Rodrigo Vieira: Uma trajetória de sucesso e transformações

Por: Gabriela Loschi

Se tem alguém que entende do mercado de entretenimento, esse alguém é Rodrigo Vieira.

Ele vem da época em que DJ tocava de tudo: Marshall Jefferson era a maior novidade e as grandes gravadoras iam muito bem, obrigada. Morou muito tempo em Miami, mas quando encontrou o amor de sua vida há seis anos, voltou para o Brasil. É o responsável por levar a marca do club onde é residente, Green Valley, para fora, por trazer o Ultra Music Festival ao Brasil e por cuidar do marketing e business de algumas das maiores empresas de entretenimento.

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Em meio à loucura da sua agenda em Miami ao lado da equipe do RMC, durante o Ultra e o WMC, encontrou um tempo para falar com a House Mag por Skype e compartilhar o seu conhecimento e trajetória na música. DJ premiado que viu a cena nascer no Brasil, Rodrigo é carismático, espontâneo, e nos fez mergulhar nas entranhas da indústria e de sua carreira durante 1h e meia de conversa interessantíssima, cujo compacto você pôde ler nas páginas da edição 44 de nossa revista impressa agora em maio, e agora confere a entrevista cheia de surpresas aqui no site. 

Rodrigo também preparou um Podcast especial com as músicas que marcaram sua carreira, que você ouve enquanto lê a entrevista e confere seus comentários sobre cada track. Boa leitura e boa viagem musical:

 



Let`s Get it Together / El Coco (1976) – “Eu tinha 12 anos e em uma das primeiras festinhas que fui, escutei essa música. Uma menina me chamou pra dançar e isso ficou gravado na minha vida até hoje”


HOUSE MAG – Oi Rodrigo! Como está sendo participar diretamente da produção de um grande festival, que é o Ultra Brasil, e como você está aproveitando o seu tempo aí em Miami?

RODRIGO VIEIRA – Olá pessoal! Participar da produção de um grande festival é incrível, e acho que era a única coisa que faltava na minha carreira. Aqui em Miami não consigo fazer nada a não ser reuniões ligadas ao Ultra. Temos a chance de resolver as coisas diretamente com eles e nos conectar com times do mundo inteiro. É bem legal começar um evento do zero. Claro que teremos problemas, como a desvalorização do Real, artistas subindo cada vez mais o cachê – inclusive os do “underground”, pedindo 40, 50, 60 mil dólares… Mas temos uma coisa muito forte que é o Rio de Janeiro. Muitos artistas querem tocar lá, pois nunca houve um festival de música eletrônica desse porte na cidade, então estão aceitando negociar o cachê.

 



Doctor Love / First Choice (1977) – “Uma das musicas mais lindas ja criadas para a pista e ponto final!”


HM – Quais novidades fechadas para o Ultra Brasil até agora? Vão ser 3 palcos mesmo? O techno, o mainstage e o Resistance?

RV – Estamos negociando um quarto palco. Há grandes chances de rolar. Por enquanto, de um lado temos o Martin Garrix como representante do palco principal, mais puxado pro EDM ou Progressivo, que é uma linha que ainda atrai muita gente. Terá o do Carl Cox & Friends, que no segundo dia será outro tema; e o Resistence, um palco para as sonoridades mais conceituais, nos dois dias, voltado para o deep e tech house. No Ultra Miami agora foi de arrepiar a evolução do palco Resistance. Ano passado Jamie Jones tocou para 400 pessoas no máximo, esse ano pra umas quatro mil. Impressionante! A vibe foi incrível. 

O Palco principal está sendo desenhado agora. Os projetos dos palcos que são feitos para a edição de Miami são usados em outros lugares do mundo. Por exemplo, no Ultra Europa, na Croácia, vão fazer o palco principal de 2 anos atrás, que era o Vortex, aquele que tem tipo uma turbina, que era incrível também. E é uma adaptação dele que estamos tentando trazer pro Brasil.  

Teremos muitos nomes fortes, mas ainda não posso anunciar. Claro que trazer o Prydz seria um sonho, e estamos tentando, mas há muitas questões envolvidas e não é tão simples.

 



Ain`t We Funkin` Now / Brothers Johnson (1978) – “A musica black americana dividia as pistas com a disco. Essa faixa foi produzida pelo monstro sagrado Quincy Jones (um dos melhores produtores de todos os tempos na minha opiniao)”. 


HM – Por que o Rio foi escolhido?

