Novas agências, bookers, managers e o mercado de artistas: o papel de cada um


Por: Nazen Carneiro

* Matéria publicada na House Mag impressa #47


Vamos ser francos: a maioria dos músicos ou não gosta, ou não é boa em negociar. A menos que o artista não queira dividir grande parte do tempo com algo além da sua arte, ele precisará de um agente e um manager para cuidar de vários aspectos da carreira. O agente — assim como o booker das agências — tem o papel fundamental de fazer a ponte entre o artista e os contratantes, fechar contratos e negociar em seu nome para trazer as tão esperadas gigs que bancam o DJ e o mantém produzindo. Não menos importante, a base deste trabalho pode ser realizada pelo manager, que extrapola os afazeres do agente, do booker pura e simplesmente.

Já o Manager tem uma função mais ampla e profunda. Ele gerencia todos os aspectos das reuniões, tempo de estúdio, planejamento de tours e aparições em público. Aconselha, protege, busca agregar valor ao tempo do artista para que ele mantenha sua capacidade de produzir e reproduzir sua arte em altíssimo nível. Discute com o DJ seus caminhos e negocia com os selos e as gravadoras de acordo. Lida com marketing, relações públicas e aconselha em decisões que possam ter impacto na carreira profissional em questão.

As responsabilidades dessas atividades variam pouco em cada indústria, entretanto as funções de booking e de management são bem distintas, podendo o manager ajudar na busca e na escolha do melhor agente, ou agência — áreas estas que têm papel fundamental no desenvolvimento dos artistas, dos eventos a da formação crítica do público. Em mais de 20 anos de história da música eletrônica no país, muitas agências surgiram e sumiram, enquanto algumas permaneceram e sofreram a metamorfose necessária para lidar com a r/evolução de uma indústria tão dinâmica e complexa, que se transforma e atualiza com rapidez cada vez maior.

Num mercado robusto e competitivo como o brasileiro, novas agências surgem e alteram o panorama. Mas o que muda no mercado? Será que isso faz com que as agências e profissionais prestem melhores serviços? Com mais agências e maior concorrência para posicionar os músicos nos eventos, há maior profissionalismo e busca pelas melhores práticas no mercado? Acredito que sim, afinal muitas destas agências são formadas por profissionais reconhecidos e com anos de experiência. A fim de traçar mais precisamente este panorama, ouvimos alguns representantes do segmento no Paraná, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Rio de Janeiro.

 

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Wesley Razzy

Wesley Razzy, que já trabalhou como booker na 24Bit Management e foi diretor internacional da agência Hypno, conta que criou a WRX para suprir, segundo ele, uma demanda existente do público por artistas de determinado estilo, e comenta sobre o trabalho a ser realizado: “Para que as turnês aconteçam com bons resultados, é preciso um esforço que vai além das vendas dos artistas. Existe um trabalho intensivo meses antes de relações públicas para divulgar entrevistas, podcasts e diversas informações relevantes sobre os DJs para que o público conheça e entenda a proposta deles”.

 

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Igor Rodrigues

Quando perguntado sobre o que muda no mercado com as novas agências, Igor Rodrigues — que já fez parte da DJCom, foi cofundador da Triade Brazil e atualmente é diretor da Apex Music — responde: “Aumenta a competitividade, e a tendência é que as agências e o mercado (num contexto geral) se profissionalizem cada vez mais. Os contratantes e os artistas devem sair ganhando com mais opções. É um ciclo que acontece há alguns anos, com novos artistas e agências chegando ao mercado, mas que poucos permanecem ou são lembrados”.

 

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Raphael Porto

 

Já para Raphael Porto, diretor da Feeling Agency, “as agências menores trazem novos talentos para a cena, deixando-a mais competitiva, o que eleva o nível como um todo”. Jana Matheus, da Jam Bookings, acrescenta: “Ao meu ver, agências menores trabalham melhor o artista e fazem o serviço mais difícil e árduo, que é lapidar e inserir aos poucos no mercado, trabalhando em um plano de médio/longo prazo sem garantia do retorno financeiro adequado. As grandes agências geralmente querem o artista pronto”.

 

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Michael Musatti

 

Michael Musatti, CEO da Infinite Bookings e produtor do Solaris Festival, considera que também há dificuldades: “[Esse cenário] aumenta a competitividade e faz com que melhore o profissionalismo de grande parte dos DJs que não possuem assessoria artística em suas carreiras”. Por outro lado, Guilherme Simm, da QG Agency, pondera: “O fato de integrar o cast de uma agência é um grande avanço, sendo essa pequena ou grande. Mas acredito que antes o artista tenha que trabalhar ‘sozinho’, pois deve aprender sobre gerir a própria carreira, repassando depois a alguém de confiança e responsável por isso”.

 

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Nuno Deconto

 

E o público consumidor da cultura eletrônica, o que ganha com essa ampliação e diversificação de atividades no mercado? Para Nuno Deconto, booker da agência berlinense Return e diretor da Konnekt Bookings, “o mercado de agências brasileiras nunca esteve tão forte e consolidado como hoje. Com mais agências e maior diversidade musical, o movimento de artistas nacionais e internacionais no país aumenta, assim como as chances do público ver seu DJ favorito crescem”.

 

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Giovani Lufrani

 

Com isso, será tendência surgir agências somente de management, ou as agências de booking absorverão esse serviço? Giovani Lufrani, diretor e fundador da Triade Brazil, afirma que “management é uma necessidade para o artista, mas recentemente se tornou uma tendência de mercado. Tanto é verdade que existem novas agências prestando apenas esse tipo de serviço, o que as separam das agências de booking tradicionais. Há outras que o terceirizam ou deixam a cargo do artista a escolha do profissional que irá prestar esse serviço”. Segundo Arjana Vrhovac Jonsson, Relações Públicas e Internacionais do grupo D-Edge, “essa questão depende do plano de carreira de cada artista. Para isso, cada agência segue seu próprio caminho para obter o resultado desejado e a produtividade máxima… O tempo mostrará melhor”.

 

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Arjana Vrhovac Jonsson

 

Os próximos passos dessa indústria estão desenhados. O número de artistas não para de crescer e, para nossa sorte, o contingente de público também. Trabalhar detalhadamente os talentos brasileiros requer profissionalismo, e mais do que isso, dedicação. Nesse cenário, o artista tem a ganhar trabalhando melhor sua arte, as agências alcançando seus objetivos, e o público tendo a chance de ver os DJs e produtores cada vez mais empenhados em fazer o melhor e entendendo que sem ter identidade própria, não terão vida longa. ■

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Jana Matheus – Jam Bookings 

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