O show do The Chainsmokers no Lollapalooza foi óbvio e cheio de truques, como afirmou o G1?


Por: Lucas Arnaud

Ontem nós, fãs de música eletrônica, nos deparamos com um artigo do G1 com o seguinte título: “Chainsmokers rouba público do Metallica com show óbvio e truques de DJ“.

Vamos “começar do começo”. Que tal o título: “Chainsmokers rouba público do Metallica com show óbvio etruques de Djs”. Já no título, nos deparamos com uma espécie de maniqueísmo, quase que pueril, por parte do jornalista. O lineup do Lollapalooza Brasil virou agora uma luta entre o bem e o mal, onde o mocinho indefeso tem seu público “roubado” pelos Chainsmokers malvadões. É, sei não. Até porque, em se tratando de duas das maiores atrações de todo o line up do festival, creio que quem compareceu ao evento para ver o Metallica, foi ver o Metallica – e quem foi ao evento para ver o Chainsmokers, foi ver, obviamente, o Chainsmokers!

Portanto, já somos confrontados desde o título da matéria com uma impressão vaga e imprecisa: será que realmente alguém que foi pelo Metallica decidiu, lá mesmo, no último momento, ir ver os Chainsmokers? Mesmo que isso seja possível, com certeza não foi a regra. Ainda no título, temos algumas pérolas, e uma que me rendeu umas boas risadas foi o termo “truques de DJs”. Imaginei os DJs indo pedir algumas dicas ao Mr.M. ou ao David Cooperfield sobre aqueles “truques” que não podem faltar num bom live set!

Eis a primeira frase do texto: O duo americano Chainsmokers não precisou se esforçar para roubar bastante público da inegável maior atração da noite”.

Será que o Metallica seria a inegável maior atração da noite? A título de informação, eu sou muito fã de Chainsmokers, mas tenho a discografia completa original do Metallica no meu quarto, tenho vários livros de tablaturas oficiais da banda e minha banda favorita é… adivinha, o METALLICA! (Que inclusive já tive o privilégio de ver ao vivo). Mas será que para todo mundo é assim? Tudo bem que eles eram os headliners e fecharam o palco principal do festival, mas Chainsmokers também eram headliners de um palco secundário, mas que aumenta a cada ano e é a maior tendência crescente do Lolla. Tudo depende do gosto pessoal dos fãs – e os do G1, mesmo portal que publicou o artigo que nos inspirou este, elegeram – adivinhem quem – O CHAINSMOKERS COMO MELHOR SHOW DO PRIMEIRO DIA DO LOLLAPALOOZA. É, pois é. 

No meio do artigo, o jornalista do G1 afirma: Basicamente, AndrewTaggart e Alex Pall rebolam, cantam pouco e gritam muitas palavras de ordem no microfone (“Quero ouvir vocês falarem `yeah`”,”mãos para o alto”, “faz barulho”).

Aparentemente, o jornalista não conhece a dinâmica do set de um DJ de EDM. Nessa frase, ele parece ignorar a sequência musical do live set do duo que, mesmo que ele não goste, foi excelente e agradou ao público em cheio – já lhes digo por quê.

Mas a zoeira virou coisa séria e daí vieram hits mais sóbrios, todos incluídos no show deste sábado. E nas paradas do YouTube e do Spotify. Ouvindo em casa, fazendo faxina ou jogando vídeogame, faz sentido. Mas “ao vivo”, ouvidos minimamente exigentes choraram poeira e sangue.”

Vamos dar uma avaliada no live set que os Chains tocaram no palco Axe nessa edição do Lollapalooza (para quem quiser fazer sua análise, sugiro este link).

Conto pelo menos 61 tracks, que abordam pelo menos 86 artistas das mais diferentes vertentes de música (Deep House, Bass House, Bigroom, Dubstep, Progressive House, Pop, Future House, G-House, Hiphop, Eletro House, Rock Progressivo, Melbourne Bounce, apenas para citar alguns). Será mesmo que só rolou os hits dos Chainsmokers, do mesmo modo em que os ouvimos no Spotify ou em casa, como o jornalista afirma? É evidente que não.

O set trouxe muito do que há de melhor em música eletrônica mainstream – e de modo diferente do que o título da matéria expõe (“show óbvio”), a seleção de tracks fugiu (e muito!) do cliché: foi uma chuva de faixas de talentos ascendentes, mashups novinhos em folha e, é claro, versões especiais dos hits do próprio duo.

Vamos aos dados objetivos: dentre os talentos ascendentes, consta no set drops de artistas como:

4B [track no set: 4B – Pop Dat (Original Mix)], que tem ganhado notoriedade de labels como a Dim Mak de Steve Aoki, por seus drops que unem o bigroom ao bass house.

Drezo [track no set: Tchami & Malaa – Prophecy (DrezoRemix)], que vem chamando a atenção de Dillon Francis, com quem realizou um b2b histórico no Smirnoff Lab ano passado, por suas inovações no deephouse, com sound design peculiar. Inclusive, clichê seria se eles seguissem com o drop original, da Byob original, e não entrassem com esse remix do Drezo de um faixa do Tchami e do Malaa.