RV – Principalmente por causa dos parceiros. O Ultra quis fazer o Brasil de novo e eu apresentei os possíveis parceiros, com umas 6 ou 7 entidades que poderiam vir a fazer o festival. Eles gostaram da ideia de fazer com o Claudio (da Rocha Miranda Filho) do RMC e o Russel (fundador do UMF) é apaixonado pelo Rio, então por que não fazer no Rio? Ainda mais que a cidade é o foco das atenções, é um destino, um cartão postal. Vai ficar incrível ali montado. A ideia é fazer de 2 em 2 anos, alternando com o Rock in Rio.

 

Dance With Me / Peter Brown (1978) – “Peter Brown era underground na epoca, vejam so! Groove sem limites” 


HM – Você é residente do Green Valley há 5 anos e foi o responsável em levar a marca para fora do país. Como você apresentou o Green Valley para o mundo?

RV – Eu olhei e falei, cara isso precisa ser conhecido lá fora, e essa foi a minha missão. Na primeira campanha da DJ Mag eu fiz a conexão, trouxe os caras pra conhecer o club e comecei a fazer as festas fora, no Ushuaia, em Ibiza, a tenda do Green Valley no Ultra Miami, e assim foi.

 

Baba Baba Boogie / The Gap Band (1979) – “Essa track era um lado B, bem underground pra época”.


HM – Como está a percepção aí fora sobre a música no Brasil atualmente?

RV – Há a percepção de que a produção musical no Brasil está melhorando muito. O Patrick (do Ultra Records) comentou comigo que recebe faixas que ele gosta e são de brasileiros. O Volkoder está sempre nos charts do Beatport, e o Dashdot anda chamando muita atenção por aqui… Tem também um moleque chamado Liu, de 19 anos. Está rolando.

 

Bounce Rock Skate Roll / Vaughan Mason & Crew (1979) – “Hino das pistas de patins em 1980, marcou muito. Um groove pesado, low BPM da epoca!”


HM – Agora revelando um pouco sobre você. Como o seu pai, que era diretor da Globo, e sua mãe, Susana Vieira, influenciaram e apoiaram sua carreira?

RV – Meu pai era diretor de novelas e ganhava muito disco das gravadoras. Trazia tudo pra casa e eu, com 4, 5 anos já era apaixonado por vinil, não só o visual mas também pelo cheiro. Ele não deixava eu mexer na vitrola por causa da sensibilidade da agulha, mas quando ele saia de casa o que eu fazia? Lógico, ia correndo mexer e ouvir os discos. Colocava Miles Davis, Roberto Carlos, Beatles, Rolling Stones… Minha mãe também era muito eclética, meio progressiva, ouvia Mandrill, Procol Harum, e muita música brasileira, Elis Regina, Caetano Veloso, Chico Buarque. Conheço todos de trás pra frente.

 

Knee Deep / Funkadelic (1979) – “George Clinton, o lider da banda, é um dos maiores ícones da música black americana. Knee Deep foi uma das primeiras músicas black que tinham 15 minutos de duração, sintoma da loucura do gênio Clinton”.


HM – Quando você decidiu que queria trabalhar com música?

RV – Em 78 reuni amigos e montamos uma equipe de som pra fazer festas bem legais. Fizemos uma do Ricardo Amaral, rei da noite nos anos 70 e 80, um cara super respeitado na época – inclusive está reabrindo o Hipopótamus no Rio de Janeiro. Começamos a sair e ficar amigos dos DJs, que não se falavam entre si naquela época. Rolavam umas tretas. Um dia minha mãe viajou e eu fiz um almoço e convidei todos os DJs da cidade. Foram todos!

 

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Da esquerda para a direita: De pe: Claudinho (Papagaio), Pedro Mello e Souza (Studio C), Amandio (Sotao), eu, Marquinhos (Hippopotamus), Luciano (Hippopotamus), Claudio Versiani, Marcos Mamede e Roger Nascimento e Silva (Roxy Roller) / Sentados: Gaucho (Roxy Roller), Dudu Menna Barreto (Company), Gustavo Bastos, Romulo Marques (Papillon), Marcelo Maia (Studio C), Rick Amaral, Rommell Marques (Studio C), Ferrugem (Regine`s) e Silvio Marcos (Chez Castel).

 
Montei uma cabine na sala, foi a primeira vez que a gente conseguiu tocar e os caras viram que a gente sabia; começaram a surgir convites para tocar nos clubs, como Crocodilos e Hipopótamus. Me chamaram pra cobrir as férias do Luciano (meu grande mestre, exemplo e inspiração, um dos maiores DJs que já vi na vida tocando) no histórico club Hipopótamus do Rio. Eu tinha 17 anos. Quando o gerente soube que era eu, filho da Susana Vieira, ele não queria que eu tocasse lá porque ela frequentava a casa e ele dava bronca em todo mundo. Como ele daria em mim, filho da amiga dele? Ser filho dela – eu falo brincando, mas é verdade – me atrapalhou num primeiro momento. (risos).
 
