Por: Camila Giamelaro
Desde que tenho entrevistado mais e mais artistas de todos os cantos do mundo, uma questão é unânime: nos últimos tempos, todos eles dão preferência para tocar em festas menores, intimistas e com mais acesso (físico mesmo) ao seu público. Eles querem estar perto da galera e essa vibe próxima faz toda a diferença.
Poucos sabem, hehehe, mas aqui em São Paulo esse movimento de festas intimistas tem crescido absurdamente. Dentre as últimas festas das quais fiz parte, uma delas foi a Clique, projeto trazido dos Estados Unidos que mistura diversos segmentos da arte, dentre eles, a música eletrônica underground.
O movimento Clique nasceu da união de amigos brasileiros que moram em San Diego, Califórnia, e conta com uma curadoria inclusiva e instigante. Aqui no Brasil, o movimento é liderado por um pequeno coletivo em São Paulo que há dois anos promove experiências itinerantes.
Segmentada no techno, house e vertentes, a Clique Brasil faz aniversário neste sábado, dia 1 de Outubro, e como não poderia deixar de ser, vai comemorar esse marco com uma festa daquelas no Hostel Lil Square, localizado no charmoso bairro dos Jardins em São Paulo, trazendo Marcello V.O.R., Binaryh, dentre outros no seu line up.
Pra contar um pouco mais sobre o movimento, convidamos Sassah, curador da Clique aqui no Brasil
HOUSE MAG – Conte pra gente um pouco da sua trajetória no mercado.
SASSAH – Se não me engano foi por volta de 2001 que comecei a interagir de forma bem modesta com a música eletrônica. Eu escutava The Prodigy, Orbital, The Chemical Brothers, Massive Attack, Depeche Mode, New Order, entre outras bandas que produziam um som que transitava entre o rock e o eletrônico; algo tão incrível que acabei me viciando bem rápido. Alguns anos depois comecei a frequentar os primeiros festivais e festas e logo veio o meu primeiro contato com um mixer. Era um daqueles mais simples, de apenas 2 canais, e em pouco tempo comecei a ajudar na produção de festas em Campinas, minha cidade natal. A Kaballah é sem duvida um dos eventos mais importantes na minha trajetória, onde contribuí desde a primeira edição, e logo depois veio o clube Kraft, onde tive o prazer de residir ao lado da Eli Iwasa e me apresentar junto com um time de artistas nacionais e internacionais sensacional. Durante este período, tive a chance de tocar em grandes clubes, festas e festivais no Brasil e também na Europa. Alguns anos depois, já com mais bagagem e também mais contatos, fundei uma agencia de bookings de DJs e cursos de produção musical e discotecagem, que funcionava em nosso estúdio. Lá, um dos meus alunos foi o Bruno da Mata, que anos depois, fundou o Clique em San Diego.
HM- Como surgiu o convite pra você liderar o movimento Clique no Brasil?
SASSAH – Na verdade o Clique, tanto no Brasil como nos EUA, é um coletivo onde todos contribuem de uma forma democrática, portanto não me vejo como o líder. Aqui em São Paulo, somos um time de 4 pessoas e ainda contamos com a contribuição de uma das fundadoras nos Estados Unidos de forma remota. Cada um tem seu campo de especialidade, no meu caso, a música e as projeções visuais. O convite para participar desta historia veio através do Bruno (meu aluno anos atrás). Ele me convidou para tocar em um evento Clique em San Diego e a experiência foi realmente incrível! Um set de umas 4 horas com um back2back com ele até o final! Quando retornei ao Brasil, ele me ligou e contou a ideia de trazer todo aquele conceito musical, visual e social para cá. Claro que aceitei na hora! Depois disso conheci a Roberta, que fundou o coletivo em San Diego junto com o Bruno, e estava passando uma temporada em São Paulo, e ela me apresentou ao grupo que estava em formação naquela época. Nestes dois anos tivemos algumas mudanças de colaboradores, mas sempre mantivemos nossa essência coletiva e colaborativa que tem crescido bastante.
HM – Quais as dificuldades e oportunidades que você vê em realizar e adaptar para o público brasileiro um projeto internacional?
