a simples fórmulas pelos produtores, por conta da facilidade de “digestão” do público. Dessa forma, passo grande parte do meu tempo no estúdio tentando aprender coisas novas e produzindo diversos gêneros, além do que o meu próprio publico já espera de mim. Acho que esse foi o diferencial que me fez entrar nesse mercado tão cedo, já que, no momento em que o nu disco/deep house estava crescendo no país, eu apareci trazendo elementos diferentes que despertaram a atenção de grandes artistas, como o próprio Vintage Culture, que me ajudou muito desde então”.