Boghosian 20 anos! Artista fala sobre carreira em entrevista exclusiva

Por Marllon Gauche

Foto de abertura: divulgação

Ter a oportunidade de se desenvolver profissionalmente como residente ao lado de um dos principais clubs do mundo não é para qualquer um. Mas não pense que isso foi sorte. Paulo Boghosian estudou, trabalhou e se dedicou muito até conseguir emplacar sua primeira gig no Warung Beach Club, ainda no ano de 2006. De lá pra cá, recebeu prêmios, obteve residência no Templo e no D-EDGE, conquistou uma base generosa de fãs e tocou ao lado de grandes big names internacionais.

Neste mês, comemorando duas décadas de carreira, Paulinho pode dizer sem medo algum que conquistou uma posição honrosa entre os artistas do cenário nacional underground. Hoje, a música é muito mais que o alicerce para sua profissão, é sua companheira inseparável nos melhores e nos piores momentos. Com mais este importante marco em sua trajetória, batemos um papo muito bacana e descontraído com este que é um dos principais nomes brasileiros da cena eletrônica. Paulinho falou sobre aprendizados, cena nacional e mercado para DJs e produtores, além de novidades para 2019. Confira!

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Foto: divulgação

HM – Olá, Boghosian! É um prazer falar com você. Gostaríamos primeiramente de te parabenizar pelos 20 anos de carreira, é uma marca e tanto. Quais foram as principais mudanças do Boghosian enquanto artista ao longo dessa jornada?

Obrigado! É um prazer falar com vocês também. Foram muitas mudanças, aliás, acredito que para um artista conseguir uma carreira duradoura, ele precisa estar em constante evolução. É preciso se reinventar, trazer novidades e se manter consistente para ter a atenção e o interesse do público. Em tempos onde tudo parece descartável, o padrão para artistas que desejam uma carreira longa é altíssimo.

HM – E nesse tempo o que de mais valioso você aprendeu e aplica na sua rotina profissional?

O mais importante de tudo, mais do que qualquer técnica, é se manter fiel ao que você acredita, tanto musicalmente quanto no nível pessoal, nos relacionamentos. Quando olho pra esses 20 anos, isso é o que mais me deixa satisfeito, ter sido verdadeiro comigo e com o público.

HM – Hoje com sua bagagem sonora você possui a capacidade de se comunicar com diferentes públicos em slots diferentes da noite. Apesar disso, certamente você tem seu set time preferido. Qual seria ele?

O que mais gosto é pegar uma pista desde o início para poder construir o set da minha forma. Isso me dá uma leitura boa do que está acontecendo, da energia do público e onde quero chegar. Tem DJs que fazem warm ups incríveis e aí é ótimo. Mas as vezes pegar uma noite do meio pro fim, onde o que veio antes era muito diferente do que você queria ter feito, é mais complicado.

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Foto: divulgação

HM – Não há como não falar da participação do Warung na sua carreira. Sem dúvidas você já deve ter vivido momentos incríveis no club que é um dos mais conceituados do mundo. Quão fundamental a marca foi no desenvolvimento de seu perfil artístico?

O Warung foi o encontro perfeito. A política musical do club era o casamento ideal com o meu estilo de som. Além disso, o público no sul é diferente! A galera vibra a cada música, é um público antenado que realmente conhece de música eletrônica. Isso para mim era o cenário perfeito, permitiu que eu desenvolvesse e explorasse a minha sonoridade livremente.

HM – Percebemos que cada vez mais selos, núcleos e artistas estão surgindo no cenário eletrônico. Como você enxerga a cena brasileira no momento atual?

Os selos e núcleos de música eletrônica deram novos ares para cena. Vários coletivos de pessoas apaixonadas pela música levando seus artistas preferidos para suas festas e apresentando novas sonoridades para seus respectivos públicos! O pessoal está fazendo eventos diferentes, interessantes e inteligentes. Isso tudo vem complementando o trabalho dos clubs, que são verdadeiros guerreiros por conseguiram atravessar a crise econômica e a crise musical dos últimos anos.

Agora vejo uma cena de música eletrônica fortalecida e apoiada em um movimento que acontece no mundo todo de resgate do house, techno e vertentes. No Brasil, várias capitais estão voltando a ter festas consistentes de música eletrônica, e as que já tinham ficaram ainda mais fortes. O cenário se desenvolveu muito e a música eletrônica de qualidade está no seu melhor momento.

HM – Falando um pouco mais sobre seus trabalhos, recentemente você lançou o EP “You”, pela Urban Soul, gravadora que tem identidade influenciada pela cultura musical urbana. Como foi o processo criativo para a produção destas faixas?

A ideia desse EP foi traduzir um pouco do clima de quando faço meus sets no main room do Warung. Um EP com faixas mais intensas, hipnóticas e com apelo para grandes soundsystems. Busco através das produções ter uma sonoridade que tenha apelo para DJs de estilos diferentes e que seja distinto de tudo que tem por aí, com um balanço entre o que sinto quando me apresento ao vivo como DJ e ideias que surgem no dia a dia.

HM – Você acredita que ser produtor nos dias atuais é uma necessidade para novos artistas? Como foi seu início na produção musical em relação a discotecagem?

Infelizmente sim. A produção musical é uma ferramenta essencial para que um DJ se torne conhecido, pois, se todos tocam suas músicas, todos vão querer conhecer seu trabalho. Mas não vejo isso com bons olhos porque bons DJs não são necessariamente bons produtores, e bons produtores não são necessariamente bons DJs.

Quantas vezes vi grandes produtores serem colocados para tocar em horários de pico de uma festa e não conseguirem segurar uma pista. Quantos talentos que eu conheci nesses anos que eram ótimos DJs mas nunca tiveram espaço pois não eram produtores. Essa é uma assimetria que temos na nossa indústria que precisa ser corrigida de alguma forma.

No meu caso, sou DJ profissionalmente desde 1999, então é algo completamente natural para mim. Já a produção veio mais tarde, começou em 2011. Foi algo que demorou para acontecer, demorou até eu conseguir tirar o som que eu gostaria e combinar os elementos e timbres de forma interessante. Depois de muito tempo, estou bem satisfeito com o resultado, mas demorou!

HM – Com toda sua experiência, o que você diria aos que estão ingressando agora neste mercado? Qual a dica mais preciosa que você pode compartilhar?

Não tem uma receita de bolo, mas é fundamental ter o amor pela música e a criatividade para fazer algo único, diferente de tudo e de todos, senão você será apenas mais um em um mercado com muitos artistas competentes.

HM – Para finalizar gostaríamos de saber quais são seus principais projetos para o restante de 2019. Alguma novidade pela frente? Muito obrigado por conversar com a gente!

Sim, temos nos próximos meses uma pequena tour pela Europa, passando por Berlim, Barcelona e Ibiza. Depois, no segundo semestre, faço a tour dos 20 anos de carreira que contará com festas comemorativas pelo Brasil (com long sets meus e convidados especiais escolhidos a dedo) em lugares que foram importantes para a minha carreira.

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