Lookas [track no set: Lookas – Can´t get enough]. Lookas é um dos novos talentos do trap/bass na cena americana, tendo se destacado principalmente por seu set ano passado no palco Worldwide do Ultra Music Festival (e que ocorreu ontem novamente, no Ultra Miami 2017!).

E essa lista poderia ir longe, considerando os cerca de 86 artistas que constam no live set, mas para facilitar nossas vidas, merecem destaque artistas como: Wuki, DallasK, StadiumX, Wavedash, apenas para citar mais alguns.

A narrativa de que, no show ao vivo do duo, ouvimos “apenas a mesma coisa que no Spotify”, cai por terra não só pelo fato de o set ser uma coletânea do que há de mais atual na música eletrônica mainstream-pop (com tracks que sequer foram lançadas, como as 2 Ids desse set), mas também pelo fato da dupla usar e abusar de versões alternativas de seus próprios hits. Apenas para listar a quantidade de remixes que constam nesse set:

The Chainsmokers ft. Charlee -Inside Out (ARMNHMR Remix)

The Chainsmokers ft. Charlee -Inside Out (Not Your Dope & Spirix Remix)

The Chainsmokers – #SELFIE (BotnekVIP Remix)

The Chainsmokers ft. Phoebe Ryan -All We Know (Virtual Riot Remix)

The Chainsmokers ft. SirenXX -KANYE (Ookay Remix)

The Chainsmokers vs. Audien vs.Alvaro & Jetfire – New York City vs. Rooms vs. Guestlist (TheChainsmokers Mashup)

The Chainsmokers – Paris (PegboardNerds Remix)

The Chainsmokers ft. Halsey -Closer (Wuki Remix)

The Chainsmokers ft. Daya – Don`tLet Me Down (Illenium Remix)

The Chainsmokers ft. Daya – Don`tLet Me Down (Zomboy Remix)

 

Continuando: “Na segunda vez do grupo no Lollapalooza Brasil, o grupo diminuiu e aumentou o volume várias vezes para que geral cantasse. E teve quem curtisse esses truques de DJs tão manjados? SIM. A plateia na maioria entre 16 e 24 anos pirou.”

Ao que parece, o fator que mais chamou a atenção do jornalista foramos momentos em que os Djs falavam com a plateia – o som dos caras, que seria o principal motivo de estarem alí, ficou em segundo plano nessa parte da crítica.

 

É tudo tão clichê que parece piada. E começou assim. O primeiro hit deles (a inesquecível “#Selfie”) foi criada para zombar dageração dos millennials que perdem o amigo mas não perdem a selfie”. 

Vou aproveitar essa frase pra contar uma curiosidade sobre os Chainsmokers: eles ODEIAM sua própria track. Os próprios admitem que é uma faixa simplória, e que a dropam quase que de “zoeira”. Prova disso foi durante seu set no mainstage do Tomorrowland 2016 (no qual eu estava presente), quando, ao tocarem a música, realizaram seus “truques” (rs) de DJ para abaixar o som e gritaram para a plateia: “quem odeia essa track dá um grito! Vamos galera, levantem seus dedos do meio para essa canção” – e após isso, é claro, não droparam a versão original, e sim o remix do artista Botnek, muito bem produzido e muito mais intenso, tendo levado a galera ao delírio naquele momento no Tomorrowland. Obviamente que tal ironia não foi notada pelo jornalista, ironia essa que até alguns fãs desconhecem!

 

Nada define melhor o Lollapalooza do que um garoto de 16 anos ao meu lado de camisa do Pink Floyd emocionado com uma canção do Panic at the Disco no fim do show do Chainsmokers”.

E pronto, é com a frase acima que o jornalista termina seu show de ódio ao Chainsmokers. Até me perguntei: como um texto tão pobre em argumentos e claramente enviesado, chega às páginas de notícias do G1? O pior é que sequer é um artigo de opiniões (onde algumas colocações, opiniões do jornalista, seriam perfeitamente aceitáveis), mas está categorizado no site como “notícia”.

Com esse artigo, amigos, não pretendo comprar briga com ninguém, tampouco com os fãs do Metallica, que é uma banda excelente e, inclusive, minha favorita. Deixem o meu Metallica fora disso! Só proponho que saibamos discernir, principalmente em uma página de impacto como o G1, o que é crítica e o que é mero sensacionalismo. Espero ter conseguido “esmiuçar” um pouco (e foi só um pouco mesmo!) do variado conteúdo apresentado ao vivo pelos The Chainsmokers, que têm se mantido sempre nos topos das paradas de sucesso no mundo todo – o que, para a PROPOSTA do projeto deles, é basicamente o maior nível de sucesso que se pode obter. 

Portanto, respeitemos os diversos estilos de música (seja eletrônica ou não), e procuremos sempre conhecer acerca daquilo que falamos. 

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