Conheça Dre Guazzelli, o cara mais multidisciplinar da cena de São Paulo


Por: Camila Giamelaro

A gente sempre tem um amigo que gosta de fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas aposto que você nunca vai encontrar um cara como o Dre Guazzelli. DJ, produtor cultural, promoter, produtor musical, marketeiro, porta-voz do Burning Man no Brasil (junto do grupo Brazilian Burners), vegetariano, praticante de yoga e ainda tem tempo de se envolver em atividades sociais e de meio ambiente.

Aqui em São Paulo ele é super conhecido pela festa INNER multi.art, mas aos poucos está conquistando todo o país com seu carisma inigualável, uma vontade imensa de ajudar o próximo e com parcerias sólidas no mercado.

Ufa! Parece muito né? Mas e o segredo pra fazer tudo isso? Ele conta pra nós nessa entrevista exclusiva, cheia de amor. Confira!

HOUSE MAG – Só pra gente aquecer, conta pra gente como você entrou no mundo da música eletrônica?

DRE GUAZZELLI – Minha primeira balada foi com 13 anos na Anzu, depois com 16 ou 17 me levaram para um festival em Alto do Paraíso que me despertou de uma vez por todas a vontade de aprender a tocar. Fiz um curso de DJ e fui morar uns meses na California. Entre os 17 e 18 anos organizei a minha primeira festa e desde então a coisa toda vem evoluindo a cada mês, rs. Comecei sem saber que tinha começado e continuei porque amo muito isso tudo! Não apenas tocar, não apenas festa mas o ecossistema inteiro, assim como sua cadeia alimentar.

HM – Você é um cara multidisciplinar no mercado: atua como DJ, produtor musical, produtor de eventos, promoter… De tudo o que você faz, qual a sua atividade favorita?

DG – Eu gosto muito de tocar e fazer as pessoas dançarem. Mas sei que cada atividade está interligada e que é a união delas que me deixa 100%. Interdependência é a solução: tocar, produzir músicas, fazer festas e convidar – gosto muito de fazer todas essas coisas e sempre com a ajuda de pessoas comprometidas, sempre tendo em mente que sozinho não chegamos nem perto de onde podemos ir juntos.

HM – Como DJ você conta com uma experiência internacional de encher os olhos e os sonhos de muita gente só de falar em Ibiza. No total, quantos países você visitou só pra tocar? E qual foi a gig gringa que você pode chamar de inesquecível?

DG – Foram 24 viagens para tocar fora do Brasil nos últimos 6 anos. Fui 10 vezes para Ibiza pra tocar em lugares como Previlege, Amnesia, Blue Marlin, Ibiza Global Radio e um monte de praias bonitas. Também fui pra Frankfurt, Holanda, Turquia, Suiça, Austria, Burning Man e Nova York nos EUA, Lima no Peru e Argentina. Como a evolução e o ponto de vista sempre tem uma mais inesquecível que a outra, hahaha. Mas as mais marcantes foram Privilge em Ibiza, mês passado na F1 de Mônaco e no aeroporto internacional de Frankfurt dentro de um Boeing 747 na mesma festa que Claptone e Tiefschwartz. Isso tudo sem falar de Burning Man que é um caso emocional e laboratorial aparte.

HM – Um passarinho me contou que agora você está bastante dedicado a produção musical. Em que pé estamos nessa fase? Teremos produções suas lançadas em breve?

DG – Um dos meus sonhos sempre foi produzir e passar de dentro pra fora tudo que eu sinto através de música. Cheguei a tentar 10 anos atrás mas vi que para chegar nas minhas metas e sonhos precisaria deixar de lado e evoluir na parte de fazer festas, me aproximar de marcas, criar um movimento e me sentir em casa tocando em qualquer lugar… Ai sim eu teria experiência e segurança o bastante para unir tudo e todos e fazer música própria. Hoje sinto que esse momento chegou. Estou produzindo, juntando músicos, conectando pessoas, ideias e com sede de aprender cada vez mais. Voltei a fazer cursos na DJ Ban para relembrar e reaprender, porque conhecimento nunca é demais! Teremos produções lançadas muito em breve. Estou feliz!

HM – Você passeou por diversos estilos musicais durante sua carreira. Você se considera um cara livre de rótulos?

DG – Me considero livre de rótulos mas não de críticas por não trabalhar em um único rótulo. As críticas assim como os elogios (que também são críticas) são essenciais e me fazem cada vez mais acreditar que música boa é música boa independente do estilo. Óbvio que não toco de tudo. Gosto muito de deep house e de fazer warm ups, de som para o por do Sol, mas também gosto de techno, gosto de festivais, gosto de praia, gosto de montanha, gosto de skate, gosto de yoga, gosto de brocolis… Ou seja, por que um único rótulo?! Eu acho saudável e empolgante eu conseguir tocar numa pista do Universo Paralello, num beach club em Ibiza, em um lançamento de um carro, em um casamento de um amigo que goste de deep house, em um barco na F1 em Monaco ou em alguma festa minha. Isso ajuda a criar um repertório emocional e ajuda a cada vez mais a fazer você SENTIR a pista em que se encontra. Claro que mesmo a diversidade tem seus limites, estamos falando de deep house, techno e chillout. Eu não toco qualquer coisa. Rótulo é diferente de foco né.

HM – Aqui em SP você lidera o time da INNER Enterprises e promove uma série de eventos, como a INNER multi.art, Dre Tarde, Chocolate e High Prana. Cada uma com um conceito especial. Tem algum projeto que é aquele xodó?

