
Bom. Vamos começar falando de Chicago. Qual foi a primeira coisa que fiz chegando nos Estados Unidos num dia frio, numa cidade também conhecida como Windy City? Fui comer um Hambúrguer, óbvio. Mas se tratando de Chicago, me surpreendi logo de cara. Não só com o maravilhoso cheeseburger, apesar da fama da cidade vir do Hot Dog, mas principalmente com o aparato musical da hamburgueria: um vintage tape de rolo AKAI. Quando me deparei com essa poética cena, tive a sensação de estar na cidade certa para um amante da música como eu.
Chicago fez fama nos anos 20 com uma onda contagiante de Swing Jazz, estilo favorito de Al Capone, que frequentava o lendário Green Miller. O clube de jazz ainda existe e conta com um túnel subterrâneo, construído na época da lei seca para servir de rota de fuga aos gansgsters que se jogavam ao som de Benny Goodman e outras big bands.
Chicago também é a terra de artistas como Curtis Mayfield, Chaka Khan, Lou Rawls, Loleatta Holloway e Frankie Knucles. Melhor nos atermos ao último que, não por acaso, tem uma rua com o seu nome na cidade, bem próximo do Warehouse onde ele começou a tocar o que se convencionou a chamar de HOUSE MUSIC.
Apenas depois de 20 anos tocando HOUSE tive a oportunidade de conhecer a cidade onde o estilo surgiu. E dois programas imperdíveis estavam na minha agenda. O primeiro, conhecer a loja de discos que foi pioneira na venda de vinis para DJs, os 12” inches, e provavelmente também a primeira a vender um vinil de house. De todas as lojas que já fui na vida, a GRAMAPHONE foi certamente a que o vendedor melhor atendeu o meu briefing.
Eu estava particularmente interessado em clássicos do Chicago House, em selos como DJ international e Chicago House Records, que lançaram as bases do estilo nos anos 80. Mas também queria algo que soasse atemporal, house music na sua essência mais pura e elegante, produzido onde quer que fosse. Tive a felicidade de degustar mais de 40 discos dos quais não conhecia metade dos artistas, mesmo me considerando um especialista em house music.
A essa altura você já deve estar se perguntando qual era o meu segundo programa imperdível. Em comum com o primeiro, tinha vinis rodando na vitrola e a sonoridade que eu buscava na cidade. O Smart Bar é um clube subterrâneo que existe há mais de 25 anos em Chicago. Frankie Knuckes era um dos residentes, Derrick Carter é um residente. Tá explicado, né?
A noite que escolhi foi a de domingo, conhecida como Queens. Michael Serafini e Garret David são os residentes da festa onde testemunhei tocarem o crème de la crème da house music underground. A noite é um mescla perfeita de tracks dos anos 90/80 e 2000. Do mais clássico ao mais atual, tudo mixado em perfeita harmonia, do deep ao acid house. Além da música e do melhor Soundsystem da cidade, me impressionou o layout do club, que coloca a pista como protagonista de verdade, sem fluxo de banheiro ou de bar atrapalhando os dançarinos e as drags montadas que se divertem e dançam como profissionais. Bonito de ver.
E o SXSW? É um festival de pura convergência, onde você pode ver uma palestra com o primeiro astronauta de Nasa a ir pra Marte, fazer perguntas pro VP de marketing da Amazon, assistir à premier do novo Alien de Ridley Scott, participar de uma sessão de keynote inspiradora com Nile Rodges pela manhã e cair na pista com Grandmasterflash nos decks pela noite, ao mesmo tempo que está rolando um show de Thievery Corporation em outro local, bem ali na esquina. Inesquecível!