Artista de rua Iro conta sobre a experiência em gravar mini documentário e música com o Alok

Por: Lucas Portilho de Faria Cunha
Fotos: Alisson Demetrio
Vídeo: Érico Salutti/GoBack Films”

“Wherever we go to / whatever we do / It’s only me, It’s only you / Wherever we go to / Whatever we do / It’s only me, It’s only you” (trecho da música “Me & You” produzida por Alok e Iro).

Não é a primeira vez que Alok mostra os bastidores de seus projetos, iniciativas e colaborações que realiza com artistas e fãs da música eletrônica. O mini documentário da música “Me & You” é um dos exemplos dos trabalhos multifacetados que o artista realiza internacionalmente.

O curta metragem, gravado nos Estados Unidos, conta brevemente a história de Ori Rakib, um artista de rua isralence que Alok conheceu em Nova York e chamou para produzirem música juntos. Ao longo da narrativa, Iro é apresentado em meio a frases de impacto e trechos da sua composição. Detalhes sobre o talentoso artista, que foi tocado pela primeira vez pela música eletrônica através do Alok, e da sua colaboração com o mesmo, você lê agora na entrevista exclusiva:


HOUSE MAG: Como e quando foi o primeiro contato com Alok?

IRO: Eu acho que foi em fevereiro. O tempo em Nova York estava muito ruim e no momento em que nos encontramos foi realmente impressionante. Eu estava surpreso e um pouco nervoso, mas assim que começamos a conversar foi como se já nos conhecêssemos antes.


HM: Quem é você, Iro? Nos conte sobre a sua história antes de ter um contato com Alok.

IRO: Aonde eu comecei? Eu nasci em Israel e quando novo eu me mudei para Califórnia. Voltei para Israel e por fim cheguei em Nova York.

Eu sempre fiz coisas um pouco contra a maré. Eu acho que foi por isso que a transformação do meu nome de Ori para IRO foi bem fácil! Eu faço as coisas de uma maneira que pode parecer contrário à maioria, mas na verdade, é simplesmente o meu caminho :).

Eu costumava cantar Backstreet Boys. Isto não é uma brincadeira, infelizmente. Eu entrei no hip hop na minha adolescência e, para encurtar um pouco a história, escrevi uma música (apenas na minha cabeça) para o aniversário de 50 anos do meu pai. Depois de uma série de acontecimentos malucos eu comecei a fazer um álbum na casa dos 21 anos (na maioria das músicas sem tocar um instrumento). Na primeira vez que estive em um estúdio foi definitivamente “aquele momento” que eu senti que “mãe, eu consigo cantar”, um sentimento que mostrava que era isso que eu queria fazer.


HM: Qual é o tipo de música que você produz?

IRO: Músicas que eu amo! :) Meu background musical transita do hip hop ao rock e do folk – agora – à música eletrônica! Para mim a música começa com uma voz e uma guitarra. Depois disto você deixa o resto seguir o seu curso.


HM: Depois de conhecer Alok, você pretende produzir música eletrônica? Por que?

IRO: Esta foi a primeira vez que eu realmente fui tocado pelo mundo da música eletrônica. Eu realmente não sabia e entendia como a música eletrônica é impactante e o quanto existem coisas por trás deste cenário. Conhecer Alok e ver como ele trabalha me fez perceber que eu quero explorar mais!  

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HM: Quais são as formas de propaganda que você usa para as suas músicas? E quais são as diferenças de receptividade em cada forma de disseminação?

IRO: Bem… em primeiro lugar, tocar na rua é a minha principal forma de publicidade. Eu levei alguns anos para perceber, mas finalmente eu fui suficientemente inteligente em reconhecer que eu preciso de uma assinatura. Precisava postar coisas [nas redes sociais] que não eram muito naturais para mim.


HM: Qual foi o sentimento de participar desse mini documentário e como foi gravar com Alok?

IRO: Foi uma experiência inacreditável. Eu não vi chegando… no começo parte de mim estava “wtf?” e quando eu vi o vídeo e todos os comentários nas redes sociais eu continuei sentindo… “what the fuck!”. Gravar com Alok foi incrível. Felizmente, nós nos conectamos imediatamente e ele, com a sua paixão e a sua determinação, me convenceu de que o que estava acontecendo estava [pré] destinado a ocorrer.


HM: Quais foram os locais que você você apareceu no mini documentário? Incluindo o show em que você aparece se apresentando com Alok.

IRO: Bem… o estúdio está localizado no Greenpoint, no Brooklyn. A primeira estação que nós gravamos foi na avenida Bedford, também no Brooklyn. Pegamos o metrô L e descemos em Union Square, Manhattan, plataforma onde eu normalmente toco. A cena do estúdio foi em Bushwick, no Brooklyn, e o show no final do vídeo foi em Goiânia, durante o festival Villa Mix.


HM: Qual é a história por trás da letra da música “Me & You”? Quem seriam as pessoas mencionadas na música?

