Por: Heloísa Vidal
“Uma decepção, muito amor, três amigos e um bar”; seria esta a combinação perfeita para afundar as mágoas ou fazer florir a ideia de uma nova gravadora?
Designer: Chris Rehberger
Como vários já sabem, a Alemanha é um país antigo que sobreviveu e se transmutou diante das peripécias do tempo e da tecnologia. Podendo ser considerado como um ponto referencial em todos os setores da história, incluindo o musical.
O que realmente passava a ser difícil de prever, para muitos e até mesmo o destino, é que o contexto geral da música tomaria proporções diferentes a partir do momento em que os caminhos de três alemães visionários (Thomas Franzmann aka ZIP, Chris Rehberger e Markus Nikolai) fossem entrelaçados.
(Trabalhos de arte visual realizados por Chris Rehberger / PERLON)
Há aproximadamente vinte anos, em Frankfurt – onde a magia veio a calhar -, o designer Chris Rehberger acabou conhecendo o optometrista Markus Nikolai ao acompanhar sua esposa a uma consulta. A casualidade entre os dois foi tamanha que ao se defrontarem com a paridade entre seus gostos e pontos de vista, em que ambos ficaram extremamente animados em produzir juntos.
(Markus Nikolai em sua loja “Markus Nikolai Optic”)
Mais tarde, quando Nikolai finalmente apresentou Chris e Zip, a ideia passou de dupla para trio, desaguando no projeto “Pile”.
(Pile – About Evolution And Development, 1996)
Pile estreou com um trabalho pela Sony Music Entertainment, em 1996, que deixou os artistas em pleno modo de decepção. Aconteceu que, após o lançamento, acreditaram não terem tido seus méritos correspondidos pela empresa, chegando à conclusão de que algo maior deveria ser feito para reparar a situação.
(Pile, ábum “Modern”, Sony Music)
Foi quando, sentados e decepcionados sobre a mesa de um bar, os três amigos de corações compassados pela música tiveram a ideia de abrir uma gravadora própria. Nascia assim, o que conhecemos como PERLON.
Imagem: RA
O esboço inicial para o rótulo consistia em ser apenas um teste, já que os produtores não sabiam se a ideia funcionaria ou não. Eis que, com o teste bem sucedido, promulgaria-se o primeiro record Perlon pelas mãos de um de seus provedores, Markus Nikolai.
(Markus Nikolai – Say One; PERL 01)
Fundada em 1997, a marca carrega valores e abordagens bastante peculiares, que permanecem intactos até hoje. Um exemplo disto está em sua forma, bastante fluída, de lidar com os artistas, sem exigir prazos ou exercer pressão; propiciando um terreno fértil e livre para imaginação, longe de corromper os frutos em sua qualidade.
Com arranjos bem arquitetados e sonoridades experimentais, a essência da label se mostrou sempre à frente de seu tempo. Introduzindo não ao mercado, mas à vida de muitos, misturas com sons futuristas que remetem e marcam a evolução das vertentes
(Pile para a, até então, última e sexta compilação “Superlongevity”)
Além de já ter lançado mais de 100 EPs, incluindo a saga “Superlongevity”, que segue com seis releases desde 1999, a Perlon conta com um time afiado que permeia nomes como A Guy Called Gerald, Akufen, Baby Ford, Maayan Nidam, Margaret Dygas, Pantytec, Portable, Ricardo Villalobos, Sammy Dee, Stefan Goldmann, Wareika e mais outros que também inspiram artistas pelo mundo todo.
Marcando seu vigésimo aniversário, a gravadora inverteu os papéis de quem dá e recebe os presentes. Aniversariante e presenteadora ao mesmo tempo, preparou para os amantes de seu experimentalismo, uma festa que promete celebrar a data por 46 horas. Recebendo o mesmo nome da saga “Superlongevity”, começou hoje (5) à meia noite, e termina domingo, dia 6 de Agosto, às 22h, dentro da atmosfera berlinesca Funkhaus.
E para fechar, em ritmo de “esquenta”; alguns dos releases mais importantes da gravadora:
Akufen
Por meio de sua atração por samples desfragmentados, adotou o microhouse como filho, passando a representá-lo.
(Akufen – Quebec Nightclub; PERL 024)
Margaret Dygas
Através de uma sensibilidade indagável para conexões, idealiza momentos e eterniza sua arte muito além de qualquer estado físico e/ou temporal.
(Margaret Dygas – Frankly; PERL 074)
Portable
Ou uma máquina de teletransporte? Portable consegue passar, através da música, grande parte de suas experiências, nos mais diversos lugares em que esteve. Além de ser um desmistificador de talento, como fez com um artista nosso brasileiro, recomendando a L_cio que introduzisse mais a flauta em suas elaborações eletrônicas.
(Portable – Behind feat. L_Cio; PERL 102)
Ricardo Villalobos
Transparece muita identidade em suas composições, que percorrem da mais pura lisergia à mais fina orquestralidade; “artista sem fronteira” por estar sempre desafiando a potencialidade de cada instrumento.
(Ricardo Villalobos – Frank Mueller Melodram; Perlon – PERL 08)
Sammy Dee
Aquele que parece flutuar entre as camadas por posicionar impecavelmente as linhas de baixo.
(Sammy Dee – Ultrastretch PERL68)
“Vida longa, Perlon!”