Um festival para se apaixonar: do house ao techno, saiba por que o The Social Colômbia arrasou

Um dos festivais europeus que mais cresceram nos últimos anos, o The Social saiu pela primeira vez do velho continente para estrear na América Latina nos últimos dias 17 e 18 de março, simultaneamente no México e na Colômbia. A convite da Universal Music, a House Mag viajou para conferir de perto a edição colombiana e foi uma experiência inesquecível. Vamos contar tudo agora:


Por: Gabriela Loschi
 

 

Logo que pousamos em Bogotá, junto com o crew da Universal Music Brasil (que através do Artercluv, seu departamento de música eletrônica, viabilizou o The Social na América Latina e convidou a House Mag para conferir de perto e compartilhar toda essa nova experiência com vocês) percebemos que aquela viagem seria inesquecível: que cidade linda, agradável, cheia de tijolinhos a vista, e com gente simpática!

 

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Todos nos receberam muito bem, mas como o festival inglês, que saiu pela primeira vez da Europa direto para “latinar”, já começaria no dia seguinte, não tivemos tempo de turistar nesse dia. Preparamos a cobertura no hotel, dormimos um pouco, abusamos do café da manhã e, na sexta-feira, dia 17 pela manhã, partimos rumo a este que é um dos eventos que mais crescem no hemisfério norte. 

A cena de techno colombiana, assim como a brasileira (e a mexicana cada vez mais), está se desenvolvendo exponencialmente, e já pode ser considerada madura. Isso fez com que um festival como o The Social arrastasse cerca de 40 mil pessoas em 2 dias, nos dois países.

 

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Criado pelo super conceituado DJ britânico Nic Fanciulli na pequena Maidstone (50 km de Londres), há cinco anos, o The Social definitivamente chegou para fazer história.

“Tenho um amigo que é promoter em Bogotá, o Johnny”, nos contou Fanciulli durante o evento, “e nós, junto com o seu time sul-americano, decidimos trazer o festival para a Cidade do México e Bogotá no mesmo final de semana”.

Por isso ambos os line ups são praticamente idênticos nos dois países. “Sou um fã enlouquecido pela cultura latina-americana, as pessoas são incríveis, gostaria de morar aqui até”. Então foi nesse clima de extrema paixão pelo nosso jeitinho de ser, que um dos festivais-boutique mais importantes da Inglaterra foi trazido para cá pela primeira vez.

 

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Ao pisar no Centro de Eventos Autopista Norte de Bogotá – todo rústico e aconchegante, afastado da cidade -, veio a primeira impressão: o The Social é um festival extremamente encantador e cheio de surpresas. A locação foi escolhida a dedo para se encaixar nesse conceito “festival boutique”, como os ingleses chamam eventos menores, em venues inusitadas em meio à natureza, no interior ou mais longe da capital (alternativa a gigantes como o Glastonbury, por exemplo). E Bogotá é toda cercada por montanhas, o que confere um visu realmente especial e diferente do que estamos acostumados no Brasil.

 

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Praticamente tudo correu bem: caixas, bares, pista espaçosa, food trucks com deliciosos hamburgueres, hot dogs e comidinhas colombianas (empanadas, plantanas, etc), variedade de bebidas, preços compatíveis, feiras alternativas. A única coisa que superlotou foram os camarotes. Em vários momentos nem pessoas com pulseiras puderam entrar, causando tumulto na entrada do camarote, e claro que pegou mal para quem tinha pulseira. 

Tirando essa questão, posso dizer que a produção estava impecável e todos os detalhes pensados tornaram o The Social uma experiência além da música – não que ela tenha ficado em segundo plano, já já conto da festa em si, fica só com esse gostinho por enquanto:

 

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LOCO DICEGuy GerberKenny Glasgow e Guti, todos no line up, curtindo o festival

 

MACONHA COLOMBIANA

 

Como na Colômbia é permitido plantar, havia uma feira dentro do festival celebrando a erva, onde diversas lojas do país vendiam produtos feitos de Cannabis, como bolos, balas, shampoos e cremes, ensinavam a cultivar, davam dicas de como construiur uma estufa e absolutamente tudo o que você precisa saber para ser um expert cultivador de Cannabis – e ainda distribuíam sementes.