DG – Assim como falamos da diversidade dos estilos musicais sem perder o foco, temos também a parte dos eventos e movimentações que são complementares. Mas todos com a mesma essência; serem eventos que ampliem a consciência de quem comparece. São festas que se preocupam ao máximo com o bem estar de todos com atividades interdependentes. Tentamos sempre envolver diferentes tipos de arte e não apenas a música, como performances, gastronomia, artes visuais, fotografia e moda. A música e as pistas acabam sendo o principal na maioria das festas, mas temos outras atividades complementares e em todas elas buscamos cuidar da coleta seletiva de resíduos e de alguma maneira ajudar o próximo. Temos um projeto no Capão Redondo no qual ajudamos mais de 250 crianças ao longo do ano. Utilizamos as movimentações para mostrar que juntos somos mais e conseguimos fazer melhor, por todos nós.

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HM – Agora você também está envolvido com a produção da Something Else e da Leeds, que tem artistas com uma sonoridade mais underground que seus outros eventos. Você acha que o público está com uma nova consciência musical, pedindo por essas novidades?

DG – Acho que temos que criar e colocar energia no que amamos e isso foi sempre o meu ponto guia na estrada da vida. Acho que tem uma parcela do público com essa consciência sim e também acho que cada vez mais faremos movimentações desse tipo, porque nós gostamos muito do estilo de som e porque em parte sempre escutamos coisas parecidas. E nada como dar uma diversificada, ampliando a consciência de quem ainda não tem e alimentando a nós que somos sedentos por música.

HM – Essa virada de ano terá um gostinho especial pra você. Conta um pouco pra gente o que podemos esperar da AWE.

DG – Eu toco no Universo Paralello na virada do ano e em outros lugares da Bahia desde 2007. Quando o UP virou bienal eu comecei a tocar em outros lugares na virada. Nos últimos dois anos eu toquei em Caraíva e ajudei na parte de captação de patrocínios. No começo desse ano surgiu a possibilidade de fazermos com a INNER uma produção 100% da festa de réveillon, ou seja, fazer em um lugar que amamos o que mais gostamos de fazer, que é festa! Não tivemos dúvida em fazer pela primeira vez, do início ao fim, uma festa de ano novo com tudo o que gostamos. Com simplicidade, ajudar a comunidade local, tocar boa música, de frente pro mar, no calor da Bahia, sem camarote e sim com mutio amor. Nós já ajudamos o povo que mora em Caraíva o ano todo. Ajudamos a fazer uma festa junina ainda mais bela e estruturada, arrumações na biblioteca e muitas outras coisas ja estão na lista de tarefas para ajudar quem mantém aquele paraíso vivo e com um toque especial e simples que só que já foi pra lá consegue entender!

HM – Sei que um dos momentos mais marcantes da sua vida foi ter participado do Burning Man, levando a primeira instalação artística do Brasil pra lá, que foi o Projeto Mangueira. Como surgiu a oportunidade e qual a sensação de chegar lá representando a gente?

DG – Surgiu do mesmo jeito que surgiram todas as outras. As oportunidades surgem a partir do momento em que estamos em movimento, em que estamos batalhando com foco para o que queremos, desejamos e sonhamos. Lá dentro do Burning Man vendo tantas instalações artísticas pensamos: por que não levar a primeira instalação para a playa tendo em vista que, das 300 que são montadas la em média, nenhuma ainda tinha sido por brasileiros? Daí então começamos toda uma jornada de pesquisas de como, porque, aonde, com quem falar, o que fazer, para quem pedir ajuda. Foram muitas reuniões, ideias, ações e amigos com o mesmo ideal. Fizemos um projeto de captação coletiva (crowdfund) para ajudar nas finanças e marcas amigas como a Chilli Beans também ajudaram a concretizar o sonho. Foi uma experiência maravilhosa e a porta aberta para conhecer mais e melhor toda a estrutura do Burning Man e as pessoas que nele habitam!

HM – Agora, qual é o próximo passo pra manter a representatividade verde-amarelo no Burning Man?

DG – Estamos num processo de aproximação do Burning Man agora no quesito contato regional brasileiro para vivermos cada vez mais os 10 princípios para um país e um mundo mais unido, onde cada um ajuda de acordo com sua habilidade, criatividade e felicidade.

HM – Acho que deu pra galera sentir que você é, de fato, um cara hiper ativo (no bom sentido da expressão). Qual o segredo pra dar conta de tudo sem pirar?

DG – Hahahaha nossa! Então, o segredo é amar o que faz! Eu não divido a minha vida entre trabalho e “lazer”, minha vida é um lazer constante trabalhando, é ter liberdade mas tendo a consciência plena de que a liberdade REAL possui responsabilidade. O segredo é não se preocupar com algo não dar certo. Se vem do coração e ajuda não só quem teve a ideia como todos os envolvidos, não tem como dar errado. O segredo é unir pessoas que se complementam e não ficam na guerra do ego. O segredo é fazer esportes, fazer yoga, meditar, ter um pouco de cada coisa. Colocar o ego no bolso. Saber que independente da sua posição, todos são essenciais para que tudo aconteça. É ser autêntico, é sorrir com um elogio e sorrir com uma crítica, é saber que muitos virão, que tudo passa, que a vida é muito maior do que o que estamos fazendo agora. De que sozinhos não vamos a lugar nenhum, que as tentações são inúmeras e que o mundo é um grande restaurante e, uma hora ou outra, TODOS vão pagar a sua própria conta.

HM – Depois de 12 anos de estrada o que ainda falta vc fazer?

DG – Fazer um festival de cabo a rabo. Tocar minhas próprias músicas ao redor do mundo. Ajudar mais pessoas. Fazer um programa sobre as minhas viagens. Escrever um livro. Ter filhos. Fazer meu estúdio no sítio e tocar na lua, hahahaha!

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