SASSAH – Eu adoro viajar e acho que as diferenças de uma cultura para a outra são oportunidades para pessoas criativas. Claro que existem diferenças culturais entre San Diego e São Paulo, dentre elas, acho que a principal é a quantidade de eventos focados na cultura da música eletrônica. Aqui temos muito mais pessoas consumindo música eletrônica de diferentes formas, e por isso entendo que o nosso desafio é conseguir um espaço neste concorrido cenário sem perder nosso conceito e nossa essência. Tentamos trazer para dentro de nossos eventos pessoas que compartilham esta vontade de conhecer novas musicas, de se expressar por meio da arte e sair do convencional; experimentar algo diferente. Oferecer um conceito visual e musical alinhado entre os dois núcleos nos permite diversas oportunidades para criar e nos surpreender com a resposta do público.
HM – A Clique é um movimento multi-cultural, que além de música, envolve outros campos das artes. Como é realizar essa curadoria?
SASSAH – A curadoria é sempre um trabalho onde todos participam, desde a seleção dos artistas até a escolha do local do próximo evento, tentamos sempre contribuir e fomentar todas formas de manifestações artísticas. A ideia é escolher uma temática para cada edição e, a partir desta orientação, buscar os artistas que vamos convidar. Tanto no campo da música, como nos outros campos das artes, nossa principal missão é oferecer algo novo, fugir do comercial, do comum. Temos planos para expandir nossa atuação em São Paulo com novas intervenções artísticas que ainda estamos desenvolvendo!
HM – Na hora de escolher os artistas escalados para os eventos, o que é levado em consideração?
SASSAH – Para montar o line up de artistas busco sempre escutar e pesquisar DJs novos. Dar este espaço para quem está começando e também para quem tocava há um tempão e acabou se afastando da cena é algo que tem proporcionado surpresas muito interessantes. Claro que também tento sempre convidar os meus amigos- aliás, tenho que agradecer por ter tido a sorte de conhecer vários DJs e produtores que posso convidar – e que tenho certeza de que vão sempre apresentar sets incríveis. O clima e a energia durante os eventos é muito importante e é sempre bom ter amigos na cabine. Os line ups tem, em essência, uma musicalidade alternativa que acaba orbitando em torno do techno e suas diferentes variações. Pessoalmente, não gosto de rotular estilos musicais, portanto a regra geral é buscar artistas que estejam criando/tocando algo novo, e este conceito é seguido a risca tanto em São Paulo como em San Diego.
HM – Quais são as novidades que você destaca para a edição de dois anos da Clique?
SASSAH – Para comemorar os dois anos de vida em São Paulo preparamos muitas novidades! Convidamos os artistas inéditos Marcello Vor, que já assinou diversas produções em alguns dos mais respeitados selos e possui na bagagem uma longa trajetória na cena, e a estreia do live Binaryh, que vem lançando faixas com um techno maduro e bem produzido que tem recebido o apoio de grandes artistas pelo mundo. Outra novidade é o Lucas Simões, que vai fazer uma intervenção artística ao vivo, ele já expôs seu trabalho, que mescla arquitetura e arte em diversos continentes e acabou de voltar de uma exposição em Nova Iorque. Mas nosso grande destaque, será o lançamento da primeira linha de camisetas no Brasil, algo que já está bem desenvolvido em San Diego, e que há dois anos buscávamos realizar. Passamos este tempo buscando os melhores fornecedores por aqui, para garantir uma qualidade de produto equivalente à qualidade artística que entregamos. Será um produto de alta qualidade, com uma modelagem diferenciada, gola ampla e maior cumprimento. Inicialmente os produtos serão comercializados apenas nos eventos, para ajudar a consolidar nossa marca no Brasil.
HM – O que o público pode esperar para este sábado?
SASSAH – O evento, como em todas edições anteriores, vai oferecer uma experiência única! Convidamos todos a se divertir do seu jeito, promovendo uma atmosfera aconchegante e sempre dançante. Nosso PA da Funktion One sempre surpreende pela qualidade sonora, e o espaço Lil Square Hostel tem todo o conforto necessário para uma ótima celebração!
HM – E os planos para o futuro do movimento Clique?
SASSAH – Acreditamos em trabalhar para construir um publico fiel que realmente se identifique com nosso conceito e nos ajude a leva-lo para todos aqueles que também gostem e acreditem nele, por isso do slogan “you are part of it” ou aqui no Brasil, “você faz parte disso!”. Temos projetos em andamento para promover eventos durante o dia no verão, além de montar uma exposição com as obras do nosso acervo e expandir nossa linha de roupas, trazendo dos EUA mais peças que já estão sendo vendidas por lá. No futuro gostaríamos de expandir o projeto para outras cidades no Brasil e também lá fora, mas mantendo sempre nossa essência.