 

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Tudo muito interessante e instigante para os fãs da erva, é claro (que inclusive participaram de rifas para levar uma muda pra casa), mas também interessante para os curiosos que não fumam, porém não estão acostumados a conversar tão abertamente sobre tudo o que envolve a usabilidade da maconha.

 

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O mais legal é ver como existe toda uma indústria na Colômbia em torno disso. Conversando com os lojistas, percebemos como parte da economia gira no país arrecadando impostos e usufruindo de tecnologias extraídas da Cannabis, que vão além de remédios e alimentos, passando por roupas, produtos de higiene e outros ítens.

 

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É um assunto que o Brasil deveria estudar melhor (sem entrar no mérito da legalização aqui, apenas estudar mesmo, afinal, lutamos tanto contra e deixamos de fazer uma análise minuciosa sobre a questão), mas não me aprofundei tanto como eu gostaria, pois eu precisava ir para a…

 

 

MÚSICA

 

Apesar da gama de entretenimento ao longo deste festival tão envolvente – que tinha tendas como de henna e até uma fonte de água entre uma pista e outra – a música ainda é o que mais me interessa, principalmente com o line up que nos esperava!

 

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Foram 36 artistas divididos em 3 palcos, ao longo dos dois dias, sexta e sábado.

No mainstage, chamado de The Meadow, a sexta começou com Tom & Collins, que mostraram por que são dois dos artistas do Aftercluv que mais crescem: com a pista ainda tímida, seu house e tech house clássico e melódico contagiaram a todos os que chegavam. Tocaram algumas inéditas, como a Mutual, recém-lançada. “Estamos muito felizes com o resultado que conseguimos na pista, testamos algumas músicas que nunca tocamos antes, inclusive para o álbum novo que sai ainda este ano, e agora vamos curtir um pouco”, nos contaram os artistas mexicanos que estavam ansiosos para ver Guy Gerber, Pete Tong, Acid Mondays e Carl Cox.

 

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Às 17h entrou um dos meus artistas preferidos de todos os tempos: Stacey Pullen, com uma pegada mais warm up e housera evolutiva para o tech, do que seu techno baixaria de fim de noite. Assistam:

 

 

Na The Barn, um salão interior de madeira estilo western-estábulo, Acid Mondays mostrou suas novidades diretamente de Ibiza e Lauren Lane trouxe um pouco do house nova-iorquino para a multidão que dançava alegre e espaçada, sendo um dos ápices seu remix pro Nic Fanciulli (o anfitrião), “The Wild”.

 

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Kenny Glasgow (ex Art Department, que tocou no sábado) fechou essa pista na sexta, mas não consegui ver pois fui pra principal, onde Pete Tong já entrou com a nova do Route 94, “Mind, Body & Soul”, indicando que seu case deveria estar cheio de novidades:

 

 

Guy Gerber entrou tocando techno e, quando emocionou a pista com “Where are you now”, do Stefano “Liz” Lisai, indicou que o progressivo mandaria dali pra frente. E foi mesmo, pois virou a sua “No Distance” com o Dixon e emendou uma sequência de techno-progressivo, voltando a pesar um pouquinho no fim pra receber o headliner da noite: Loco Dice.

Daí pra frente foi PANCADARIA. Fogos saindo do palco sincronizado com os drops de techno grooveado até o fim. Destaque para sua releitura de “Go”, do Moby, com bartidas bem mais fortes do que o remix original, levando sensações que só a melodia dessa música linda (Moby, né gente) poderia causar, já caminhando para o final do primeiro dia de festival.  

Saída tranquila, sem tumultos, muita gente de bem com a vida. A atmosfera era a melhor possível. Vale ressaltar a educação dos colombianos. Ninguém te enchia o saco na pista, sabe? Dançavam e conversavam se precisasse com classe – além de ser um povo muito bonito. Estão de parabéns!