IRO: Bem, eu tenho uma história bem pessoal por trás da música, mas o que eu posso contar para você é que a música fala sobre um amor que não tem amarras. Um “amor infantil” que nós às vezes esquecemos. Sem raciocíneo… apenas pureza. É sobre deixar ir quando você precisa e com a única esperança de que ela vai voltar para você.

Na minha mente, a história é sobre um menino de uma pequena cidade que ama uma garota por toda a sua vida. Ela quis seguir viagem por contra própria e, por mais difícil que seja, ele deixou-a ir. Ele sente falta dela, mas por dentro ele sabe que os dois estarão sempre unidos não importa o que aconteça.


HM: Como nos Estados Unidos, no Brasil nós temos uma cultura de músicos de rua. Aponte vantagens e desvantagens desta cultura.

IRO: Eu não sei das leis no Brasil… mas em Nova York existem muitas delas. As vezes eu me sinto como um bandido que está cometendo um crime. O que eu acho engraçado é que nunca é um policial. Normalmente é um humano muito infeliz que espera pelo momento certo para que ele finalmente despeje a sua raiva para fora em alguém. Existem vários momentos onde eu me sinto um fantasma [também].

Ocasionalmente, más condições no clima e o barulho da cidade e do trem se tornam os meus inimigos, mas, também, por várias razões eu melhoro, principalmente mentalmente. Lutando constantemente para que a sua voz seja ouvida, amadurecida e soar boa para você. Para mim os desafios são a única oportunidade para avançar um passo à frente.

Na rua você faz uma vivência e você toca vidas. Você promove sua música e você se conecta com as pessoas. O que mais você poderia pedir? Isso significa muito mais do que qualquer desvantagem.

 

HM: Ao longo do mini documentário, nós observamos algumas cenas da produção da “Me & You”. Poderia nos detalhar como foi a colaboração em estúdio?

IRO: Foi realmente legal! Duas mentes discutindo ideias e a coisa fluindo. Eu penso que Alok também possui ideias diferentes que fez com que a faixa ficasse melhor.

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HM: Em uma cena específica do mini documentário, as imagens mostram uma coleção de motocicletas dentro de sua casa. As motocicletas são um hobby ou um trabalho para você?

IRO: Eu realmente amaria dizer para você que todas elas fossem minhas tanto quanto um hobby… mas não :) É um complexo que possui uma garagem muito grande e um espaço de trabalho.  .


HM: Quais são as vantagens e desvantagens de se ter um home studio nos dias de hoje?

IRO: Bem… Eu acho que a vantagem é ter o seu próprio playground para criar suas músicas. Você não precisa do melhor equipamento para fazer algo impactante. É sobre a vibe! Então, definitivamente: não existe desvantagem. Como dizem… Eu não conheço ninguém que poderia dizer “não” para uma semana na Abby Road (de graça).


HM: Ao longo do mini documentário frases de impacto como: “não importa quem você é, ou aonde você está… nunca desista”. Estas frases foram escritas pelo Alok ou por você? Para quem estas palavras foram destinadas?

IRO: Eu falei essas palavras, mas ambos sentimos isso. Alok é como um irmão e nós realmente nos conectamos em uma mesma sintonia. Essas palavras são destinadas para qualquer pessoa que esteja fazendo algo memorável.


HM: O que mudou na sua vida pessoal e na sua vida profissional depois da colaboração com Alok?

IRO: Por estar ao entorno de Alok e seu time, pude perceber que, com muito trabalho, é possível transformar uma ideia em alguma coisa que é acessível para milhões de pessoas. Eu aprendi em primeira mão como trabalhar com eletrônica e isto abriu a minha mente e ouvidos para uma música incrível que me trouxe de volta a Nova York com muito mais disposição. O fato de que eu tive a oportunidade de tocar a minha música para milhões de pessoas me proporcionou uma sensação de alegria! Mal posso esperar para a próxima viagem!


HM: O que você sabe sobre o Brasil?

IRO: Que é o país mais bonito do mundo! E as pessoas são calorosas, carinhosas e apesar de às vezes viver sob circunstâncias difíceis são, geralmente, pessoas felizes.

HM: Mande uma mensagem para os artistas brasileiros que gostariam de ter um crescimento na sua carreira como musicistas (independente, ou não)

IRO: Minha mensagem é bem simples na sua maioria. Pode ser [até] um pouco difícil de digerir – como muitos irão imediatamente dizer que é apenas uma questão de sorte. Mas a minha mensagem é: sejam conectados. Abracem o lugar de onde as músicas vêm. Deixem os ouvidos abertos para ouvir. Música é magia e é um presente que traz felicidade para o mundo. Vá para as ruas. Toque em bares. Coma, respira, durma e cresça nesse meio. Eu sei, é muito difícil transformar isso em uma forma de vida, mas tudo não é difícil? Descubra um caminho para fazer isso porque você adora isso!

Para o fim da minha mensagem eu gostaria de dizer para ser você mesmo. É a melhor forma e a única forma! Seja genuíno e dê voz à própria arte. Muito mais do que ser somente “bom”.

Ori Rakib.


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