 

We Got The Funk / Positive Force (1979) – “Meu primeiro vinil importado!”

 

HM – Você trabalhou muito tempo na Sony. Conte um pouco sobre essa época.

RV – Fui contratado como assistente, promovido a label manager, gerente do departamento internacional, e aí surgiu o convite pra trabalhar em Miami, na época da música latina no Brasil. A Shakira inclusive foi uma luta pessoal minha, eles não queriam lançar e eu acreditava muito. Eu cuidava dos artistas internacionais, Michael Jackson, Ozzy Osbourne, Aerosmith.

 
 

A Lover`s Holiday / Change (1980) – “Musica maravilhosa, vocais do monstro Luther Vandross em inicio de carreira”. 
 

 

HM – Nessa época imagino que você tocava muito menos. O que te atraiu a voltar a tocar com mais frequência?

RV – Comecei a ir mais pro Brasil e vi o mercado crescendo. Recebi apoio de pessoas, como o Leo Janeiro, conheci a Green Valley, o (Ricardo) Flores, conheci minha mulher e resolvi voltar e me dedicar ao Brasil total.

 

Can`t Fake The Feeling / Geraldine Hunt (1980) – “A cara de NY em 1980, tocava até em enterro”.

 

HM – O que ainda precisa melhorar no mercado brasileiro?

RV – Career manager. Está faltando. Não temos manager. Alguns poucos são efetivos e os outros não são bons. As agências, por exemplo, que sempre lavaram as mãos em planejar carreira, começaram a se preocupar mais com a imagem dos artistas, mas não deveria, esse serviço não esta incluído na porcentagem que pagamos a elas. Eu tenho minha personal booker, que é a minha esposa, manager, e me vende muito bem. O artista não pode depender só da agência, e tem que correr o tempo todo, postar sets, fazer música, lidar com o Facebook, etc.

 

First True Love Affair / Jimmy Ross (1981) – “E não é que os italianos misturaram disco com black e deu certo? Foi um hit gigante na Europa e aqui no Brasil”.

 

HM – Fala um pouco sobre a evolução do seu som ao longo do tempo. Desde como todos aqueles artistas pop que você convivia na Sony Music te influenciaram, até hoje que você está curtindo uma pista mais tech house.

RV – Desde 81 eu passei por tudo o que você possa imaginar, do rock ao disco, black americano, new wave, rock nacional, até lambada. Vi nascer o house, acid house inglês… O DJ naquela época era eclético, tocava até música lenta. A parada mais tech house é o que eu gosto hoje. Meu set no Ultra foi todo Green Velvet, Claude VonStroke, Hot Since 82… 

 

Genius of Love / Tom Tom Club (1981) – “Quando o Tom Tom Club apareceu, foi uma revolução, diferente de tudo, alternativo… e explodiu. Eles eram integrantes do Talking Heads!”

 

HM – Como você se sente agora fazendo 35 anos de carreira?

RV – O pessoal me sacaneia em Balneário porque uma vez eu tava tocando no Green Valley, chegou um cara X na pista e comentou com um amigo meu: aquele velhão ali tocando apavora!” Virei o véião…

 

I Hear Music In The Street / Unlimited Touch (1981) – “Fui numa festa da radio WKTU no Madison Square Garden em NY e o Unlimited Touch se apresentou. A música era nova e na hora sabia que ia virar hit das pistas”

 

HM – E olha que você tem um pique que deixa muito jovem no chinelo em! Você curte umas pistas, uns afters?

RV – Muito!! Gosto de chegar 1h antes pelo menos pra ver o que o outro artista esta tocando e geralmente eu fico e ainda vou pro after. Eu e minha mulher adoramos! Quem tem limite é município (risos).

 

Zapp / Dance Floor (1982) – “O Zapp, formado pelos irmaos Troutman e liderados por Roger, outro mestre da musica black, fizeram um mega crossover que invadiu as pistas. Groove infernal, nesse ano consegui meu primeiro emprego oficial de DJ, no Hippopotamus e essa foi a primeira música que toquei la”.

 

HM – O que mais te orgulha, de tudo?

RV – Os amigos que eu faço na estrada, que são vários. Quando você encontra uma pessoa legal, não pode deixar que ela passe em branco na sua vida. Eu tento manter os laços.

 

 

 

 

 

 

 

 

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