SÁBADO 

 

O clima da Colômbia é o mesmo o ano todo. Estamos falando de um país equatoriano, que fica pouco acima da linha do Equador, e portanto não tem estações do ano marcadas, mas sim sol e chuvinha praticamente todos os dias. Calor de dia, friozinho à noite, e assim fomos preparados.

 

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Mas antes de falar da música em si, gostaria de falar de um lugar onde almoçamos com o pessoal da Universal colombiana: Andrés Carne de Res. Um restaurante típico que, além de delicioso (não deixe de provar as plantanas) é todo lúdico.

 

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Palhaços e atores aparecem de tempos em tempos na sua mesa te conivdando a participar do entretenimento (ganhei até uma faixa de visitante e a representante da Universal que fazia aniversário foi premiada com uma de aniversariante), shows e danças típicas acontecem de tempos em tempos. E o lugar… divino, sério, se um dia você for pra Bogotá, não deixe de passar por lá. Foi tão agradável e delicioso que conseguiu renovar nossa energia para aguentar o último dia de festival mesmo com pouquíssimas horas de sono.

 

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Na The Stables, que era a pista aberta, no gramado, os colombianos fizeram a vez. Mauricio Brigante, techno, e Fronter fechou com uma dose de sons orgânicos, enquanto lá dentro, na principal, Guti fez uma apresentação explosiva, preparando para o anfitrião.

Nic Fanciulli não se intimida pela responsabilidade de tocar “em casa”, no festival que criou e, como um dos poucos artistas que organizam um evento deste porte, mostrou que ali naquele lugar quem manda é ele. “Esse festival me ensinou a ter respeito por todos os outros organizadores, pois é muito difícil a produção, e tocar em seu próprio evento desse tamanho é muito especial, ver a reação das pessoas, comentando com você sobre o sucesso; eu me sinto a vontade para tocar aqui”, nos contou Fanciulli, minutos antes de entrar no palco e iniciar sua pancadaria com “Its time for change”, do espanhol David Herrero, e fazer com que grande parte dos ali presentes o considerassem o melhor set do festival.

 

 

Entre um groove e outro, ele soltou tracks de colombianos, como a “Damm”, do Fronter, que tocou na pista lá fora. Seu set foi recheado de tech houses, alguns breaks, faixas novas como “Buzzy” Tony Dee, e vocais sensuais presentes em músicas como  “Without Purpose”, do Kevin Knapp imendada na um pouco mais clássica “99 Problems” do Pelle & Shawnecy.

Claro que daí pra frente o ritmo foi pesando um pouco, algumas tracks unreleased até uma do Fango, “Vena Cava”, quando tudo se transformou em techno, para ele finalizar com uma das minhas músicas preferidas, “Too much Information” (Laolu Remix – Chs2016 Edit) – Dele Sosimi Afrobeat Orchestra. Maravilhosa, não tinha ninguém na pista sem um sorrisão enorme no rosto. Um set dançante, acessível, pra ninguém reclamar.

Daí veio o negão, OH YES OH YES no microfone e todo mundo foi abaixo. Carl Cox deixou a housera de lado e fez um grand finale com techno puro: 

 

 

Ele era o grande esperado e foi realmente um final digno de um festival que pode não ter inovado musicalmente, mas inovou em sua consciência ecolôgica, em seu formato, em seu conceito e é divertidíssimo de dançar. Sim, um festival para quem quer se divertir e dançar desprendido e despreocupado. 

Não que aqui no Brasil nós devemos ficar com ciúmes, afinal, outros festivais fantásticos estão vindo ao nosso país esse ano. Porém, o The Social é diferente de todos os outros, por tudo o que falamos aqui, mas principalmente por ser um festival organizado por um artista que traz os seus amigos para tocar e tudo vira uma grande família. Esse clima é sentido em cada momento.

O sucesso foi tanto que eles já anunciaram a volta à Colômbia em 2018. Aguardamos ansiosamente notícias sobre uma possível vinda do The Social ao Brasil. Fingers crossed!

 

 

 

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